09.ㅤㅤvilões 𓂃

289 26 3
                                    

Realidade: 087
STORYBROOKE

─ São do seu mundo, não são? Dá pra ver no seu rosto que você conhece eles ─ Úrsula bloqueou novamente o cérebro ávido de Delahaye.

Ela precisava fazer alguma coisa.

─ Vocês ainda nem sabem meu nome, por precauções ─ o tom exigente e brusco da garota fez os três curvarem as testas, mesmo que minimamente. O olhar dela tornou-se opaco. ─ Se querem minha confiança, não falem nada disso para a Kardama, ou a Rainha Má.

Regina ─ corrigiu Malévola.

─ Tanto faz. Temos um trato?

A urgência na voz dela não poderia ser escondida nem com dezenas de camadas de cautela. Com a imagem do garoto de cabelos caramelos, uma surpresa ultrapassou seu semblante, que foi logo azedando como um limão recém espremido ao encarar os dois últimos. O mistério sobre as intenções daquela garota e sua história, tornavam-se pulgas persistentes atrás da orelha.

─ Sua missão não era justamente reunir as pessoas sobreviventes de seu mundo? ─ Killian estava sério. Mais sério do que Delahaye costumava se lembrar, comparando as últimas horas.

A forasteira se afastou da bancada, ajeitando sua capa nos ombros e ainda permanecendo em uma distância em que eles poderiam lhe ouvir.

─ Acreditem. Vocês não iriam querê-los aqui. Então me ouçam bem ─ o tom autoritário pesou novamente contra a voz dela. Úrsula teve vontade de revirar os olhos, mas manteve seu juízo. ─ Vocês nunca viram esses rostos, e nem essa reportagem, e eu muito menos.

Ela saiu dali, chicoteando o ar com sua capa e nem sequer esperando a confirmação de que aquele acordo estava fechado. Como se eles não fossem loucos suficientes para irem contra ela, porque se arrependeriam.

─ Não confio nela ─ disse a Bruxa do Mar.

─ Mas parecia descontraída quando estavam conversando ─ Malévola não se incomodou tanto quanto Úrsula pela clara ordem dada por uma pirralha nos segundos antes.

─ Isso não significa confiança. Por que ela não quer esses garotos aqui? Talvez porque eles nos digam o quão perigosa ela é ─ Úrsula estalou os dedos, como quem desvenda um enigma ou descobre como construir uma lâmpada.

─ Você prestou atenção na matéria? Eles estão sendo acusados de um assassinato ─ Gancho encarou a televisão de volta. A matéria já havia mudado, e para seu longo suspiro, a mulher à sua direita anotava os nomes que havia repetido mentalmente quando se deu conta de que eram importantes.

─ Aposto que esses três são problema ─ Malévola arrastou a mão pelo balcão, Úrsula puxou o papel o guardando antes que mais alguém lhe questionasse. ─ Um problema que não precisa ser nosso.

─ Eles podem ter sido acusados injustamente ─ afinal, isso era comum no mesquinho e patético mundo sem magia. Úrsula o experimentou por mais de 28 anos. Definitivamente não sentia saudades ou guardava algum cartão-postal fofo.

─ O que tem contra aquela garota das luvas? ─ disse Gancho.

─ Tenho ótima intuição. E sabe o que ela me diz?

─ Nem consigo imaginar... ─ resmungou Malévola.

─ Vamos descobrir quem são esses três. Nesse mundo e em seu mundo de origem ─ Úrsula se afastou de seu banquinho, alisando sua roupa.

─ Como podemos descobrir uma coisa dessas? ─ um certo terror atravessava a expressão de Jones. Eles nem sequer sabiam alguma coisa sobre os três forasteiros que já haviam visto pessoalmente. E agora a Bruxa do Mar achava que com uma lista de nomes encontraria três procurados de Nova York e não sendo suficiente, a identidade das contrapartes? Isso se eles tivessem uma. Talvez não usassem a mesma tática dos pseudônimos.

─ Tenho uma vaga ideia.

─ E eu tenho um almoço, nem um pouco vago. Sabe o que eu escolho? ─ Úrsula revirou os olhos pelos resmungões da Fada das Trevas.

─ Vamos logo!

─ Por que essa insistência? Quando ouvi falar das famas da Bruxa do Mar não imaginei que isso significasse que você "mergulhava de cabeça" em tudo ─ Malévola repentinamente decidiu que perdera o apetite. Não pela pressa de Úrsula, mas por toda aquela confusão pela manhã, logo pela manhã. Os pesadelos completavam sua dor de cabeça. Ela era um dragão faminto e irritado preso num corpo humano.

─ Achei eles familiares, e não do tipo que vejo em sonhos ruins e borrados ─ Úrsula estava usando de toda a sua sinceridade, e ela não costumava ser muito confidente. Aquilo não era suficiente?

─ São criminosos aleatórios de Nova York.

Assassinos aleatórios de Nova York ─ Killian enfatizou, complementando o comentário da mulher de cabelos claros.

─ De qualquer forma, será útil descobrir de onde esses forasteiros vêm, já que estamos ajudando eles. Não quero me surpreender com lobos em pele de cordeiro ─ Úrsula garantiu que tivesse dito baixo o suficiente a última parte para que Ruby não escutasse.

─ Apenas não force tentar achar coisas ou "provas" que não existem, tá legal? Sua intuição pode estar errada ─ Gancho contava com isso. Porque caso eles perdessem tempo, teria alguém em definitivo para culparem.

─ Como conseguem olhar para aquela garota e sentir verdade nela? ─ Úrsula esticou o pescoço. Por um pequeno retângulo de vidro, observou Delahaye do lado de fora do restaurante. A garota nunca mostrava os dentes em um sorriso, nunca tirava aquelas luvas quentes, e principalmente, nunca tirava seus olhos atentos sobre eles. ─ Tipo, parece óbvio pra mim... E não se esqueçam de uma coisa ─ a Bruxa do Mar dobrou o papel com a pequena lista, articulando cada passo em sua mente. ─ Somos melhores. Mas ainda estamos longe do heroísmo ingênuo.

─ Não confia nela porque é ela quem não confia na gente, e é impossível de disfarçar ─ Killian esfregou os dedos na manga de sua jaqueta, distraído. ─ Da última vez que ela fez isso, seu mundo foi destruído. Eles precisam de um tempo, todos eles. Porque existe algum lado nosso igual ao dessas versões, somos quem somos porque em algum momento fomos definidos. E mesmo que bem no fundo, ou talvez não tão longe assim, eles ainda nos temem, e nos odeiam. Somos os demônios dos pesadelos, a lembrança de que as trevas podem ressurgir e corroer ─ Jones se levantou, encarando o chão.

─ Sabemos do que somos capazes, mas eles não ─ ele continuou. ─ E tem razão, talvez essa garota não seja confiável, talvez nenhum deles seja, talvez eles tenham transformado dor em vingança ou coisa pior. Mas eles têm o mesmo olhar, o olhar das crianças perdidas que eu via na Terra do Nunca, o olhar sem esperança, preenchido de medo. Talvez eles nos apunhalem pelas costas na primeira oportunidade, mas aqueles pesadelos não invadiram nossa consciência à toa. Fomos avisados, mesmo tarde, e se isso aconteceu é porque quem enviou acredita que nós somos capazes de mudar o fim dessa história. Algum Capitão Gancho por aí ajudou a começar essa guerra, então eu vou tratar de ajudar a terminá-la.

guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora