PRÓLOGO. passado

556 44 41
                                    

"Mas vilões nunca mudam."


Realidade: 024
REINOS UNIDOS DE AURADON

─ Vós rogai silenciosamente pela misericórdia, grandíssimo Supremo, que nos assiste sermos banhados em chamas. Perdoe os sacrilégios desta terra. Depure as almas dos órfãos de luz, dos sucessores do inclemente. Leve-os para onde não terão o que temer. Os cure.

Orbes de luz amarelas suspensas no ar pairavam ao lado das molduras ornamentadas de um portão de ferro. O cubículo escuro tinha como divergência a luz branca que irradiava ofuscantemente nas palmas das mãos erguidas do mago, que mantinha a postura de frente a um portal.

Era um círculo que seguia do chão e tomava uma altura de dois ou três metros. Energia dourada faíscava nas pontas, e em seu centro uma pura neblina negra. Merlim recitava sua oração de misericórdia, brandindo a voz a qualquer supremo que lhe ouvisse.

─ Meu Senhor, encaminhe um presságio aos psiques correspondentes, e os deixe saber quem salvar do fogo, da areia, do veneno, dos oceanos e dos ferros. Estes serão os salvadores das cinzas de Auradon. Que seus guerreiros sobrevivam.

Subitamente Merlim sentiu suas pálpebras mais pesadas, seus músculos mais rígidos, ele contraiu os dedos, permanecendo aberto todas as passagens na terra acima de sua cripta subterrânea. A angústia lhe tomava ao imaginar que sobre sua cabeça o povo morria e era torturado. Há muito tempo, o sol chegou a brilhar, há muito tempo, existiu dias normais, mas agora... Estavam todos encurralados em fumaça e faíscas.

Um estrondo próximo o fez encarar por cima do ombro. O portão de ferro pareceu impotente em manter qualquer maligno fora. Um mago como ele era caçado até o fim dos mundos se necessário.

O estrondo foi mais perto, diretamente no espaço de ferro que o protegia. Merlim manteve a luz branca, acelerando sua oração com sussurros mais baixos para que aqueles demônios não lhe escutassem.

Uma besta muito maior que um urso arranhava e batia no metal com a pata, soltava gritos de fúria e provavelmente liberava mais chamas pela garganta.

─ Arranque de uma vez! ─ a voz ríspida que foi entoada do lado oposto era inconfundivelmente feminina. Era a Rainha Má. Ela estava lá. Porque todos os demônios haviam se aliado para chamuscar o reino.

Malditos sejam.

E então, a besta de fogo gritou novamente. Em frações mínimas de segundo, Merlim contraiu as costas contra a parede oposta do portão, com o portal fechado e as luzes apagadas. Pensou em empunhar sua melhor lâmina, mas isso apenas atrasaria sua tortura, estava pronto para encará-los, e ao contrário de muitos que já tiveram como suas últimas visões um dragão horrendo antes do fogo lhe consumir, Merlim não se preencheria de medo. Estava pronto para o fim.

A porta de metal caiu em sua frente, com fumaças pelas brechas tomando toda a sua cripta. Um assobio fez Merlim grudar as sobrancelhas com estranheza, atrás daquela nuvem escura era possível enxergar apenas as silhuetas, ele apertou os olhos, mas os arregalou de volta quando suas narinas se dilataram.

Aquilo tomou sua garganta e se espalhou por seu sangue. A Rainha Má havia jogado um veneno no ar, um que desnorteava Merlim totalmente, seus ossos estavam derretendo, era essa a impressão. Seu estômago se revirava, suas pernas falharam e ele caiu de joelhos no chão de pedras, a respiração já dificultada, a asfixia lhe agarrando, o coração indeciso nas batidas...

─ Fujam! ─ Sussurrou em direção às mentes de alguns que estavam no ponto de caos, baixo o suficiente para que os demônios não conseguissem lhe ouvir, seus olhos brilharam uma última vez. Aquela agonia era prolongada, inacabável. ─ Fujam. Eu ordeno que fujam.

guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora