05.ㅤㅤantigos fantasmas 𓂃

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Realidade: 087
STORYBROOKE

─ O que está acontecendo? ─ Úrsula encolheu os ombros, cochichando para Malévola e Gancho. A Fada das Trevas juntou as sobrancelhas.

─ Ela deve ter vindo do mesmo lugar que ele ─ disse a mesma. ─ O forasteiro disse que seu mundo está destruído, não é? Ele provavelmente deve ter achado que essa garota não sobreviveu assim como a maioria.

─ Eu já vi essa garota antes... ─ Killian apertava os olhos, mas nem sequer piscava. Seu tom lento entrava em ritmo com a confusão nublando seu semblante, ele parecia preso no meio de um transe. A Bruxa do Mar cruzou os braços.

─ Deve ter sido nos pesadelos ─ Jones encarou Úrsula rapidamente, querendo que alguém, qualquer um, iluminasse aquela névoa de sua mente. ─ Quem ela era?

Gancho sentiu um arrepio frio e uma aflição repentina, como se estivesse de volta em seu sono, experimentando daquela lástima que era a dor e o atordoamento. Alguns rostos borrados passaram por seu cérebro, ele se sentia olhando da janela de um trem, rápido demais para reconhecer qualquer coisa no exterior. Ela estava em seus pesadelos, mas ele não conseguia reconhecer, saber onde ela estava e quem era ela.

─ Eu não sei.

Jay permanecia atônito, enquanto a nova forasteira se mantinha indiferente. Algo sombrio cobria qualquer luz que seus olhos acinzentados poderiam transmitir, seus lábios se mantinham paralisados, sua face e sua postura não demonstravam nem uma fagulha de sentimentos.

─ Você é uma farsa ─ Vince apertou os dentes. ─ Um fantasma que está tentando me assombrar ─ Regina arregalou os olhos, encarando aquela confiança avassaladora do forasteiro. Ele não tinha dúvidas. Jay agarrou uma de suas lâminas esfriadas que haviam deslizado no chão com o tombo. ─ Você está morta!

Jay jogou a lâmina contra a garota loira no seu estopim, Killian sentiu seu coração palpitando bruscamente por algum motivo. Antes que a longa espada alcançasse a pele da forasteira, a mesma desviou o corpo, sentindo um assobio ao lado do ouvido. A arma se fincou na parede atrás dela. A garota encarou o próprio ombro, tendo certeza que não havia nenhuma listra de sangue ali ou sinal de arranhões. Jayden recuou, os olhos úmidos e a cabeça explodindo.

─ Pulei em um portal assim como você ─ a voz dela não era das mais grossas, mas seu tom carregava uma força incomum. ─ Mas ao contrário de você, não enlouqueci.

─ Mas ele me disse que você... ─ Jay começava a sentir suas cordas vocais falhando contra sua garganta. A garota misteriosa parecia saber do que Vince falava, pois pela primeira vez, algo passava por seus olhos. Espanto.

─ Fui poupada. No julgamento da... ─ a mesma fechou a boca de forma brusca, apertando os dentes e ajeitando a postura. ─ Às vezes, a vida pode ser mais dolorosa do que a morte. Principalmente quando se perde tudo.

─ Como? Como me encontrou? ─ Jay estava lhe testando. Ainda custava a acreditar em seus olhos, seus instintos gritavam em alerta.

─ Eu não estou sozinha.

Um redemoinho de sombras, como nuvens macias de magia, se enrolou até o chão. Uma garota de pele escura, cabelos curtos até as orelhas de tom platinado e olhos como jabuticabas tomou lugar dentre aquele vento de escuridão. Estava toda de preto, vestia uma calça de couro que se mesclava abaixo dos joelhos com uma bota justa, uma blusa longa, onde apenas suas mangas eram vistas e um colete com ombreiras metalizadas que pareciam renda, era repleto de camadas e recortes de tecido grosso, além de algumas tiras de couro, presas na cintura, nos joelhos e em um ombro.

Suas pálpebras eram fundas com uma sombra vinho no olho, e seus lábios eram marcados com um batom igualmente escuro. Regina conseguiu sentir o poder dela como um aroma espalhado pelo ar, assim como Jafar, que se esgueirou para longe daquele pilar, para encarar a garota das sombras. Regina notou pequenos anéis de caveiras de Vodu nos dedos da mesma.

─ Você não está mais sozinho, Jay.

Jayden havia feito de tudo para aceitar suas perdas, uma por uma. Seu passado parecia longe o suficiente, mas agora voltava, como se debochasse de sua dor, como se toda a sua angústia tivesse sido em vão. Ele estava pronto para esquecer, esquecer de tudo, por que aquilo, tão de repente? Tão brusco e inacreditável.

Ele não enxergava nada além de fantasmas. Elas podiam ser verdadeiras, mas também podiam ser farsas, e se fossem a segunda opção, Jay sentiria mais uma vez a mesma dor que sentiu na primeira.

Jay apenas conseguiu recuar com fragilidade, Regina observou a mistura de loucura e medo se mesclando nele.

─ Eu... Não consigo.

─ Nos escute ─ murmurou a garota loira.

─ Vocês não passam de fantasmas pra mim, não consigo ver além disso. Eu preciso de um tempo. Preciso engolir isso.

Um espiral de areia se ergueu ao redor dele, tão caótico quanto seus sentimentos. Assim que o pó se dissipou pelo ar e se amontoou no chão, Jay não estava mais ali, e nenhuma de suas lâminas eram vistas. A garota das sombras suspirou, e avançou lentamente para o centro daquele salão deteriorado.

─ Eu sinto muito pela confusão ─ disse ela, cordialmente, enquanto colocava as mãos na frente do corpo. ─ Jay não é ruim, ele apenas está confuso... Foram muitos traumas, ele sucumbiu à loucura. Perdemos muitos amigos. Perdemos irmãos.

Os quatro antigos vilões reconheciam pessoas horrorizadas, cicatrizes que iam além da pele, almas desoladas. Jay usava a loucura de escudo para que nada mais lhe atingisse, a garota das sombras era a mais equilibrada, talvez ela não culpasse as pessoas erradas e se sentisse leve por saber que fez tudo o que poderia ter feito. A loira era um enigma.

─ Não sei o que aconteceu no seu mundo ─ Regina se aproximou. ─ E nem como os vilões eram lá. Mas somos diferentes aqui, nós...

─ Sabemos ─ a garota loira interrompeu. ─ Vilões e suas redenções. Pelas realidades afora, isso é mais comum do que pensa, nosso mundo apenas teve má sorte.

A menina de cabelos curtos e platinados levantou os olhos, encarando cada canto daquele salão deteriorado. Já havia visto muito, visitado muito, mas cada novo lugar despertava ainda mais sua curiosidade.

─ Há meses, estamos procurando por sobreviventes da nossa realidade, um bocado de portais foram abertos antes do colapso, para lugares aleatórios.

─ Meses? ─ Úrsula repetiu. ─ Achei que... A guerra foi recente.

A Bruxa do Mar se encolheu. O destino era travesso, aqueles jovens vinham de um mundo destruído, o forasteiro dissera simplesmente os quatro piores, porque foram justamente versões deles que haviam provocado toda a dor. Talvez o palpite de Malévola estivesse certo, os pesadelos não eram nada mais nada menos do que a visão de seus psiques daquela realidade destruída. E se a guerra foi há meses, os sonhos ruins não passavam de passado. Então por que apenas agora?

─ Não. Já faz mais de meio ano desde... Bem, desde os desastres. Ficamos viajando entre portais, mas nunca encontramos nenhum conhecido. Até agora ─ a garota das sombras revezou o olhar entre cada um ao seu redor. Ela esticou um sorriso sincero, meio tímido. ─ Podem me chamar de Kardama.

─ Esse não é seu verdadeiro nome ─ analisou Regina. ─ Estou certa?

─ Nomes e principalmente sobrenomes são perigosos ─ a garota loira puxou suas luvas mais para cima. ─ Então usamos pseudônimos fora do nosso mundo. Sou a Delahaye. E nem gastem tempo se apresentando, sabemos quem vocês são. Até mesmo porque, alguns são fáceis de reconhecer.

─ Somos observadoras ─ Kardama deu de ombros. ─ Jayden não deve ter ido muito longe, naquele estado... Ele pode ser perigoso. Precisamos encontrá-lo o mais rápido possível.

─ É para isso que estamos aqui. O que posso dizer? ─ Regina deu uma olhada de esguelha para Jafar, para garantir que ele não havia escapado junto com o forasteiro. Ela se voltou para as duas garotas. ─ Primeiramente. Bem-vindas à Storybrooke.

guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora