16.ㅤㅤa esperança 𓂃

175 12 9
                                    

Realidade: 211
REINO DESCONHECIDO

Jay perdeu a noção do tempo e da dor enquanto atravessava aquele portal. Ele caiu em uma terra seca, seus ossos estalaram e sua cabeça parecia amassada por rochas de tanta pressão e peso. Não se ergueu, apenas observou atrás de seus pés as faíscas ao redor da neblina negra do portal desaparecendo. O silêncio o fez manter sua cabeça vazia, antes que começasse mais uma rodada de sabotagens contra si mesmo e cutucões contra suas feridas. Mortos. Estavam todos mortos.

O sol se escondia para as costas de altas montanhas. Estava em um ambiente íngreme e irregular, cercado por árvores altas e não tão agrupadas. O clima era ameno, os passarinhos cantavam de uma distância muito grande, Jay não observou nenhum animal por ali, mas tentou se alertar para que não se surpreendesse quando esbarrar no caminho de um.

Ele já sobrevivera à Ilha dos Perdidos. Porque saqueava e apanhava boas frutas dos caixotes podres que eram descarregados nas docas. Mas se virar em uma floresta nunca esteve em seu currículo atípico. Talvez ele precisasse forjar armas para caçar, procurar por frutas, por água e em seguida, quando conseguisse se manter de pé por tempo suficiente, explorar para além das colinas em busca de qualquer civilização.

Abriu seus olhos logo depois de perceber que os havia fechado. Procurar um lugar seguro para recarregar as energias possivelmente deveria estar no topo de suas tarefas. Ele se sentou, arrastou seu corpo tenso e trêmulo até um tronco caído e apoiou suas costas ali.

O chão era coberto por gramíneas, pequenas e grandes pedras, até mesmo heras enroscadas e algumas folhas que ele não reconhecia, por nunca ter prestado atenção nas aulas de biologia. Nem em seu melhor momento conseguiria correr por aquela floresta, seja para caçar ou para evitar de ser caçado.

O jeito era se rastejar para baixo de rochas, ou dentro de troncos, ou qualquer canto seguro que a pata feroz de algum animal não lhe alcançasse. Jay podia ouvir barulhinhos ao seu redor, talvez de animais menores. Ele precisava reconhecer aquela região, se fosse uma rodeada por esquilinhos e outras iscas, há certeza que predadores o espreitavam.

Jay se arrependeu de não ter aceitado a ajuda de Mal meses atrás para controlar e usufruir sua magia. Ele poderia desaparecer numa fumaça de magia dali, mas fora estúpido e negou a única vantagem de ser filho de Jafar.

Jay puxou um graveto mais grosso com um pouco mais de um metro caído no chão, se apoiou nisso para levantar e se manter sustentado.

Como era estúpido.

Ele jogou o graveto com força para longe, não sabia onde descontar a raiva, porque sentia apenas isso, em contraste de sentir que não era mais o mesmo.

Jay caminhou entre as árvores com cautela, os olhos baixos sobre seus obstáculos e os ouvidos atentos a qualquer barulho maior.

Ele caminhou até que o dia se despedisse por completo. Suas pernas eram quase insensíveis àquela altura, formigavam e latejavam com exaustão. Ele alcançou uma planície mais baixa e observou um vão entre montanhas, onde o horizonte de um rio marcava uma linha. Apenas por isso ele persistiu os passos.

Jay chegou na margem, onde algumas pessoas zanzavam com pressa, pegando canoas e remando. Do outro lado do rio, há algumas centenas de metros, uma pequena comunidade com palafitas podia ser observada. Eram casas simples erguidas e apoiadas em estacas de madeira sobre a água, com passadiços entre um grupo de construções para outro.

─ Quer atravessar? ─ Jay ouviu um homem um pouco mais velho do que ele se aproximando. Tinha cabelos longos e escuros, olhos castanhos como canela, sua pele era bronzeada e suas roupas bem limpas, se comparando com os outros homens que lhe acompanhavam. Ele desamarrou a corda que segurava a canoa. ─ A próxima passagem é só amanhã de manhã. E a madrugada é fria.

guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora