42.ㅤㅤAuradon 𓂃

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Realidade: 024
REINOS UNIDOS DE AURADON 

A pianista de olhos bonitos fazia a demonstração de uma melodia angustiante e trágica, com elevações de tons em uma sincronia mais profunda e agitada. Em um evento, ou em uma reunião comum, as pessoas estariam gargalhando, provocando atritos nas taças ao brindarem e aplaudindo toda a forma de arte que lhes fora exibido, com fascínio. 

Mas não eram dias comuns, eram dias em que o sol não brilhava mais sobre eles. Mesmo entre os lustres prateados, os músicos vigorosos e o arranjo harmônico, nenhum dos "convidados" se dava ao trabalho de sorrir sinceramente, contornados pela própria ignorância, não abrindo mão do esbanjo, da badalação e do exagero, mesmo em dias em que nenhum deles poderia aproveitar.

O reino queimava atrás dos muros do palácio da capital. Os pobres e uma minoria dos mais ricos não tinham tido a mesma sorte da principal parte dos nobres ─ sorte, nas palavras dos que conseguiam se proteger atrás de um exército. 

Aqueles que se escondiam e tentavam ficar afastados do colapso já tinham sido notificados da fuga dos dois mais importantes prisioneiros. Benjamin Florian e Mal Bertha.

Nos cárceres do palácio restava apenas alguns políticos e membros do concelho que ainda apoiavam as ideias de Ben, ou simplesmente discordavam de sua condenação. 

Os responsáveis por cobrirem a escapatória do casal real já estavam devidamente punidos, para o aumento do ego no peito de bocado daqueles nobres.

Distante do piano lustroso, generais e comandantes conversavam com os olhos aflitos, preparando-se para enviarem suas tropas. Um deles devolveu sua taça na bandeja, cumprimentou os outros oficiais e partiu, acompanhado de um par de guardas.

Lonnie os observou se afastarem, como se carregassem toneladas nos ombros, com a possibilidade de estarem indo para não voltar. Lonnie se perguntou se aqueles homens haviam se despedido de suas famílias, ou eles teriam a mesma falta de sorte que ela, que não tinha tido chances de dizer adeus a nenhum de seus amigos. Tudo havia sido horrorosamente rápido, em um piscar, eles tinham ido embora.

O palácio estava recheado de alarmes e sirenes, toques de recolher angustiantes que viravam rotina. A comida ainda era totalmente liberada, por tempo indeterminado, já que estavam todos limitados ao território central da capital e as criações rurais eram gradativamente aniquiladas pelos venenos jogados na terra pela Rainha Má.

Fome.

Água se tornava preocupação quando os reservatórios secarem, os rios eram sujos demais pela Bruxa do Mar, dominados pela sua maldade.

Poluição.

Homens e mulheres enfrentavam todos os dias as tripulações bárbaras do temido Capitão Gancho.

Guerra.

Quando não perdiam a vida nas mãos de um desses três, eram perseguidos, torturados e queimados pela infame Fada das Trevas. 

Morte.

Quatro peças do apocalipse.

Lonnie levantou o vidro de uma das janelas, tomando cuidado para que nenhum guarda ou monitor rude lhe visse e aplicasse a devida punição.

As coisas estavam mais estranhas e rígidas naquele círculo ultimamente. Para além dos toques de recolher ─ que apenas serviam para limpar corredores e esvaziar salões, únicos lugares acessíveis, comparados aos restritos jardins e sacadas ─ os nobres também tinham limitações de comunicação externa, aproximação ou abertura de portas e janelas, menções a nomes de pessoas consideradas ameaça, proibição do porte de armas, uso de magia ou qualquer coisa semelhante. 

guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora