guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentes

13.ㅤㅤa garota viva 𓂃

Realidade: 087
STORYBROOKE

A última vez que Delahaye havia repousado as mãos nos braços da cadeira da mesa de jantar da Rainha Má fora provavelmente há cinco anos atrás, em alguma reunião idiota entre vilões, o cheiro da torta de maçã subindo por seu nariz e o vapor quente esquentando seu rosto eram iguais. Mas aquela Rainha Má não era a mesma. E as lascas da fruta vermelha certamente não estavam envenenadas como as da Ilha dos Perdidos. Ao menos, Delahaye esperava por isso.

Ela virou o pescoço vendo Kardama se servindo com os lábios esticados num sorriso. A garota das sombras estava no primeiro lugar do lado direito, mais perto de Mills, que se ajeitava no lugar único da ponta da mesa. Delahaye estava no segundo lugar, às vezes precisava se esquivar para frente para enxergar os olhos de Regina.

A mansão era silenciosa, desagradavelmente silenciosa. Se uma pena caísse no chão, Delahaye tinha certeza que a ouviria.

─ Ficamos gratas por nos convidar para almoçar na sua casa ─ Kardama falou sutilmente. Sempre Kardama. Que era acompanhada apenas por um movimento leve da cabeça de Delahaye.

─ Nossa confiança pode começar com uma maçã-não-envenenada. Você arriscaria, Delahaye? ─ Regina curvou o pescoço na direção da loira. Kardama a encarou no mesmo instante, como uma mãe rígida esperando por uma resposta correta do filho. A forasteira de olhos azuis cinzentos abriu seu sorriso irônico típico.

─ Parece estar ótimo, Rainha ─ Delahaye ergueu o talher de prata, enquanto Regina analisava cada movimento seu. ─ Se eu não cair morta, você ganha um ponto ─ Kardama enrugou a testa, suspirando discretamente.

─ Era pra ter sido... Uma piada? ─ a garota das sombras riu nervosa. Mas as outras duas não pareciam preocupadas. Delahaye colocou o garfo com o pedaço da torta de maçã entre os dentes, sem tirar os olhos de Mills.

─ Vamos na biblioteca do Autor depois. Quero que vejam uma coisa. Que conheçam a história dessa cidade, a minha história ─ Regina deslizou a mão pela toalha até alcançar sua taça. Delahaye mastigava com cautela.

Aquela torta tinha um gosto infernalmente bom.

Não era parecido com nenhuma oferta que a Rainha Má de seu mundo havia lhe oferecido. Aquela realidade era peculiar. Para dizer o mínimo.

Delahaye permaneceu quieta durante todo o almoço. Kardama conversava com Regina, falando sobre a temporada que elas haviam passado em Arendelle numa realidade distante, ou sobre quando invadiram o chalé de um Dr. Facillier. Regina comentou sobre os dias que passara em Camelot, e ambas compartilharam opiniões afiadas sobre as péssimas estradas e roupas, em alguns casos.

Delahaye ergueu suas mãos cobertas por luvas longas até a altura do pescoço, onde tateou sua pele por baixo da gola de sua camisa. Ela esfregou seu pescoço, sentindo a ausência de algo ali.

─ Esqueci uma coisa na pousada ─ ela afastou a cadeira para trás. Kardama e Regina se interromperam, a encarando.

─ Te dou uma carona ─ Mills se levantou igualmente, porém a outra ergueu uma das mãos para que ela voltasse para a mesa.

─ Não precisa. É aqui perto. E preciso de um ar ─ Delahaye esticou os dedos, sentindo dores como pontadas. Aquele era seu segundo maior motivo para sair daquela mansão. ─ A casa do Autor fica perto de algum outro lugar que já estivemos? Podemos nos encontrar por lá e irmos juntas. Vou dispensar a sobremesa.

─ Que pressa. O que você esqueceu? ─ Kardama a analisou da cabeça aos pés. Sua amiga parecia completa.

─ Um colar ─ Delahaye caminhou até a porta ligeiramente. Kardama não se lembrava de sua aliada carregando qualquer colar, mas presumiu que ela só havia dito isso por estar na frente de Regina.