01.ㅤㅤo forasteiro 𓂃

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Realidade: 087
STORYBROOKE

Killian contornava com os dedos a borda de uma xícara, enquanto Úrsula se aproximava na frente dele o cobrindo com sombras. Regina trocou um olhar com Malévola antes de avançar igualmente.

─ Eu matava uma garota com um punhal. E parecia tão real... ─ Mills sentiu um arrepio e até um gelo no coração ao dizer aquilo em voz alta, ao relembrar os gritos, quase conseguia ouvir as súplicas novamente, ardendo em seus ouvidos. A Bruxa do Mar engoliu em seco.

─ Eu estava em uma costa, que não era Storybrooke, ou a Floresta Encantada, ou qualquer lugar que eu já tivesse estado antes. Os brasões nos castelos e em alguns uniformes... Não os reconheci ─ Úrsula enrugou a testa. ─ Alguns navios cheios. E muitos gritos e choros, eram provavelmente sobreviventes fugindo de algo ruim. ─ Ela abaixou a cabeça. ─ Achei que eu estava lá para ajudá-los, mas ao invés disso... Os matei, todos. Estrangulei crianças, parti embarcações no meio, esmaguei e... ─ sua voz se perdeu, ainda mais quando ela notou um certo terror nos olhos de Gancho. ─ Era eu, mas ao mesmo tempo não, os tentáculos eram um pouco diferentes dos meus. Era real, mas não era uma lembrança.

─ Eu sentia o mesmo. ─ Regina suspirou.

─ Já fiz coisas ruins, mas não desse tipo. Eu não teria tanta ira assim. Nunca. ─ Úrsula moveu os olhos de um lado para o outro. ─ O que vocês viram?

─ Eu queimava um reino inteiro, como dragão, mal consigo me lembrar, minha visão era um monte de fumaça e chamas. Mas eu os ouvia implorar. ─ Malévola fechou os olhos, martelando seu cérebro para que aqueles pensamentos escapassem. ─ E no fim, voei até o mar, vi seus tentáculos...

─ Você provavelmente iria enfrentá-la ─ os pescoços das três mulheres se viraram ao mesmo ritmo até Killian. Ele exprimiu os olhos. ─ Isso é estranho. Vocês matavam em seus pesadelos, mas eu não. Eu simplesmente... ─ um medo e um receio atravessou a face atordoada dele. ─ Morria. Eu queimava e implorava ─ ele tentou mirar um olhar de esguelha discreto para a Fada das Trevas, mas Úrsula e Regina encararam ela descaradamente como se tivessem descoberto um enigma ─, eu ouvia meus próprios gritos, em alguns segundos parecia a minha voz, em outros era como se... Fosse outra pessoa.

Regina se recordou do espelho atrás da pobre inocente. Seus olhos, pareciam seus olhos refletidos ali, mas todo o resto era um amontoado de confusão. As roupas eram peças azuis, vermelhas e douradas que Mills apostava que nunca havia vestido, o seu rosto era apenas um contorno, e até mesmo este, parecia diferente do seu.

─ Como se fosse outro Capitão Gancho? ─ a voz de Malévola fez Regina despertar de sua imersão do pesadelo. ─ Isso só pode ser duas coisas. Uma previsão ou, de algum modo, uma visão de outras versões nossas. De outros mundos. Talvez estejamos conectados com nossos... ─ ela deu de ombros, sentiu na língua que havia uma palavra certa para isso. ─ Com nossos psiques correspondentes.

A xícara fez um estalinho em cima do pires quando Gancho deixou seu braço tombar na mesa, a balançando. Ele encarava todas as linhas do chão, ouvia o barulho de cada pássaro e se perguntava o que era ou não um sonho.

─ E se não for? E se os pesadelos são mesmos nós? ─ Gancho murmurou. Regina esfregou os dedos das mãos uns nos outros. ─ Em circunstâncias que nunca imaginaríamos, em um futuro sombrio...

─ Tenho certeza que eu nunca faria aquilo ─ Úrsula o interrompeu. Malévola fez um estalo com a língua.

─ Ele está apenas com medo de morrer ─ ela o mirou como se tivesse olhando uma criança boba, se perguntando se algum dia teria motivos para matá-lo, ou para voar na direção de Úrsula de jeito desafiador. ─ E se os pesadelos progredirem de alguma forma? Talvez mostrando não só a morte do cabide pirata, como a de todos nós. Como forma de nos pôr uns contra os outros?

guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora