Capítulo 1

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Anna

"Todo esforço valerá a pena" eu nunca quis tanto que uma frase se tornasse realidade, porque o esforço que eu faço não é brincadeira, viu.

Acordo cedo e vou para meu trabalho, trabalho como farmacêutica, a noite, vou até minha casa, tomo um banho, pego meu material e vou até meu curso de enfermagem.

Já pensei várias vezes em trancar o curso, jogar tudo pro ar, mas eu lembro que minha mãe sempre disse que era o sonho dela me ver se tornando uma enfermeira, no dia em que ela morreu, eu estava lá, tive a oportunidade de me despedir, foi o dia mais triste da minha vida, mas eu nunca vou esquecer o que ela me disse.

____FLASHBACK ON______

- Por favor mãe, não me deixa aqui sozinha- choro segurando a mão dela.

- Chegou minha hora, filha, o câncer me matou aos poucos, ele chegou na última fase, a gente saberia que isso iria acontecer.

- Mas eu não quero que você vá, fica comigo mãe, por favor.

- Eu não posso, pequena, eu tenho que ir, mas eu quero que você continue com seu curso, termine ela por mim, meu sonho sempre foi te ver com um jaleco, não pare, lá de cima eu vou estar torcendo por você e vou comemorar quando você chegar ao final e se tornar uma enfermeira competente. Não desista dos seus sonhos, Anna, seja forte e corajosa, não deixe que ninguém te faça mal, não abaixe a cabeça para ninguém, seja do jeitinho que você é.- diz com dificuldade e eu seco minhas lágrimas.

- Eu sempre vou lembrar de você, mamãe, obrigada por ter cuidado tanto de mim. Eu te amo.

- Eu te amo- foram as últimas palavras dela.

Os aparelhos apitam tão forte meus ouvidos doem, médicos entram no quarto e me arrastam para fora. Eu só sabia chorar e gritar por ela.

Meu mundo havia acabado nesse momento, uma parte de mim tinha morrido junto com ela.

____ FLASHBACK OFF____

Quando percebo já estou chorando horrores, é sempre assim quando eu lembro daquele dia.

Chego em casa chorando e encontro com o traste do cara que infelizmente é meu pai na sala, ele está jogado no sofá, fumando e com uma garrafa de bebida na mão.

- Tá chorando por ela de novo? Engole o choro e vai fazer a janta.

Eu respiro fundo pra não surtar e faço um coque no meu cabelo.

Antes da morte da minha mãe ele era um pai perfeito, tratava a gente super bem, trabalhava e contribuía muito dentro de casa.

Depois da morte da minha mãe, ele viu a bebida como um refúgio, já não bastando isso, ele começou a usar vários tipos de drogas aí tudo piorou.

A relação dele comigo nunca mais foi como a de um pai e de uma filha, ele já me bateu várias vezes, me trata como uma escrava e só me vê como um pedaço de merda, é como se ele tivesse esquecido que sou filha dele.

Eu já pensei várias vezes em sair de casa e tentar outra vida, mas eu nunca consigo, é muito difícil recomeçar do zero, tudo é muito difícil e eu não tenho tempo pra mais nada, então deixo tudo como tá.

- Eu tenho que ir pra faculdade, não posso fazer o jantar agora- digo e ele se levanta cambaleando.

- Vai fazer sim- se aproxima de mim e eu dou um passo para trás.

- Eu realmente não posso, ou eu vou perder um dia de faculdade.

- Então me dá o dinheiro pra eu pedir algo.

Minha vontade é de mandar ele trabalhar, mas apenas retiro o dinheiro da minha carteira e entrego pra ele.

- Vou subir- não espero a resposta dele e corro para meu quarto.

Só queria me jogar na cama e chorar, mas tenho que ser rápida ou vou me atrasar.

Tranco a porta e escolho a roupa que vou usar, vou até o banheiro, tiro a roupa e entro no box.

Enquanto a água cai sobre mim, eu reflito e percebo o quão ruim tá a minha vida, eu sofro tanto ainda tão jovem, fico me perguntando quando eu vou sair dessa e ter uma vida tranquila.

Depois que tomo meu banho, me arrumo, pego minha mochila e saio de casa.

Vejo que o traste já está comendo sentado no sofá, novidade nenhuma já que ele fica a maior parte do tempo aí.

Saio de casa sem nem olhar pra ele, tento evita-lo na maioria do tempo, me dói saber que aquele ser tão nojento é meu pai, eu queria aquele cara de antes de volta, mas parece que quem morreu foi ele e entrou um ser qualquer no lugar.

Entro no meu Uber e mando mensagens para meus amigos dizendo que já estou indo, ele falam que também estão e a gente combina de comer algo na cantina de lá.

𝗣𝗮𝗴𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗩𝗮𝗹𝗶𝗼𝘀𝗼•• 𝗙𝗶𝗹𝗶𝗽𝗲 𝗥𝗲𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora