capítulo 46

45.4K 2.9K 651
                                    

Filipe

O morro foi invadido e quem mais deveria estar lá não está, no caso eu.


Fiquei dando ordens pelo celular, mas minha vontade mesmo era de largar tudo e ir pra lá, mas eu sei que ia me fuder se fizesse isso.

Dessa vez os vermes foram tentar apreender drogas e armas, mas estavam perdendo muitos dos deles, então recuaram e a gente venceu mais uma vez.

Encerro a chamada com o Gm e passo a mão pelo meu cabelo.

Já anoiteceu e eu lembro da discussão que tive com a Anna.

- Mas que caralho!- xingo e jogo o celular no sofá.

- Tem como falar baixo? O Theo já dormiu- diz enquanto desce a escada.

Respiro fundo pra não falar mais nenhuma merda e me jogo no sofá.

- Deu tudo certo lá?- pergunta se sentando numa poltrona.

- Deu.

- Estão todos bem?

- Sim.

- Morreu alguém?

- Mais dos deles do que dos nossos.

- Eu ainda não entendo como você pode reagir assim, tão... Tão frio.

- Com o que?- tiro a atenção do celular e olho pra ela.

- Com mortes.

- A morte é natural, não tem o que fazer.

- Mas são pessoas que dão a vida pelo seu morro.

- Sim, e todo mundo que entra nessa vida sabe disso, tem duas saídas, ou você vai pra tranca ou você morre, e todos já estão preparados pra tudo.

- Você entrou nessa por qual motivo?

- Pelo poder- dou de ombros- eu cresci vendo meu tio nessa vida, depois que ele morreu foi a vez do meu pai comandar- me ajeito no sofá- eu fiquei ao redor de tudo, armas, drogas, dinheiros, mulheres... Eu gostava disso, tá ligada? Me sentia grandão, com 14 anos eu tinha o sonho de matar uma pessoa- ri amargo- com 16 eu já via meu pai torturar as pessoas e eu achava aquilo um máximo.

Olho pra cara chocada dela e dou risada.

- Mas meu pai só me deixou entrar de verdade mesmo nessa vida quando eu fiz 18 anos, aí ele já me levou pra sala de tortura onde tinha dois policiais amarrados, ele deu uma arma na minha mão e disse pra eu atirar- paro um pouco relembrando a cena- ele me disse várias coisas sobre os policiais, coisas que eu não entendia muito bem, me disse que um daqueles caras tinha invadido uma das casas aqui do morro e matado uma mãe que só tava protegendo o filho de 8 anos de idade.

Paro um pouco e deixo ela digerir tudo.

- Sabe quando teu sangue ferve e você é consumido pelo ódio? Foi eu naquele momento, imagens de policiais invadindo o morro, se sentindo os grandões, matando quem eles viam pela frente sem se preocupar se eram bandidos ou não passavam pela minha mente naquele momento, então eu atirei. Eu matei eles com tiros na cabeça, descarreguei a pistola naqueles filhos da puta.

- Você se arrepende?

- Eu?- nego com a cabeça- nenhum pouco, na verdade sim, eu voltaria naquele mesmo momento e faria pior, torturaria eles dolorosamente, depois cortaria a cabeça de cada um e...

- Tá, ok, eu não preciso ouvir isso- me interrompe.

Dou risada e cruzo os braços.

- Foi mau ter falado daquele jeito mais cedo, descontei em você e no Theo algo que vocês não tinham nada a ver.

𝗣𝗮𝗴𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗩𝗮𝗹𝗶𝗼𝘀𝗼•• 𝗙𝗶𝗹𝗶𝗽𝗲 𝗥𝗲𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora