capítulo 3

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Nossa aula termina as 22:30, o último professor teve um contratempo e acabou cancelando a aula.

Nós vamos até o carro da Isabella e ela vai passando na casa do pessoal para eles fazerem uma mochila para levar.

Quando já estão todos no carro, ela dirige por mais alguns minutos e como da outra vez, para o carro na entrada do morro onde tem uns caras armados que vem pra perto do carro.

- Fala aí ph- ela cumprimenta um dos caras que eu não consigo ver o rosto, fala algumas coisas pra ele e logo sai com o carro.

Como da última vez, ela para o carro em frente a uma grande casa no alto do morro, abre o portão e entra em uma garagem onde tem mais dois carros e duas motos estacionados.

- Venham, vamos nos arrumar que já já começa o baile- ela diz.

Nós todos descemos do carro e entramos juntos com ela para dentro da casa que é bem arrumada e decorada.

As vezes eu me pergunto o que o irmão dela faz para ter tanto dinheiro.

Eu quero mesmo saber?

Pô, eles moram na favela, não precisa ser muito inteligente pra saber que quem mora aqui e tem esse dinheiro todo faz coisa errada, né?

Ela nos leva até o quarto dela e deixa o Lucca em um quarto de hóspedes.

Fazemos a fila para tomar banho, eu sou a primeira porque segundo elas, demoro mais no banho.

Assim que tomo banho, saio do banheiro enrolada na toalha e a Karol corre pra lá, a Isa me entrega umas roupas.

- Aqui ó, a calcinha é nova.

- Tudo bem.

Eu coloco a roupa em cima da cama e vejo que tem um vestido preto com um decote bem lindo.

Gostei!

Me visto aqui mesmo e solto o cabelo que nem molhei por já ter lavado antes de sair de casa.

Eu faço uma maquiagem bem leve e finalizo com um batom vermelho.

Deixo meu cabelo longo solto, passo hidratante e desodorante, finalizo com um perfume da Isa que é igual ao que eu uso.

Nos pés uso um tênis preto da Jordan, arrumo o colar que era da minha mãe em meu pescoço e tiro uma foto só pra deixar guardada.

Não sou de ficar postando as coisas.

Quando todo mundo está arrumada, Lucca invade o quarto e assobia.

- Acho que entrei na gatolandia.

- Que merda é essa?- Karol pergunta fazendo uma careta.

- Lugar que só tem gata.

Nós caímos na gargalhada e logo a porta é bruscamente aberta por um cara todo sério.

Puta que pariu!

Pensa num homem bonito.

Pensou? Multiplica por mim, aí vai ter ideia de como ele é.

Pele clara toda tatuada, olhos com uma vibe mais maconheiro que só anda chapado.

Rosto angelical? Não, ao contrário.

Tá vestido todo maloqueiro, com a camisa no ombro deixando tudo a mostra.

A barriga dele não é definida e nem grande, é bonitinha.

O boné na cabeça que deixa ele mais gostoso ainda, a calça caída deixando um pouco da cueca a mostra é feio? É, mas ele fica incrivelmente sexy assim.

Para com isso, Anna, tá maluca?

- Gente, esse é meu irmão- Isa vai até ele que dá um beijo na testa dela, olha, ele é fofinho.

Ele me encara por um tempo e puta merda, o que foi isso que eu acabei de sentir?

Que isso Deus, não precisava.

Ele vai apresentando ele pra cada um, chega na minha vez eu fico travada.

- Essa é minha amiga, o nome dela é Anna, Anna esse é o Fi...

- Demo- ele diz sério e desvia o olhar do meu. Cadê o aperto de mão?

- Demo?- faço uma cara de interrogação.

- Algum problema?- pergunta e eu fecho a cara.

- Pode nem ficar curiosa mais?- cruzo os braços e ele se aproxima de mim.

- Fica quieta aí, morena, tu nem sabe quem eu sou.

- E quem você é?

- O dono daqui.

Ah porra, que lindo Anna, que lindo! Você acabou de tirar uma onde com o dono da maior favela do Brasil.

Cadê minhas palmas?

- Só passei aqui pra dizer que o baile já começou e eu tô indo pra lá, sem confusão porque aqui não é as baladinhas lá do asfalto que vocês estão acostumados a ir, como são amigos da minha irmã, peguem a pulseira que deixei lá na sala e subam para o camarote, não fiquem moscando lá embaixo ou vão morrem pisoteados igual uma menina de um baile aí quase morreu.

Essa pessoa de quem ele tá falando não sou eu, né? Poxa, é super comum uma pessoa quase morrer pisoteada.

- Eu acho que essa menina foi ela- Lucca aponta para mim e eu mostro o dedo pra ele.

- Calado vence, meu lindo.

- Fica ligada dessa vez- ele pisca pra mim e sai do quarto.

Porra, que cara ridículo.

Depois que ele saiu do quarto, nós vamos pra cima da Isa e ela levanta as mãos em forma de rendição.

- Por que você não contou que seu irmão é o dono do morro?- Gisele pergunta já irritada.

Tudo normal.

- Eu não quis que vocês se afastassem de mim.

- E você acha que isso iria afastar? Amiga, isso é incrível!- Karol diz toda animada e eu abro a boca.

Incrível? Em que mundo ela vive? Eu já li livros de donos de morro, eles são os caras mais bipolares que existem no mundo.

- Vocês não estão assustados com isso?

- Sim/não- preciso nem dizer que quem disse sim foi eu, né?

- Deixa a Anna pra lá, ela é do contra- Lucca diz passando o braço em volta do meu pescoço.

- Hoje a gente vai fingir que é namorado- ele diz.

- Tá maluco?

- Não, pequena, por segurança, esses caras daqui são doidos, eles só respeitam mina comprometida. As vezes nem isso.

- Verdade amiga- Isa diz- melhor fazer isso mesmo.

Concordo e enfim nós saímos da casa da Isa, entramos novamente no carro dela que logo da partida.

Poucos minutos depois ela para o carro em frente a quadra, já dá pra ouvir o funk de baixo calão daqui.

- Hoje tu vai dançar muito, Anna.

- Vou nada.

- Tu rebola pra caralho, lógico que vai.- Karol fala toda animada.

Digamos que eu dance bem, antes era péssima nisso, parecia uma minhoca sendo eletrocutada, mas depois aprendi a dançar e ninguém ganha de mim.

Nós descemos do carro e andamos em direção a entrada, Lucca fica atrás e mim e segura na minha cintura, as meninas vão atrás deles, meio que fazemos um trenzinho para passar pela multidão.

Passamos pelo meio das pessoas e a gritaria aqui dentro é muito maior, é impossível você escutar algo, falar então é mais difícil ainda.

Seja o que Deus quiser.

𝗣𝗮𝗴𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗩𝗮𝗹𝗶𝗼𝘀𝗼•• 𝗙𝗶𝗹𝗶𝗽𝗲 𝗥𝗲𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora