Capítulo 9

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                             Anna

Saio do quarto do Fili... Demo, sem dignidade alguma, dei pro dono do morro que me tratou como um lixo depois.

Mas também, o que esperar de um bandido? Café na cama e chamego? Com certeza não.

Encontro com meus amigos na sala, como eles já tinham tomado café, eu digo que não estou bem e não quero comer nada, logo nós saímos daquela casa que eu jamais espero voltar.

Descemos o morro e entramos no Uber.

Assim que chego na minha casa, é só pisar na sala que o desgraçado que infelizmente é meu pai me olha.

Minha vontade é de dar as costas e sair daqui, mas eu só fecho a porta e ia sair para o meu quarto quando ele se levanta e me chama.

- Aonde você tava?- pergunta se aproximando de mim.

Eu me encosto na porta e ele me encara com um olhar que eu sei que nao é nada bom.

- Eu...

- TAVA NA CASA DE ALGUM MACHO?- grita e desfere um tapa no meu rosto.

Meus olhos se enchem de lágrimas e ele segura forte no meu cabelo.

- Sua vadia, sai por aí dando pra qualquer um, é isso que você quer da sua vida? Sua mãe deve ter vergonha de você, uma putinha que dorme na casa de macho, cadela.

- NÃO FALA DA MINHA MÃE- choro.

- FALO SIM, ELA ERA MINHA MULHER E QUE SONHAVA EM VER VOCÊ SE TORNANDO ALGUÉM NA VIDA E NÃO UM DEPÓSITO DE PORRA.

A cada palavra dele é um soco no meu estômago, como pode ele me falar isso? Eu ainda sou filha dele. Caralho.

- Eu não tava na casa de nenhum homem- digo e ele ri.

- Eu sei que tava, olha isso no seu pescoço- me mostra um chupão e eu engulo em seco.

- Você é uma vadia mesmo- ele me empurra no chão e eu bato com a cabeça em algum móvel, minha vista escurece e eu já não sinto mais nada.

....

Acordo com uma dor muito forte na  cabeça, escuto vozes conhecidas mas não consigo indentificar quem é.

Sinto que estou deitada em um lugar macio, indentifico ser o sofá.

Abro os olhos e olho em volta.

Me sento e minha cabeça gira um pouco, meu rosto está doendo e eu sinto um gosto metálico na boca.

Em frente, vejo quem eu menos esperava, o Filipe.

Ele está discutindo com o cara que deixou de ser meu pai a partir de hoje.

Eu deixo algumas lágrimas escorreram ao perceber que eu desmaiei após ele me empurrar.

Me levanto rápido e corro para o meu quarto, só me jogo na cama e choro.

Choro ao lembrar da minha mãe.

Choro pelo cara que sempre foi um ótimo pai ter se transformado em um monstro.

Choro por ontem.

Choro por ter sido usada como uma puta por um bandido.

Choro pela minha vida estar uma bosta.

Choro por existir.

Mas o que o Filipe está fazendo aqui?

Ele descobriu onde eu moro e veio pedir desculpas?

Lógico que não, pessoas assim não sabem o que é pedir desculpa.

Sinto uma mão em minhas costas e me viro rapidamente vendo que é o Filipe.

O semblante dele está diferente, não consigo identificar o que se passa nesse olhar.

- O que você tá fazendo aqui?- pergunto com a voz falha por conta do choro.

- Eu vim cobrar o desgraçado que fez uma dívida comigo, pelo jeito ele é seu pai.

Era só que me faltava, ele tem dívida com um traficante.

- Quantos ele tá devendo?

- Não importa, você vai pagar a dívida dele.

- Eu? Como? Não tenho dinheiro- me sento na cama e ele se senta ao meu lado.

- ele te deu como pagamento.

Ah... É Deus, você me odeia.

Quando na vida eu iria chegar a pensar que meu pai me daria como pagamento por uma dívida com drogas? Nem nos meus piores sonhos.

- Você tá maluco? Eu não sou pagamento.

- Mas ele te deu, agora você pertence a mim.

- Não sou propriedade de ninguém- me levanto- eu não vou com você pra lugar nenhum.

Ele se levanta também e vem pra cima de mim.

- Você vai sim, seu pai me deu você, agora você é minha.

- Eu sou maior de idade, faço o que quero.

- Então eu mato o desgraçado do seu pai.

Outras pessoas no meu lugar comemoraria por isso, mas eu não sou assim, querendo ou não, ele ainda é meu pai.

- Por favor, não.

- Arruma suas coisas.

- Eu não quero ir- choro- eu tenho minha vida.

- Apanhando do cara que você chama de pai até desmaiar? Que vida ótima.

- Você não sabe de nada.

- Precisa saber? Olha seu estado, olha o estado daquele desgraçado lá na sala, aposto que ele fica o dia inteiro no sofá se coçando.

- E você? O que vai fazer comigo? Me deixar presa na sua casa e me usar como uma puta?

- Isso- vem pra perto de mim- você é minha agora, só minha- agora arruma suas coisas antes que eu mate vocês dois.

- Eu sou amiga da sua irmã.

- Foda-se, faz logo o que eu tô mandando.

Eu enchugo minhas lágrimas e vou até meu guarda roupa.

Tudo que tava ruim agora vai piorar, fui dada de mão beijada a um bandido, já era a vida que eu tinha até agora.

E meu curso? Meu trabalho? Eu não quero perder isso, eu amo o que faço.

Eu fico chorando enquanto vou colocando minhas coisas na mala.

Eu tô rezando pra que isso seja um pesadelo, que nada disso esteja acontecendo.

𝗣𝗮𝗴𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗩𝗮𝗹𝗶𝗼𝘀𝗼•• 𝗙𝗶𝗹𝗶𝗽𝗲 𝗥𝗲𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora