1. A Vida

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WANDA MAXIMOFF

Olhei atentamente os prontuários que estavam empilhados sobre minha mesa, tentando avaliar qual deles tinha a prioridade para quando minha ronda começasse. Era sempre difícil iniciar em um hospital novo, por mais que fosse em uma cidade pequena como Westview.

Apenas algumas intoxicações alimentares e uma gripe mais forte estavam dentre os internos de hoje, o que era indicativo de um plantão mais calmo. Coloquei o jaleco branco que estava sobre o cabide no canto da sala e então me preparei para sair.

- Dra. Maximoff? -a enfermeira chamou logo depois de dar duas batidinhas na porta e colocar a cabeça para dentro. - Temos uma ocorrência na emergência.

- Certo. Eu estava indo para a ronda, mas pode ficar para depois. -respondi já a acompanhando. - Qual é a situação?

- Dois garotinhos se envolveram em uma briga com outras crianças na escola. Eles caíram de cima da casinha do escorregador. Um deles tem um corte na testa, nada muito profundo, mas talvez precise levar alguns pontos. O outro machucou o tornozelo. Possível fratura.

Ouvi com atenção enquanto a seguia pelo longo corredor que nos levaria até a emergência. Não parecia ser nada muito grave, mas apressei o passo mesmo assim.

Ainda era estranho estar de volta, quase 11 anos haviam se passado desde que deixei Westview para trás e fui para a Inglaterra terminar a faculdade.

A intenção era nunca mais voltar, Westview tinha consigo minhas piores lembranças. Entretanto, a vida parecia sempre ser uma caixinha de surpresas pronta para explodir bem na sua cara, pelo menos foi isso que pensei quando meu marido Victor me disse que estava sendo designado para abrir a filial de sua empresa na minha cidade natal.

Victor também estava no programa de bolsistas, a única diferença era que ele morava em Nova Iorque. Ele foi a primeira pessoa que conheci e, por um longo tempo, meu mais fiel amigo. Sai de Westview completamente destruída emocionalmente e seu apoio foi primordial para que eu suportasse os primeiros meses no novo país.

Ele gosta de dizer que se apaixonou por mim no segundo em que nos conhecêssemos, o que foi totalmente não recíproco. Naquela época eu me sentia incapaz de retribuir qualquer sentimento amoroso, meu coração tendo sido completamente destruído por ela.

- Bom dia. -dispersei aqueles pensamentos e cumprimentei a mulher que parecia tentar consolar os dois garotos sentados sobre a maca. - Meu nome é Wanda Maximoff e eu vou realizar o atendimento dos dois. Eles são seus filhos?

- Não, não! Eu sou Sharon Carter, sou apenas a professora. -a loira explicou. - A mãe deles foi avisada e provavelmente já está a caminho.

Sharon deu um passo para o lado, deixando o caminho livre para que eu fosse até as crianças. Eles pareciam assustados e chateados, um deles com um pouco mais de expressão de dor. Me aproximei com cuidado, crianças tendem a temer médicos e eu não queria que isso acontecesse.

Eles eram dois lindos garotinhos. O da esquerda tinha cabelos mais cumpridos e lisos, que estavam pregados em sua testa devido ao suor e caia um pouco sobre os olhos, ele mordia o lábio como se tentasse evitar um gemido de dor e encarava sua perna que estava sobre um apoio para pés, a calça levemente erguida, deixando o tornozelo inchado à mostra.

O garotinho da direita também tinha cabelos lisos, mais curtos e menos bagunçados. Sangue seco estava em alguns lugares do seu rosto e vez ou outra ele piscava os olhos mais demoradamente, como se tentasse avaliar se isso iria piorar ou não a sua dor.

Os olhei com atenção, sendo repentinamente atraída pela ternura que eles exalavam, instintivamente sendo compelida a diminuir rapidamente qualquer desconforto que eles estivessem sentindo.

The Life That You Stole From MeOnde histórias criam vida. Descubra agora