10. Onde Tudo Começou

1.8K 264 441
                                    

NATASHA ROMANOFF

FLASHBACK...

Estava na cozinha bebendo um copo de água quando ouvi o primeiro fungado. Wanda tentou disfarçar o segundo com um espirro fingido, mas eu a conhecia bem demais para cair nessa.

Olhei o calendário pregado na porta da geladeira, eu sabia que esse era um dia difícil. Há seis anos atrás Wanda, seu irmão gêmeo e seus pais estavam indo para uma viagem de fim de semana na praia quando o carro deles se envolveu em um acidente.

Ela foi a única sobrevivente.

— Que tal deixar todos esses livros de lado e tirar um momento para você? -falei quando cheguei na sala e a encontrei na mesa debruçada sobre diversos livros e papéis.

— Eles me ajudam a não pensar. -mais uma vez ela fungou e eu pude ver seu rosto completamente vermelho pelo choro.

— Talvez pensar seja bom. -me aproximei dela, curvando meu corpo sobre o seu e a abraçando por trás. — Deixar os sentimentos saírem não é de todo ruim, assim eles dão espaço para novos sentimentos bons.

Ela se encolheu no meu abraço, parecendo tão pequena diante de mim. Sua fragilidade era nítida e eu só queria poder tirar toda a sua dor, ela não merecia aquilo.

— Eu não tenho mais ninguém, Nat. -ela chorou mais um pouco. — Toda minha vida eu imaginei como seria quando a minha família se reunisse, quando eu tivesse um amor para apresentá-los, filhos... Eles se foram e eu nunca vou poder apresentá-la a eles, meus pais nunca conhecerão meus filhos.  Nunca vou ter o que sonhei.

Solto o abraço por um segundo, apenas para puxa-la pelos braços e colocá-la de pe, de frente para mim. Seus olhos continuam mareados com as lágrimas e sua expressão é tão triste que me quebra por dentro.

— Você tem a mim, lembra? Eu não vou sair do seu lado, meu amor. -asseguro a ela, secando suas lágrimas com meus polegares. — Ainda podemos ter a nossa família. Eu sei que nada nunca vai substituir o que você perdeu, mas podemos ter nossos filhos. Várias crianças correndo por essa casa, nos deixando de cabelos brancos antes do tempo. Podemos ter isso, vamos ter isso!

Ela me olha com um sorriso, provavelmente imaginando a cena assim como eu. Não era a primeira vez que falávamos sobre nosso desejo de aumentar nossa família.

— Eu quero isso, Nat! -ela me diz com ímpeto, as lágrimas cessando por um momento. — Uma família completa com você, humanos em miniaturas nos chamando de mamães enquanto correm pela casa.

— Teremos isso! -eu afirmo, beijando seus lábios como se selasse uma promessa. — Seremos mamães um dia.

Rapidamente ela balança a cabeça, fungando mais uma vez, seu nariz vermelho parecendo completamente adorável.

— Não um dia. Agora, Nat! -ela estava tão convicta em suas palavras que me deixou um pouco desnorteada. — Não temos porque esperar, o tempo é tão imprevisível. Não quero deixar nas mãos de um futuro incerto a minha felicidade. Eu quero começar a viver a nossa vida agora.

— Meu amor, você está no meio do curso. Seus horários são loucos e algumas vezes sua rotina é tão difícil que eu preciso te resgatar de si mesma. -expliquei. — Além do mais, não sei como você pretende fazer isso, mas uma inseminação é cara. E por mais que adoção seja gratuito, criar uma criança também não é barato.

Todos os pontos enumerados por mim pareciam perfeitamente plausíveis, mas enquanto as palavras saiam da minha boca, eu conseguia ver que elas não faziam nenhum efeito nela.

The Life That You Stole From MeOnde histórias criam vida. Descubra agora