começo do fim...

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Paz

Três letras, grande significado. Muitas das vezes queriamos desistir e simplesmente sair refugiado para outro país próximo, assim como milhares de pessoas que foram obrigadas a sair de suas moradias em busca de

Paz.

Lorenzo fica abalado por mais tempo que eu. A morte de Fonseca deu um leve choque em sua realidade. Mesmo preparados e achando ter pés no chão sobre a morte, abalou pra valer.

Porém não era hora de luto... perante tantas baixas éramos obrigados a seguir. Sem olhar para trás acumulando traumas e stress.
Uma hora isso acaba. Lembro-me de quando ele me disse que só via vantagens em morrer ou voltar pra casa doente da cabeça.... achava que ele não tava falando sério, mas depois do luto tenho que ficar atento ao pobre Lorenzo.

Atenção que foi necessária em uma troca de tiros e ele literalmente TRAVOU, em frente a um alemão nazista prestes a matá-lo ele paralizou. Minha conexão com ele estava ficando tão forte que senti isso e cheguei a tempo de abater o alemão e salvá-lo.

Já chego dando um tapa pra ver se ele acordava. Meus ânimos estavam exautados, meu sangue ferveia em pensar na minúscula chance de perder ele, perder meu amigo, meu parceiro, minha própria vida não faria mais sentido.

Digo isso a ele, de uma forma menos exagerada, mas era exatamente o que estava querendo dizer. Eu o amo, mas sem ele saber.

Mal sabia eu que era pra ter dito isso a ele.
Ali em alto e bom som.
Era a hora certa.
Mas eu fui covarde.
Nunca iria me perdor por isso. O que estava por vir nem se comparava aos perrengues que passamos outrora.
Não parei de pensar nisso, e não fiquei em
Paz

Acontece que no outro dia, veio um convite para um passeio em um dos aviões de guerra, com nosso amigo Marcos, o piloto que estava de namorico com Arminda, amiga da Letícia e vizinhança lá da nossa vila.

A empolgação minha e do Lorenzo foi imediata, só tinha lugar pra mais um e esse foi decidido em um simples "ímpar ou par", com as risadas nem imaginávamos do que o jogo decidiria dali pra frente.

Pela primeira vez em muito tempo olho para Lorenzo feliz novamente, percebo que estava um pouco mais magro por conta do luto e da má alimentação na guerra, seu sorriso novamente, há muito tempo não via tão sincero e puro por conta desse passeio.

Com isso, tive a estúpida ideia de ceder meu lugar pra ele, mal sabia eu...

- Tem certeza, Bento???

- claro. pode ir, aproveita bem. Lembra dos mínimos detalhes pra quando chegar me contar tudo.

- TO TAO FELIZ. OBRIGADO

Ele me surpreende com um selinho, esperto que só ele, ainda bem que a gente tava atrás da tenda e era horário de almoço com todos distraídos bem longe.

- tô de olho em você e o marcos hein - digo brincando.

- fica tranquilo, ele é comprometido - começa a rir me provocando, solta essa e sai...

- LORENZOOOOO.

- Tchau, até mais tarde.

Finalmente seu bom humor estava de volta, respiro aliviado em saber que ele voltaria mais leve, embora seja difícil no famoso contexto que estávamos, mas da forma que ele reagiu ao voo me surpreendeu.
.
O que surpreendeu também foi a demora dos dois voltarem... a gente estava na hora do almoço quando eles partiram e até agora, quase de noite, nada deles chegarem... mas achava que estava me precipitando.

Fico mais calmo, converso com o pessoal que estava de "folga" junto comigo sobre estratégias para a próxima batalha.

E nada...

eu e ele...Onde histórias criam vida. Descubra agora