eu e ele...

ele...

*ponto de vista: bento*

O QUE?
essa foi minha reação quando recebo a carta da Letícia... meu mundo automaticamente caiu, ela noticiou que estávamos esperando um bebê.

Seguido de palavras curiosas propondo um encontro antes que eu partisse de vez para a guerra. Esse encontro deveria acontecer imediatamente pois o que ela tinha pra falar era muito importante.

Pensei no que seria mais importante que a notícia dela estar grávida! Sigo com pensamentos drásticos será se meu pai morreu? será se ela já perdeu nosso bebê?

Nem me atrevo a ficar feliz com a primeira notícia... passei o dia limpando chão e banheiro desse bando de porcos e quando consigo uma parceria pra ver as cartas antes da hora vem essa bomba.

Pergunto quando sai a outra leva de cartas, sorte a minha seria daqui a 30 minutos. Escrevo rapidamente propondo o encontro amanhã mesmo antes do meio dia pois o coronel com os outros chegariam e se me vissem fora seria expulso ou até preso.

Torço pra que essa carta seja entregue e ela cumpra o trato do encontro.

Na cama mil e um pensamentos vêm a tona. As horas se passaram como um vento de 100km, o que viria na manhã?

E lá estava ela. Vindo de ônibus com as outras visitas dos soldados do outro batalhão aonde consegui me escalar pagando 20 contos a mais.

– meu amor... está tudo bem com bebê? todos estão bem? me conta me conta!!!

– calma, Bento. Respira. Você está pálido. Todos estamos bem pode ficar tranquilo.

– então por que esse mistério todo, meu bem? Não está feliz pelo bebê?

– claro que estou, Bento. Quando descobri saltitei de alegria. Alegre por gerar uma vida ao meu ventre, de estar realizando um sonho. De poder vê-la crescendo...

– então por que tanto suspense, eu também estou muito alegre!!!

– ai, bento, esse é o problema... – ela diz suspirando calmamente e olhando pra baixo.

– como assim? O filho não é meu?

– óbvio que sim!! O problema é que você não vai ver essa criança nascer! Você não vai vê-la ir a escola, dar os primeiros passos, andar de bicicleta...

– Não estou gostando do nosso rumo da conversa, Letícia... – vejo ela chorando muito quebrou meu coração.

– eu também não gostei da escolha de você se alistar pra vir lutar essa guerra, Bento. Só fui covarde de não falar isso quando você pensou mais no Lorenzo do que na sua própria noiva!

– Letícia?!

– isso mesmo que você está pensando... você estará sempre no meu coração, mas viver com a dor e estar sempre na dúvida sobre o pai do meu filho ou filha está morto ou não durante anos infelizmente não vou admitir. É injusto pra mim e pro bebê, espero que entenda

Fico sem reação com aquilo que acabava de ouvir. Perplexo e de bica aberta pois estava vindo da doce Letícia.

– irei prezar pela minha família, está na hora de você fazer o mesmo. Você vem ou não?

– Letícia não faz isso comigo! Por favor o que temos é tão lindo, eu vou voltar dessa guerra, todos iremos! Pode confiar.

– tá vendo! você consegue pensar em todos, menos em mim. e eu, bento. e eu???! Vamos, responde! – ela diz tirando o anel do dedo e chorando muito – você vem ou não?

Meu Deus preciso acordar desse pesadelo!

Não pudia simplesmente desistir, isso é crime eu iria preso.

Não consigo expressar o tanto que chorei com a dor de estar perdendo parte de minha vida.

E agora seria duas vidas! A dela e da criança... como assim?

Nos olhamos e ela entendeu o recado quando viu as expressões no meu rosto de "não vou poder, eu sinto muito mesmo" estava chorando muito... peço ao menos um abraço. ela recusa. tava no seu direito.

O que sinto agora é só angústia, vendo ela partir e junto dela o sonho de construir uma família saudável como um pai presente, assim como o meu é comigo, com uma mãe que eu nunca tive.

Só queria beber até passar mal, talvez seria uma tentativa de me livrar desse pesadelo que estou vivendo.

E eu estou vivendo sozinho. pela primeira vez conheci a solidão.