.:18:. Calcinha de Veludo

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Greta prometeu à irmã que a primeira coisa que faria com "Josefa" seria cumprimentá-la.

...e não dar-lhe um soco na cara.

Se afastá-la de Hilda para conversarem foi o álcool em sua churrasqueira da raiva, pedir favores em troca da transferência de hospital foi o fósforo aceso. Já não bastasse sua dívida com Waldinho, agora ela devia sabe-lá o quê para sabe-se lá quem.

Com o agiota/traficante pelo menos havia um valor claro e definido. Já com "Josefa", a falta de uma cifra tornava o valor dela automaticamente mais caro. Afinal, quanto custa um favor?

Por sorte, foi fácil chegar no local combinado. Pegou um ônibus e, meia hora depois, saltou diante de um letreiro esmagado entre dois prédios.

Calcinha de Veludo.

A porta acolchoada era ladeada por pilares de luz brilhando em amarelo e ciano. Bem acima, no alto da fachada, via-se o nome em letras cursivas, escrito em neon de verdade. Vidro brilhando em magenta, uma palavra sobre a outra, ambas em diagonal.

Entre o logotipo e a porta, quatro painéis mágico-holográficos verticais lado a lado trocavam os anúncios dos inúmeros bares ali dentro. Certas imagens e textos ganhavam tridimensionalidade, dando uma curta noção de profundidade. Um pinball lançou sua bola na direção da rua; um chapéu de vaqueiro girou até pousar na cabeça de uma morena; drinks de cores berrantes formavam um arco-íris pelo céu...

De repente um tal "Chernobar" piscou em uma das telas. Garrafas de cerveja ao lado de uma bunda vestida com calcinha preta e meia arrastão.

"Mais do que garçonetes" era o slogan.

Greta travou o maxilar, ajeitou o celular pendurado no pescoço, puxou a porta e entrou.

Enquanto Neonelly subia em direção aos céus, o Calcinha de Veludo tomava a contra-mão. Tendo sido adaptada a partir de uma mina desativada, seu formato seguia uma espiral quadrada, feito um parafuso mergulhando chão abaixo.

Ao longo do percurso, todo o tipo de bar se exibia em busca de clientela, cada um com seu próprio tema e cartela de serviços, indo desde um simples balcão com poucas opções, até casas com dança "exótica" (com "x" e com "r") e serviços mais íntimos.

Era tão profundo que chegava a ter sua própria estação de metrô.

Assim que a porta bateu às costas de Greta, a demônia se viu preta. Um tubo de luz negra descia em zigue-zague pelo teto de um corredor curto sem muita coisa além de cartazes, panfletos e pichações em cores fluorescentes pelas paredes. Por todo o espaço escuro e arroxeado, pessoas conversavam de pé, bebendo e se fundindo em beijos.

Humanos, lobisomens, anões e demônios se amontoavam em casais ou grupinhos, todos vestidos com trapos cuidadosamente rasgados e coloridos. Riscados de tinta sensíveis à luz negra, eles pareciam semáforos ambulantes.

A música eletrônica era ensurdecedora.

E a expressão de Greta seguia o humor que ela inspirava.

Quem a via, rapidamente saía do caminho, mirando-a de cima a baixo pelas costas fosse com espanto, fosse com irritação, fosse com desejo.

Ao final do corredor, a demônia dobrou uma esquina, entrando em uma curta seção toda pintada de preto que terminava em uma cortina de mesma cor.

Greta atravessou o tecido e se viu nas bordas de uma pista de dança. Acima, uma passarela de grade de ferro caminhava ao longo de três das quatro paredes. Ao seu redor, mesas e mais gente bebendo e se beijando (ou se engolindo).

Piratas Espaciais - E a Consciência de HildaOnde histórias criam vida. Descubra agora