.:19:. Elevador de carga

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.:19:. Elevador de carga

— Greta! Greta, espera! Espera aí! — Freya passou pela porta dupla antes que esta se fechasse, correndo atrás da demônia corredor afora. Diante dos obstáculos na forma de pessoas, a garota desacelerou o suficiente para que a vampira a alcançasse.

O que é?! — Greta virou-se com o rosto molhado de lágrimas ao sentir a mão fria agarrar seu bíceps. — Me larga! — Desvencilhou-se. — Eu tenho que chegar logo na porra do hospital!

— Eu sei, mas ocê vai como?, de carro?

— Não, de ônibus! — Jogou como se isso fosse culpa da vampira. Deu meia-volta e se afastou.

— Não, péra aê! — Freya a alcançou novamente e, antes que Greta pudesse revirar os olhos, disse:

— Eu vou te levar até lá! Se ocê for de ônibus vai levar muito tempo. Vem comigo, eu tô de moto. — Freya puxou Greta pelo pulso na direção oposta, descendo o corredor de volta ao bar.

— Mas a saída é para lá! — A demônia se desvencilhou novamente.

— Eu sei, mas eu conheço uma saída mais rápida. Eu conheço uma galera aqui e a gente pode usar o elevador de carga. — Vendo a dúvida no rosto de Greta, Freya adicionou. — Anda, me segue!

A garota hesitou, mas obedeceu.

Voltaram para o Chernobar, onde correram na direção de Sally, que estava atendendo uma mesa com um grupo de dois anões e um lobisomem.

— Sallyim, Sallyim! É uma emergência! A irmã da Greta tá no hospital e acabou de sofrer uma complicação grave! Eles tão indo operar ela nesse momento. A gente precisa sair daqui urgente!

— O quê?! — A garçonete virou-se, perdida, dando de cara com o rosto molhado de Greta. — Oh, meu Deus!

— Eu preciso do elevador de carga, agora.

Os anões e o lobisomem tinham a atenção colada no trio. Sem pensar duas vezes, a garçonete virou-se para os clientes e disse:

— Gente, desculpa, eu vou chamar outra atendente, só um instante. Vem, Freya, me segue!

O guizo na ponta da cauda felina guiou o caminho na direção da porta da cozinha enquanto a cauda em seta e o tapa-olho a seguiram nos calcanhares.

Assim que passaram pelas portas de alumínio da cozinha, Sally chamou:

— Júlia, atende pra mim a 22? — Uma outra garçonete, dessa vez humana, assentiu. — Valeu! Eu já volto lá. É só pra você anotar os pedidos.

— Opa, e aí, Freya! — Os cozinheiros e algumas dançarinas em intervalo saudaram a vampira, que acenou amigável, mas claramente apressada.

Sally, Greta e Freya passaram por paredes de azulejos brancos, bancadas de alumínio e aço, bacias com óleo fervente e terminaram diante de uma porta de metal verticalmente deslizante, tal qual uma guilhotina sem lâmina. Sally a ergueu manualmente, revelando o elevador mais claustrofóbico que a demônia vira na vida.

Parecia um frigorífico sem frio. Um cubículo de aço com espaço suficiente para duas pessoas. Duas pessoas apertadas uma contra a outra feito um túmulo compartilhado.

— Bora — chamou Freya e enfiou-se no espaço, baixando a cabeça para caber ali dentro. Greta hesitou, mas acabou por forçar-se também até encaixarem as duas por completo.

Assim que a lata de sardinha ficou de barriga cheia, Sally olhou Greta fundo nos olhos e disse:

— Boa sorte com a sua irmã! Se precisar de mim, a Freya tem meu contato! Pode ligar se precisar, ok? Se cuidem.

Piratas Espaciais - E a Consciência de HildaOnde histórias criam vida. Descubra agora