.:30:. Temos que falar sobre 100-Corpo

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.:30:. Temos que falar sobre 100-Corpo

O grupinho seguiu pelo canto da calçada, no contrafluxo da passeata, evitando o rio de gente que escorria avenida abaixo. Outro carro de som desfilava mais ao fundo da manifestação, mantendo vivo o bordão "cadê o meu emprego". Nas laterais da muralha de caixas de som sobre rodas, bandeiras da Força Sindical, de partidos de esquerda e até de alguns de centro-direita tremulavam suavemente.

E, para o constante nervosismo das quatro garotas, vários policiais robôs ou orgânicos se enfileiravam ao longo da marcha, atentos a qualquer movimentação ilegal. Viaturas da polícia e dos bombeiros estacionadas nas esquinas piscavam silenciosamente suas luzes, enquanto que, pelo ar, um pequeno drone-zeppelin acompanhava a população.

Os oficiais assistiam à manifestação apoiados nas portas abertas das viaturas ou encostados de braços cruzados na lataria. Na cintura não se viam armas de fogo, mas era possível identificar cassetetes, sprays de pimenta, alguns tasers de longa distância e um gerador de escudo de campo de força, visível pelas braçadeiras nos antebraços.

Havia de tudo um pouco na força policial: lobisomens, demônios, vários humanos e anões, alguns kemonos e um punhado de elfos e vampiros.

Já o contingente de robôs era composto quase todo por máquinas frias, a julgar pela rigidez de suas poses. Somente um ou outra entregava sua natureza quente. Não fosse pela postura, então pelo design de corpo padronizado. Exceto pelos rostos, eram um mini exército de clones.

Drones com logos de emissoras de TV também acompanhavam a situação pelo ar enquanto que, em solo, ao lado de furgões pesados com antenas, repórteres, cinegrafistas e técnicos trabalhavam incessantemente.

Uma repórter anã passava instruções para o câmera humano; uma demônia cor de neve, careca e com mãos de rapina entrevistava alguns manifestantes de passagem e, em um canto, duas fadinhas trabalhavam usando sua magia: uma enrolando cabos e outra levitando e controlando a câmera.

Greta não conseguiu discernir com clareza, mas ao passar por um camburão da polícia, jurou ter visto bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral e, para seu horror, bombas de magia.

Se sua memória não falhava, algumas destas geravam desmaios instantâneos em um raio de cinco metros, enquanto outras causavam enjôos com vômitos e evacuações forçadas. Muito utilizadas no passado, foram proibidas pelo alto número de internações e, em casos mais graves, casualidades. Não eram incomuns ferimentos cranianos pelo impacto com o solo ou desidratações fatais. Isso sem contar os riscos para pessoas mais sensíveis ou com doenças crônicas.

As próprias bombas de efeito moral estavam em julgamento, consequência da pressão da população fada, cujo tamanho diminuto tornava essas explosões potencialmente fatais.

Mas é claro que, sem um conhecimento profundo sobre esse tipo de armamento, Greta não podia ter certeza se o que vira eram de fato bombas de magia ou outra coisa similar. Em nenhuma das últimas manifestações elas foram utilizadas, e quando algo parecido foi lançado, veio dos próprios manifestantes (a julgar pelas imagens nos canais de notícias).

Embora a demônia não confiasse totalmente na veracidade dos vídeos, ela sabia o quão fácil era encontrar receitas na Rede para esse tipo de artefato. Isopor e gasolina, por exemplo, formavam um excelente substituto para napalm sem nem precisar de magia.

— Tomara que não role nenhuma treta por aqui... — ela comentou de esguelha para Mina.

— Ôxi! Nem me fale.

— Cara, você tá se sentindo meio fraca?

— Tô. Fica indo e vindo.

Mas foi Freya quem explicou:

Piratas Espaciais - E a Consciência de HildaOnde histórias criam vida. Descubra agora