O tal "Ao Tomate" se localizava a uma quadra e meia de distância, bem no centro de uma rua comercial apinhada de gente.
Sua fachada era composta por três partes.
Primeiro: no topo, azulejos brancos e a palavra "Automat" em neon vermelho brilhavam dentro de um nicho retangular em baixo relevo.
Segundo: abaixo do letreiro, um imenso janelão de vidro ia de parede a parede igual a uma vitrine de uma loja, exibindo todo o amplo interior do restaurante.
E terceiro: no canto esquerdo dessa "vitrine", uma porta de vidro, no vértice de um recuo em forma de "V", servia de entrada. De cada lado da porta, cartazes verticais holográficos exibiam as ofertas do dia em imagens sutilmente tridimensionais: strogonoff de frango com batata palha; bife com farofa, feijão e salada; lasanha de berinjela...
Nada memorável.
Mas como Ierathel deixou claro, não era um restaurante chique.
Ao atravessarem a porta de alumínio e vidro, as quatro viram-se em um ambiente de linhas retas, azulejos brancos e uma imensa coluna central de onde, no contato com o teto, rostos angelicais brotavam por entre motivos florais geometrizados.
Era um ambiente de pelo menos cem anos de idade. Talvez até mais.
Por sobre as pastilhas hexagonais do piso, mesas de madeira com tampos de pedra branca se espalhavam pelo espaço e ao redor da coluna. E apesar das muitas cadeiras vagas, o local estava apinhado de gente, quase todos funcionários do comércio local.
Um grupo de quatro lobisomens de terno e gravata ria em um canto; uma fadinha jantava seu sanduichinho na companhia de uma humana loiro-platinada de franjas retas; dois anões de crachás azuis comiam suas sobremesas; três elfos do hospital e um demônio se acomodavam em uma mesa vazia...
Conversas salpicadas de som de talheres formavam a névoa sonora pela qual o quarteto atravessou na direção do motivo do nome "Automat". Um largo armário cromado, dividido em nichos, como uma muralha erguida com centenas de microondas do século passado, exibia-se ocupando por completo a parede esquerda do restaurante. Dentro de cada "microondas", divididos em "prato principal", "sobremesa", "lanches" e "bebidas", as opções de refeição da casa se exibiam uma por nicho, na espera de uma boca faminta.
Sem caixa ou garçons, o pagamento era feito de modo extremamente intuitivo. Cada portinhola possuía um sensor para cartões e um preço que variava de mil a três mil créditos dependendo do prato.
— Eu vou pegar uma mesa para a gente — disse Ierathel às demais. — Vão vocês se servindo primeiro que depois eu pego meu prato — e se dirigiu até uma mesa vazia perto da coluna, ao lado de uma androide kemono de jaqueta preta e orelhas de coelho rosa choque.
— Freya, você vai ter que pagar o meu prato — disse Greta. — Eu tenho só alguns centavos na conta.
— Vixe, e o meu também. — Mina pareceu preocupada, passando as mãos pelos quadris e depois apalpando o próprio corpo em busca de algo. — Esqueci minha carteira dentro da caixa do esqueleto!
Freya ergueu uma sobrancelha:
— Se aproveitam de minha nobreza.
— Ôxi, eu saí com pressa, abestada!
— E eu tive que pagar uma fatura atrasada. A grana do teu olho fez igual botão de camisa: já entrou saindo — adicionou Greta com um olhar cansado.
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Piratas Espaciais - E a Consciência de Hilda
Science Fiction*Vencedor do prêmio The Wattys 2022* !!REVISADO!! Freya é uma vampira que quer montar uma tripulação pirata. Mina é amiga de Freya e quer ajudar a salvar a vida de uma desconhecida. Greta, uma demônia, precisa salvar a vida da irmã. Hilda, a humana...