18 - Eu quero um pirulito

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NOTAS! Pode conter gatilho de ansiedade


Eu ainda queimo por você, como o sol queima no céu
Eu ainda queimo por você, ooh-ooh
Eu ainda queimo por você, minha vida inteira estive em chamas
Eu ainda queimo por você, ooh-ooh
Flames - Mod Sun (Ft. Avril Lavigne)

Eles não haviam trocado uma única palavra o caminho inteiro. Uma hora de ida, uma hora para escolher e guardar as peças, mais vinte minutos de volta, e eles não trocaram uma única palavra.

Kiyomi achava que iria enlouquecer com todo aquele silêncio.

Ela sabia que Mikey estava com ciúmes, aquele tampinha era uma das pessoas mais ciumentas que ela já havia visto em toda a sua vida. Ela também sabia que a conversa entre eles estava completamente inacabada, e que ver ela e Izana naquela situação não deve ter ajudado em nada, mas Mikey não precisava ignorá-la como ele estava fazendo naquele momento.

Ele estava no banco de carona, com os olhos fixos na estrada à sua frente enquanto ela dirigia seguindo o gps, tudo feito em um silêncio mortal. Nem mesmo o som do carro eles ligaram.

Kiyomi odiava o silêncio, aquilo estava consumindo-a por dentro, deixando seu peito apertado e fazendo seu estômago revirar. Ela odiava ser ignorada e sentia que era exatamente isso que estava acontecendo, mesmo que ela o estivesse ignorando desde o dia em que se beijaram.

Ela ainda conseguia se lembrar da boca de Mikey com clareza na sua, as borboletas no estômago e a sensação de não querer parar de beijá-lo, tudo aquilo estava vivo toda vez que ela se lembrava que ele estava sentado ao seu lado. Kiyomi não queria pensar naquilo, principalmente depois do que havia acontecido há algumas horas com Izana, não era justo com ninguém ela ter aqueles pensamentos, mas era inevitável.

Ela soltou um suspiro atenta à estrada. O caminho de volta estava sendo pior do que a ida, sua mente inquieta não parava de atormentá-la com tudo o que tinha acontecido, Mikey, Ito, Hidetaka, Mensagens, Izana, Mikey... tudo aquilo rondava seu cérebro não a deixando aproveitar a sensação libertadora de dirigir em uma estrada quase vazia. Ela nem ao menos queria pisar no acelerador e testar a potência do motor daquela velha caminhonete.

Mais um suspiro. Aquilo estava sendo uma merda.

Ela continuou dirigindo com calma e silêncio por mais alguns minutos, até o instante em que viu a primeira gota de água cair no vidro do carro e sua espinha gelou.

— Merda — resmungou baixo sentindo seu peito apertar ao ver as seguintes gotas caindo do céu. Manjiro não disse nada e ela agradeceu, se havia ignorado o caminho todo, ele podia continuar daquele jeito.

A cada gota, Kiyomi apertava o volante mais forte, precisando resistir ao impulso de pisar no acelerador e sair logo dali. Aquilo era horrível, o céu ficava cada vez mais escuro e as nuvens mais carregadas.

A barriga dela doía, já conseguia ver os nós brancos em seus dedos enquanto apertava o volante. Sua respiração estava forte e irregular, sua visão começava a nublar e a chuva aumentava gradativamente.

Ela precisava sair dali rápido, ou sofreriam um acidente em breve. A chuva estava forte demais, e ela instável demais para ser capaz de dirigir por mais 40 minutos até a oficina de Shinichiro. Ela precisava sair daquela estrada.

A voz de Kiyomi morreu em sua garganta enquanto ela tentava regularizar sua respiração e se acalmar por alguns segundos, a chuva já estava forte e dificultava a visão da rua. Ela queria sair dali a qualquer custo antes que começasse a chorar com medo do que poderia acontecer.

Pirulito de CerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora