Pirulito de Cereja

16 - Quer trabalhar aqui?

Eu não falo mais com Talarico
Talarico roubou minha mulher
Zeca Pagodinho - Talarico roubou minha mulher

O vento gelado de Tóquio batia contra o rosto de Kiyomi enquanto caminhava pela cidade. Era início da tarde e o clima estava nublado e tempestuoso, as folhas das árvores já tinham sua coloração amarelada indicando a atual estação: outono.

Os planos dela naquele dia se resumiam a deitar no sofá enrolada em um cobertor e enviar currículo para todas as vagas que aparecessem no site de busca de empregos, porém, há quase uma hora, seu irmão mandou uma mensagem a ela pedindo que o encontrasse na oficina.

Kiyomi desconfiou da mensagem de início. Seu irmão estava irritado com ela por ter mexido nas suas coisas no dia anterior, ele até havia enviado Emma, que estava agindo de forma extremamente suspeita, para vigiá-la. Então, ela estava aguardando a possível vingança de Ken-chin.

Apesar disso, ela atendeu ao pedido dele. Colocou uma calça jeans cinzenta de cintura alta, um cropped de manga comprida preto e o par de coturnos, mas nada disso impedia que o vento castigasse seu rosto com sua intensidade gelada. Kiyomi apenas pedia para que não chovesse até ela voltar para casa.

Ela estava próxima da S.S. MOTORS, então não demorou muito para entrar na oficina, encontrando seu irmão logo na entrada.

— Oi, Ken-chin — ela diz alto, chamando a atenção dele. — Acho incrível como nem no seu trabalho você consegue ficar longe da minha pessoa, isso tudo é saudade?

Draken estava com o uniforme da oficina, o macacão de mecânico abotoado até em cima. Ele estava sentado em um banquinho enquanto mexia no motor de uma moto que ela era incapaz de dizer o nome do modelo.

— Vai à merda — ele disse rindo e revirou os olhos — achei que tinha se perdido, demorou pra porra.

Kiyomi revirou os olhos com força e sorriu irônica.

— Eu vim a pé seu idiota — respondeu. Draken pareceu ponderar por alguns instantes, mas desistiu de continuar, apenas se levantou da cadeira e pegou um pano que estava jogado ao seu lado, onde limpou as mãos.

A verdade é que mesmo a pé, Kiyomi demorou meia a hora a mais do que o normal. Ela caminhou sem rumo por alguns instantes, tentando adiar ao máximo o momento em que chegaria na oficina. Tentando adiar seu reencontro com Mikey.

— Tanto faz — ele respondeu e deu de ombros. — Vem, o Shinichiro quer falar com você.

Kiyomi arqueou as sobrancelhas, confusa.

— O que ele quer comigo? — perguntou incerta. Draken sorriu e a encarou.

— Para de perguntar e vem logo — disse simples e se virou, adentrando mais a oficina. Kiyomi não viu outra alternativa a não ser seguir seu irmão. Aquilo era suspeito e ela estava pronta para arrancar a trança idiota dele com um puxão se fosse algum tipo de brincadeira.

Poucos passos foram precisos e eles já estavam no centro da oficina.

— Espera aqui, vou chamar ele — Draken disse e logo se virou, indo em direção a uma das duas portas que haviam ali.

Ela ficou parada no centro da oficina, vagando os olhos entre as motos, carros e ferramentas. Ela viu um Nissan Note, um Corolla 2012 e um Civic, provavelmente de 95, haviam mais carros, ela pode concluir, aqueles eram apenas os mais próximos a si, mas a oficina estava repleta deles, até mais do que motos.

Quando vagou os olhos para a área onde as motos estavam, ela encontrou ele.

Mikey estava ali, ao lado de Izana, usando um macacão com a parte de cima amarrada na cintura e uma regata branca suja de graxa e fuligem. Os cabelos pretos estavam como sempre e o rosto estava incrivelmente limpo e vivo, mesmo que seu corpo estivesse um tanto suado pelo esforço do trabalho. Ele estava muito bonito.