Desculpem a minha demora. Muitas coisas aconteceram nesta semana e no fim de semana - nem sei como sobrevivi -, de crises de desespero até pessoas próximas adoecendo. E um eclipse lunar que eu tinha de acompanhar - eu amo Astronomia. Obrigada pela paciência, pelos comentários - ainda que poucos - e caso alguém esteja recomendando, obrigada por esta gentileza. Segue o capítulo.
Depois das onze horas, todos dormiam no casebre sustentado de pé pela união de uma família que nada mais tinha - a minha. As luzes do meu bairro estavam apagadas, pude ver pela janela da frente. Verifiquei se havia algum "fofoqueiro" de plantão, desejoso ou desejosa para denunciar por qualquer razão que seja ao governo e assim ganhar algum benefício.
Ao constatar que a tempestade fez todos os ratos deste esgoto que chamo de Subúrbio 8 se enfiarem em suas casas, fui à lavanderia e chamei pelo rebelde. Silencioso, saiu do esconderijo e me seguiu para o porão, já ciente do que faremos lá embaixo. Puxava uma das pernas, mas não emitia nenhum barulho ao caminhar, seu olhar ia de um ponto da cozinha conjugada com a sala de estar.
Talvez esteja com a mesma preocupação que eu: receio de que sejamos pegos no flagra. Todo alfa é obrigado a ser cadastrado no sistema que garante que a maioria seja da Força Alpha ou obedeça todas as ordens de Mandachuva. Nunca vi um alfa com tanta necessidade de mandar. Pela forma como o rebelde investigava os mínimos cômodos, algo me diz que ele está fugindo do sistema - talvez seja mais que rebelde, seja um fugitivo da lei. Agora que eu penso, se essa minha teoria for verdade, eu me compliquei ainda mais, porém não há como saber.
Não vou perguntar.
Não planejo ter intimidades desnecessárias com ele.
Apesar de que estamos prestes a...
É melhor não saber nada sobre o rebelde e ter a garantia da ingenuidade caso tudo dê merda. Embora pareça ser gente boa, eu não o conheço, não sei do que é capaz ou com quem está envolvido. Não posso confiar 100%, tenho que ter o direito da dúvida pelo meu próprio bem.
Abri o alçapão para o porão, escondido debaixo de um sofá rasgado e de um tapete puído, e iluminei a escada para o fundo.
A luz da vela trepidava porque minha mão tremia.
Lá embaixo é um espaço quadrado e vazio feito de concreto frio, o teto é baixo, opressor, a umidade infiltra os cantos porque esta parte está submersa. Guardamos pedaços de madeira para queimar no fogão longe das paredes e as ferramentas de trabalho que Kurama usava nas obras, deixadas para trás. Mais nada tem aqui porque não possuímos mais nada. Estiquei no chão um cobertor para evitar o frio quase congelante. Eu tento ignorar os barulhos das águas pressionando as paredes, que indicam os movimentos das criaturas, mas os arrepios sombrios são inevitáveis.
Acendi dois candeeiros afastando as sombras terríveis, vendo o rebelde se acomodar ali, encostando as costas na parede manchada e eu fui até as latas de serragem.
Por trás delas, dentro ou disfarçados em outros recipientes, eu escondo remédios que consigo com o contrabando.
Mesmo sem diploma, eu exerço medicina - ilegalmente, é claro. Consigo medicamentos em troca dos meus serviços e assim vou me virando para trazer alguma coisa para dentro de casa. Eu tirei uma ampola e uma injeção vazia dentro da embalagem.
Eu esperei muito nunca usar esse remédio na minha vida, mas...
Não me resta escolha.
Pela manhã, quando voltei da ronda para costurar as peças que faltavam, dei ao rebelde um chá que estimula a produção de esperma saudável, para aumentar as minhas chances. Pode rir ou morrer de vergonha, mas não tem nada de engraçado nisso. Gravidezes masculinas são extremamente complexas e frágeis, até porque nossos corpos não são 100% adequados para este processo. Eu me refiro aos homens ômegas cis, não aos trans. Segura o forno aí, militante, sei do que falo. O segundo gênero, na maioria dos casos, não tem nenhuma relação com o primeiro - não é porque eu engravido que sou mulher. Como estou há anos sem ter um cio, que é o momento mais fértil do ômega, eu preciso de alguns truques para ter mais sucesso no momento do desespero.
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Durante a Chuva
FanfictionO ex-médico Naruto, um ômega, acreditava nas promessas de um futuro reluzente criadas pelo governo para a Púnia. Ele acreditava como as crianças acreditam nas lendas. Após o golpe, e com ele a destruição da sua fé no presidente Mandachuva, Naruto se...