Cap. 8 - É uma Questão de Perspectiva

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Uma batida na porta atraiu a minha atenção. Eu andava pelo quarto e balançava Beatrice, pois não dormira essa noite de tanto chorar não sei por qual razão - e a minha experiência médica não contempla a biologia dos híbridos ou dos submarinos. Ela estava mais calma e sonolenta, mas não cedia ao cansaço, vigiando insistentemente a praia. Se eu fosse para outro lado, ela berrava.

-Entre.

Era Shikamaru.

Fico momentaneamente relaxado por ser ele.

Estou aqui há exato nove dias, eu contei - as mais longas que já vivi, pois estou sempre sobre tensão, achando que alguma coisa dará errado - e ele é um dos poucos que me visita diariamente. Costuma trazer os meus pais ou vir sozinho para saber do que preciso. Nós conversamos sobre o que rola lá fora na maior parte do tempo e na outra parte, Shikamaru pergunta sobre a minha vida no Subúrbio 8 ou antes dele, sobre a minha vida de médica.

Trouxe o meu café da manhã e estava acompanhado por um homem com longas antenas azuis que quase tocam o chão, criando um arco por cima da cabeça e dos cabelos presos num coque alto. Ele usa óculos redondos, as mãos se apoiam na frente do corpo como se fossem pinças - mas há dedos - e sua postura, é muito austera. Está de jaleco, que não esconde um estranho conjunto de placas duras e azuis separadas por pele da mesma cor - e com uma bolsa pendurada nos ombros.

-Bom dia, Naruto. - o serviçal cabeça de peixe bigodudo deixou a bandeja com a minha refeição sobre uma mesa e se retirou silenciosamente.

-Bom dia, Shikamaru.

-Este é o Dr. Aburame, o chefe dos médicos reais. - eu me aproximei com a mão estendida. Ele não aceitou, mas olhando diretamente para a minha filha, fez uma reverência educada. - Acho que seja importante um médico fazer exames na princesa. Com a sua permissão, é claro.

-Certo. Acho justo. Obrigado. - eu a deitei no berço e imediatamente Bia abriu o berreiro penoso. Suspirei cansado e a peguei de novo nos braços. Ela parou, mas choramingava com o rosto abafado no meu peito. - Tem algum problema que ela seja examinada no meu colo?

-Na verdade, não…

-Sim. - o Dr. Aburame ultrapassou a voz de Shikamaru. - Só em ocasiões de guerra, a realeza está autorizada a ser tocada pelos civis. Os terrenos estão abaixo dos civis submarinos. - eu me afastei do médico, segurando-a com mais firmeza do que antes. - Sua Majestade ordenou que eu checasse a saúde da princesa. Me entregue-a. - seu tom é de comando e não gosto disso.

-Não vai tocá-la.

-O Rei ordenou.

-Estou pouco me lixando para o rei, não é meu rei.

-Porém Sua Alteza não pertence a você.

-O que foi que você disse? - peguei o atiçador e apontei para ele pronto para bater. O médico observou Shikamaru, que reprovava aquela atitude. - Saiam daqui agora! - mandei.

-Não está em posição de me dar ordens.

Observei a janela aberta e os dois.

-Ou saem ou saio eu.

Percebi Shikamaru deixar o quarto tão logo eu falei. O médico Aburame, pelo contrário, me encarava através das lentes como se assim tirasse Bia de mim. Não exigiu, apenas avançou com suas mãos em forma de pinça apontadas para a menina. Golpeei-o com o atiçador na cintura. Ele retrocedeu e eu corri para fora da janela, mirando o ferro para todo e qualquer um que se aproximasse de nós dois. Os soldados me circundavam enquanto eu avançava pela praia.

Queriam me impedir de ir para mais longe e eu procurava por uma rota de fuga, porém, para onde eu olhasse, só enxergava o vasto palácio, o abismo talhado por ondas altas o bastante para esparramar pela pedra e dunas e mais dunas de areia.

Durante a ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora