Cap. 18 - Lembrem-se de Mim

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Eu não sei se fiz algo muito certo ou muito errado porque é a primeira vez que vejo Sasuke chorando. Acho que a imagem que tenho dele dentro de mim, sempre forte, sempre grande, sempre intimidador, olhando a todos não por cima ou por baixo, mas diretamente, no fundo dos olhos, era tão rígida que em nenhum momento eu o concebi de outra maneira. Sasuke tirou os óculos e cobriu o rosto com as mãos para abafar o seu pranto, enquanto eu continuo sem saber o que fazer.

Meio incerto, estiquei minha mão sobre suas costas e dei tapinhas de consolo.

O Quase-rei faz verdadeira força para abafar o próprio choro, mas tenho certeza se faz isso porque foi ensinado a nunca demonstrar "fraqueza" ou se é porque sente vergonha.

Precisou de um tempo para acalmar o rompante de lágrimas e soluços e quando fez isso, Sasuke exasperou fechando os olhos, respirando lentamente, o corpo envergado como se estivesse perdendo as forças. Ele fez certo esforço para encher os pulmões, mas o corpo travou e ele apertou os olhos por sentir uma forte fisgada na coluna. Levantei-me, inspirado pelo espírito que me tomava quando eu trabalhava na emergência hospitalar, corri até o banheiro, peguei várias toalhas e as deixei ao ponto de pingar água. Voltei e comecei a cobrí-lo com todas elas depois de quase arrancar a camisa do seu corpo, observando suas reações conforme aqueles panos ensopados entravam em contato com a sua pele agora fria e escamosa - foi um instinto que me sugeriu isso.

Sasuke olhou para si mesmo e depois para mim quando se recuperou. Sua pele absorveu toda a água impregnada, deixando as toalhas apenas úmidas, e logo seus pulmões inflavam como devem fazer, sem qualquer dificuldade. Lembrei-me da coleira. Corri para buscá-la. Ele colocou e arfou em indiscutível tom de alívio quando a água dali entrou em suas guelras.

-Me desculpe... - ele murmurou com a voz fanha. - Não posso chorar muito. A perda de água é nociva para mim. - assenti ao me sentar e ofegar. O esforço do ato repentino consumiu uma energia que eu não tinha disponível agora. - Obrigado e me desculpe.

-Bom... Se eu sou seu noivo, tenho que me acostumar com as suas... diferenças.

Eu vi suas ganharem um tom muito bonito de rosa, deixando os olhos mais reluzentes.

-Por que teve essa crise de choro?

-Eu estou esperando há muito tempo por um amigo que fique realmente do meu lado. - ele pegou um biscoito e comeu. Eu fiz o mesmo porque não sei como reagir ao peso dessa informação. Parece que uma pedra foi arrancada do meu estômago e jogada de volta. - Alguém que, minimamente, me tolere e não se importe comigo sendo um quase rei. - Sasuke massageou a própria testa.

Fiquei de pé e comecei a andar pelo quarto para dissipar um pouco da tensão em meus ombros e se acumulando na boca do estômago. Acho que o que fará a diferença para nós, no futuro, é o fato de colocarmos as cartas na mesa agora e criarmos limites para nós dois. Nós amamos nossa filha e queremos o melhor para ela, conseguimos conversar sem estranhamentos e nossas famílias se deram bem juntas. Pelo menos os parentes que Sasuke considera como família. A franqueza dele me desarma porque é como se ouvisse os pensamentos que quis calar por tantos e tantos anos.

-Vai ser bom ter um amigo para conversar sem me comparar com Itachi a cada dez palavras ditas. - Sasuke me acompanhava com o olhar. Eu sentia e via de soslaio, porém quando o mirava, ele abaixava os olhos para o chá. - Às vezes me sinto sozinho... E só tenho as conchas por confidentes. - sussurrou. - Desculpe, não quero te aborrecer com as minhas tolices.

-Só poderemos ser amigos se conversarmos, certo? Mesmo sobre as tolices. - Sasuke olhou-me por cima dos óculos e sorriu. Parei de andar perto da lareira. Creio que com ele, não tenho motivos para me sentir acuado. Creio que nunca tive. Posso ser franco com ele. - Eu me sentia sozinho também, quando era médico. Parecia-me superficial, as minhas amizades. Como se ninguém realmente se importasse comigo, só com o que eu podia oferecer, sobretudo por ser ômega e ter feito uma pequena fortuna. - dei de ombros, pesaroso. - Poucos me restaram quando o inferno abriu suas portas e deixou os diabos escaparem. Vai ser bom ter um amigo para conversar. - repeti.

Durante a ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora