Cap. 4 - A Mentira é uma Verdade Mal Contada

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Tem algo sobre a gravidez de ômega que não mencionei antes. Algo muito interessante sobre a biologia adaptativa desta humanidade e que foi de enorme utilidade para mim. Quando a barriga começou a se desenvolver e ficar devidamente aparente, os alfas e os betas se afastavam de mim quando eu andava na rua. Sobretudo os milicianos. A gravidez deixa uma sombra no ômega, o corpo produz um feromônio forte que basicamente manda a mensagem "eu estou cheio da essência de um alfa, não se aproxime." Garantiu-me meses tranquilos de trabalho, sem perigos.

No entanto, como tudo o que é bom dura pouco, a criança tinha um prazo para sair de mim e eu não pude fazer nada para impedir. Quando a hora chega, ela chega. Suportei as dores das contrações durante todo o dia, sem gritar, sem dizer nada, sem gemer, suportando para não atrair a atenção dos meus vizinhos. Não sei com o quê essa criança vai se parecer e eu sei que as fofoqueiras da rua ficarão loucas se souberem que um púnico ômega pariu um peixe.

Fiquei no porão com meus avós, que no passado eram enfermeiros - no tempo do guaraná com rolha, como dizem. Eles tomaram a responsabilidade de me ajudar enquanto meus pais seguram as pontas lá em cima, mas não sei se consigo segurar as pontas aqui embaixo. Acho que nunca sentirei tanta dor física como a que eu sinto nesse minuto. Nem tenho palavras para descrever como o meu corpo é destroçado, mastigado, pisado e eliminado por esta dor que se espalha por meus músculos.

É como se algo estivesse se desprendendo de mim e levando pedaços enormes do meu corpo junto, arrancado sem o mínimo do mínimo de piedade, cães selvagens me dilacerando.

Só sei que desejo esta dor ao meu pior inimigo para que ele morra agonizando. E sim, estou imaginando Mandachuva morrendo de dores do parto. Minha avó faz massagens nas minhas costas e nos meus quadris ao me colocar de cócoras no chão enquanto eu lembro de respirar e de não gritar. Eu espero muito não morrer de tanta dor que sinto.

Eu sei o que está pensando enquanto acha graça do que acabo de dizer. Por onde saem os bebês numa gravidez ômega masculina se não tem "o buraco"? Não é por onde eles entraram, eu garanto. Sou médico, sei exatamente por onde eles saem. Pelo buraco que é aberto no colo do abdômen e que a Força esteja contigo para não morrer sem médicos e bolsas de sangue.

Todo ômega masculino, no meu mundo, tem filhos por meio de cesáreas sem anestesia, com muitas bolsas de sangue. É um processo complexo construído que piora quando se é pobre. A taxa de mortalidade de ômegas, femininos e masculinos, parindo fora de hospitais é tão assustadora que te deixaria de cabelos em pé. Porém, a minha casta se arranja como pode com as receitinhas das antigas e com ensinamentos repassados de geração em geração.

Minha avó me dá um chá para me dar forças neste momento enquanto cita que em seu tempo, os partos aconteciam sem qualquer medicamento e os ômegas sobreviviam - belas histórias, vó, muito inspiradoras porque me incitam a morrer nessa porra!

Não me aguento de dor! Não sinto minhas pernas. De joelhos, meu corpo pinga suor, a criança se revira insanamente dentro de mim, como se estivesse desesperada para sair. Eu quero que saia, mas quero que me deixe vivo no processo. Seja uma boa criança e deixe a minha vida! Os bisturis estão prontos e eu sinto medo quando as lâminas brilham contra a luz do candeeiro. Eu vou morrer, eu sei que vou morrer! Não sei se são as minhas lágrimas ou o suor que lava o meu rosto agora. Vovô Mito me abraça e diz que ficará tudo bem, que sou forte, que vou sobreviver.

-Serei rápido, Naruto. Prometo. Estamos aqui. Continue aguentando o mais baixo que puder, por favor. - vovô sussurrou ao enxugar o meu rosto. Assenti segurando nas mãos de vovó, nós dois em cima de uma lona cheia de respingos de tinta e sujeira antiga. É agora, puta merda, puta que pariu, desgraça do caralho, é agora!

Vovô Hashirama realiza o corte em minha barriga enquanto mordo um pedaço de couro enrolado num pedaço de madeira para não gritar. Sua mão é leve e não dói, mas eu sou um poço de dor, então é meio irrelevante comparar. O corte é suficiente para chegar ao útero, mas não vejo por causa da barriga se revirando na linha da minha visão. Agora começa a "brincadeira": tenho que fazer força para a criança sair, porque se alguém puxá-la, os órgãos vitais podem vir junto.

Durante a ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora