Capítulo 20: Mais
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A última vez que dancei com alguém, havia sido em 1941.
Aquela era a minha última noite no Brooklyn, antes de entrar para o exército. Eu dancei com uma garota que estava saindo há um tempo e foi...Bom. Não lembro seu nome, mas ela era uma ótima parceira e sabia dançar muito bem.
Mesmo assim, quando precisei partir na manhã seguinte, não nos despedimos com promessas ou juras de amor. Não prometi voltar para seus braços e ela não disse que me esperaria — o que de certa forma é um alívio. Isso porque, naquela época, eu não sabia para onde voltaria quando a guerra terminasse.
Que ironia.
Porque eu ainda não sei. Mas, pela primeira vez, depois de tantos anos vagando sem rumo, depois de tantas décadas sem vontade própria, depois de tanto tempo, vivendo, sem viver de verdade, uma pequena centelha brilha em minha frente, tão intensa quanto as luzes do parque refletidas pela maré tranquila da baía.
Eu simplesmente não pensei muito a respeito, antes de puxar Serena contra meu corpo. Não me arrependo nem um pouco, no entanto. Sentir a pele macia e desnuda de suas costas, perfeitamente encaixada em meus braços, me parece tão certo, ao mesmo tempo que parece tão errado. Eu quero mais.
Eu preciso de mais. Preciso dela.
— E como isso vai funcionar, sargento? — Com o nariz levemente arrebitado, Serena questiona.
— Apenas relaxe o corpo e me acompanhe.
Ela sorri e balança a cabeça, concordando.
Com a palma direita correndo pelo seu braço, sinto seus pelos se arrepiando levemente, antes de alcançar os dedos delicados e entrelaçá-los aos meus. Sorrio, satisfeito por saber que o efeito que ela causa em mim, é recíproco. Minha mão direita, ainda em seus quadris, pressiona levemente sua barriga, ajustando a postura. Serena pode ser pequena e magra, mas as curvas de seu corpo são perfeitamente definidas.
Dançar sem música é uma experiência engraçada.
Tento me imaginar como há noventa anos, com o som de saxofones e baterias tocando animadamente enquanto conduzia aquela garota pelo salão. Mas eu não estou mais na década de quarenta e, certamente não estou mais com aquela garota.
Meus movimentos começam modestos, afinal, estou há uns noventa anos enferrujado. Guio Serena devagar, os corpos balançando levemente para a esquerda e depois para a direita, olhando-a nos olhos intensamente. Que parecem sorrir e brilhar mais a cada instante.
Ela, por outro lado, não está disposta a simplesmente ser conduzida por mim. Mal faço um movimento, e ela já emenda o próximo, espirituosa e ao mesmo tempo tão graciosa, de uma maneira que apenas consigo descrever como sendo...Serena. Ela dança da mesma forma que corre pelo parque todas as manhãs. Da mesma forma que faz qualquer coisa. Com leveza. Com fervor. Como se a presença dela fosse tão brilhante quanto as luzes do parque.
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Legacy | Bucky Barnes
FanfictionEntediada e presa em um emprego que odeia, Serena leva a vida no piloto automático desde o blip. Bucky Barnes por outro lado, daria tudo por uma vida pacata. Cansado de lutas e finalmente livre da programação do Soldado Invernal, ele passa os dias...