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Aquela prova era o experimento para onde eu ia. Inferno.
Estava acabando o tempo e estavam faltando ainda 6 questões, então eu fui no famoso “chute”. Não era algo que eu estava acostumada a fazer, mas era isso ou literalmente nada.

—- Virem as provas— Estendi o meu papel quando ela parou do meu lado— Quero conversar com você, me espere aqui.

Que caralho.
As pessoas iam saindo e só eu continuava ali, minha perna já tremia.

—- Bom, chega de esperar. -- Ela se sentou na minha frente com um envelope em mãos. —- Você é uma aluna excepcional, Perez, e eu sei disso. Então eu quero conversar sobre
sua nota. “F”?

Eu não disse nada mas até eu mesma estava chocada com aquilo.

—- Sabe que perdeu na minha materia, não sabe?
—- Claro que sei.
—- Por quê?
—- Meu pai morreu, a última coisa que eu tinha tempo era pra estudar.
—- Eu te entendo, mas é óbvio que seu caso foi para a coordenação. Estamos solicitando atendimento psicológico para você, e seus resultados terão que ser compartilhados aqui.

—- Não vai dizer nada?
—- O que você espera que eu diga. “Ah, eu realmente sinto muito pelas minhas notas, por favor, não me joguem naquele caralho de terapia que só sabe me medicar até eu ficar dopada, porque só assim eu sou boa o bastante” —- Fingi uma lamentação. —- Eu aviso a Angela, pode deixar. —- Peguei a requisição saindo da sala.

—- Sério, Ashtray, terapia? Eles acham o que?
—- Talvez seja necessário.
—- Você concorda, então.
—- As vezes não é sobre o que você acha, eles podem estar tentando ajudar.
—- Nao estão..
—- Você precisa de alguém que te entenda, S/n, eles só descobriram isso mais rápido.
—- Lembra quando eu procurei terapia pela primeira vez —- Me sentei do lado dele no sofá.

—- Foi três meses depois da Angela vazar daqui. Papai havia procurado um médico para mim, e eu demorei muito a confiar nesse médico.. uma vez, eu falei para ele, que às vezes eu via a minha mãe, ouvia ela e na pior das hipóteses sentia até alguém me olhar.
— Ele me acusou de esquizofrenia, e então eu tomei remédios controlados por mais de 2 anos. E quando eu troquei de terapeuta, ele disse que o outro tinha errado. Era apenas
estresse pós-traumático.

—- Eles erraram. E eu me fiz acreditar que era uma esquizofrênica. —- Evitei encarar Ashtray.
—- Merda, mas a gente não vai deixar isso acontecer de novo, nem que tenhamos que trocar de psicólogo, sei lá, 5 vezes na semana. Eu juro. -—- Eu sorri sem mostrar os dentes e me apoiei em seu ombro. Ash segurou minhas mãos fazendo um carinho reconfortante nelas.

É, seria mais fácil com ele aqui do meu lado, sem sombra de dúvidas.

Quando eu entreguei a requisição a Angela ela respirou fundo.

—- Eu sinto muito, eu sei que eu tenho influência nisso.
—- Não, não dessa vez, Angela. É  minha culpa que isso tenha acontecido. Eu me descuidei.
—- Eu vou lá, pode deixar. —- Concordei indo me levantar.

—- Eu ainda não terminei de conversar com você.
—- Eu sei que você sabe, filha.
—- Não sei do que você está falando.
—- Eu sei que aquele seu namoradinho te contou. E chegou aos meus ouvidos o que você fez na casa dele.
—- Olha.. foi impulsivo, eles estavam armados.
—- Eu achei incrível, relaxa filhota. —- Meu rosto tomou uma expressão incrédula.

—- Eu já queria fazer algo que tentasse até onde você iria por Ashtray, mas parece que eu nem precisei. Está nítido que você cometeria loucuras.
—- Ele me chamou de "bonitinha", não foi só por Ashtray. E ainda estava com uma arma apontada para Faye. —- Angela riu.

—- Qual é a graça?
—- Só o amor deixa a pessoa mais inteligente, tola e impulsiva.
—- Ai, mãe, dá uma folga!
—- Do que você me chamou?!
—- Angela.
—- Me chamou de mãe. Sério?
—- Pode deixar que esse erro não vai se repetir. —- Falei me levantando e indo direto para o meu quarto.

Eu estava saindo de mais uma daquelas reuniões, onde eu fui completamente apoiada a abrir a carta do meu pai. Mas era isso mesmo que eu queria?
Definitivamente era, mas eu estava tentando negar por mais algum tempo que ele estava morto. Que ele não ia voltar.

Eu tinha certeza que a carta era a confirmação, e por isso eu não queria abrir ela.

Charles me chamou para uma reunião na casa dele. "Pequenos talentos" ele disse. Qual é, eu estou no ensino médio.

Mas eu iria, amo festas de gente rica.

Pedi para Ashtray passar na minha casa .

—- O que você acha desse? —- Dei uma voltinha.
—- Está definitivamente melhor do que o outro.
—- Você falou isso nos últimos cinco vestidos. —- Cruzei meus braços.
—- Todos caíram bem em você. Tudo bem, o roxo.
—- Finalmente, muito obrigada! —- Fui para o banheiro vestir o mesmo.

Quando voltei Ashtray encarava a janela.

—- Tudo bem?
—- Você quer mesmo ir?
—- Vai que eu acho algo interessante lá, é a minha chance, Ash. —- Me sentei na penteadeira começando a me maquiar.

Maddy abriu a porta do quarto bruscamente.

—- Oi, Ashtray, S/n!
—- Você já experimentou bater na porta?
—- Foda-se a sua porta, você vai em uma festa na casa do prefeito e não me avisou?
—- Precisava?
—- Estão dizendo que vai ser a festa do ano. —- Revirei os olhos.
—- Sinto muito, Maddy, mas é para talentos.
—- Eu sou impressionante, os troféus na sala são todos meus.
—- E metade são meus.
—- Qual é.
—- Se você sumir da minha frente em cinco segundos eu te levo. —- A garota saiu do quarto rapidamente.

—- Cara, eu não aguento mais não ser filha única.
—- Não sei como você aguenta. —- Dei de ombros.

Ashtray ficou revirando meu quarto até eu terminar de me arrumar, ele disse que queria ver se eu ia aceitável.

—- E aí? Como eu fiquei?
—- Não 'tá tão ruim. —- Fechei minha expressão para ele.

—- Não estou falando sério.
—- Que bom! Deixa eu só pegar a minha bolsa.. pronto!
—- Cara, eu nem acredito que eu 'tô indo me misturar com um bando de riquinhos.

—- Você não é exatamente pobre.
—- Por quê minha mãe é traficante. Por que antes eu era sim. Até demais. —- Ele riu.

Próximo capítulo é so desgraça.

The Other Perez- Ashtray e S/n PerezOnde histórias criam vida. Descubra agora