III Anúncios de mudanças: Nuvens carregadas

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- Da______rwin...

- Dar____win

- Eei!

Abri os olhos assustado. O que? Já é dia? olhava tentando entender o que acontecia. Sentei na cadeira com as pernas postas para baixo, esfreguei os olhos, minha irmã falava:

- Levanta, temos que preparar o lanche e cortar lenha para o almoço e jantar. Outra coisa, o vento de ontem e o anúncio de frio, precisamos de lenha a mais para a lareira, a noite hoje será bem fria. Você está me ouvindo? Levanta a bunda daí. Anda Darwin.

Tentava entender o que acontecia, estava com o corpo ainda mole quando Ozannia me pegou pelo braço e puxou. Fui para o meu quarto ainda cambaleando, chamei Olavio.

- Ei, acorda!

Ele parecia uma pedra, nem mexia. Sai para lavar o rosto e a boca. Voltei já desperto, Olavio ainda dormia...

- Ei! Ouuuu!

Estiquei o corpo de frente a sua cama e caí em cima dele. Ele acordou assustado falando coisa com coisa.

- O que, que foi! Não fiz nada, eu estou quieto.

Dei uma risada alta e falei.

- Levanta logo seu folgado, vamos, temos muita coisa para fazer.

Puxei o cobertor e fui de encontro a minha cama quando avistei Ozannia parada na porta com uma cara muito feia:

- Vocês dois calem a boca, querem acordar o Deivy? Acorda ele para vocês verem se no primeiro horário não vão ficar com ele.

Tentei desviar dela, fingir que não vi, mas foi impossível.

Enquanto Olavio se arrumava fui para a frente de nossa casa, encostei o queixo na porteira e me perguntei quando voltariam. Por mais que tentasse ser positivo, minha alma estava triste e preocupada. Onde estavam? Estavam bem abrigados? Tinham feito a refeição do dia? Minha mãe estava melhor? Só perguntas sem nenhuma resposta.

Ficamos tão angustiados quando as coisas fogem de nossos olhos e não podemos acompanhar ou meramente observar mesmo que não façamos nada, o fato de não poder ver e saber nos tira a paz. Se ela estivesse aqui eu não iria fazer muito, seria as ervas de costume as folhas que já utilizamos e esperar com o tempo sua melhora, de qualquer maneira teríamos que esperar, mas somos abatidos por um falso domínio a qual não temos, nem nos pertence. Só vamos até um determinado ponto, assim são as coisas, escorrem de nossas mãos constantemente, e nós em vão tentamos agarrar, segurar, conter.

Olavio interrompeu meu breve pensamento quando me gritou, tínhamos serviços para executar.

Os três dias seguintes foram pesados e difíceis, aguardamos ansiosamente pelo retorno de nossos pais todos os dias, esperança que era adiada a cada pôr do sol. Todos já estávamos aflitos e tentávamos ser otimistas, consideramos hipóteses absurdas, como os dois terem se perdido, ambos terem morrido ou até mesmo o pior de todas as hipóteses, termos sidos abandonados.

Ozannia está uma pilha, aos nervos, mais brava que o costume, já não aguentamos mais, manda em tudo, até nas coisas mais simples, via a hora de determinar o que eu ia vestir, falar ou deixar de falar.

Olavio está absorvendo por demais tudo o que está acontecendo, tinha a certeza que nossos pais tinham se cansado da gente e arrumou uma desculpa para ir embora. Achava sua ideia sem total fundamento, mas sei por que pensava isso, ele era o mais custoso, constantemente os meus pais lhe chamavam a atenção e aplicava castigo. Observei que vemos as coisas perante nossa ótica, segundo o que somos e fazemos. A realidade não se aplica a nós, aos nossos erros e acertos, caprichos ou quereres, ela é independente e real, nós apenas fazemos parte dela, e parte de nossa decisão nos moldarmos ou não ao ambiente.

Tentei convencer Olavio mas ele parecia muito absorto na realidade que criou em sua cabeça. Deivy estava quieto, constantemente chamava e procurava pela nossa mãe. Ver seu estado de sofrimento nos partiu o coração, nem entendia nada do que acontecia.

Eu admito que estava distante. Em momentos assim tenho a estranha necessidade de me perder em minhas questões para ver se me encontro novamente, infelizmente, isso não funciona. Não tinha respostas o suficiente para me tranquilizar e estou quase certo que nunca terei. O fato é que estava tão absorto quanto Olavio, só que em busca de respostas reais e concretas, às vezes até cavando problemas onde não existe atrás de sanar minhas expectativas e saciedades insaciáveis. A questão é que respostas não mudam imediatamente minha realidade assim como estar como expectador em um ambiente não muda a realidade do mesmo.

"Só são fugas de nossa mente para estar em uma realidade 'ideal', pensada e criada unicamente para nós, dentro dos parâmetros do que achamos 'aceitável ou não', e não encarar as questões reais que nos rodeiam. Já pensou que tem certos sofrimentos a qual não aceitamos, que não passa em nosso crive, mas ainda sim está lá por que é real, mas que negamos veementemente, simplesmente por não querermos encarar. Coisas que estão na nossa frente mas que não é aceitável para nós por julgarmos não estar preparado e habilitado para passar, enfrentar, resolver, mudar. São bloqueios que constam só em nossa mente."

Nenhum de nós tínhamos admitido estar com medo, tínhamos apenas nos calado.

A realidade é que estávamos com medo, de ficarmos só, dos nossos pais não conseguir retornar entre outros que nem sabemos lista mas está dentro de nós gritando.

"Seja fugindo, seja brigando, chorando ou criando um mundo ideal, o medo parece ser nossa reação mais comum, primária e de difícil controle. Não se resolve gritando ou conversando ou simplesmente ignorando. Requer paciência, treino, enfrentamento até que você se sinta seguro e aquele monstro vire um passarinho em suas mãos. No final, domar uma fera, (vencer seus medos) sempre traz a sensação de vitória e liberdade."

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