XVI Cartas: Após as revelações

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- Eu tentava manter a paz e harmonia da casa sem nenhum exato. Era frustrante, nosso lar virou um território de trincheiras, não se sabia quando uma granada ia ser jogada, e ninguém sabia ao certo quando e como acabaria, o clima ficou hostil, tudo se tornou pessoal, não tínhamos paz nem alegria durante refeições, não conversávamos mais, não se tinha diálogo sem que a gritaria fosse presente, e é claro que nosso casamento ficou abalado, eu não concordava com a posição de seu avô, e ele jurava estar certo, qualquer tentativa de resolver o problema parece que ele só aumentava, em nível e proporção. E quando achávamos que as coisas não podiam piorar, elas pioraram. Rob percebeu que o pai não cederia, que não havia diálogo, e que a história entre ele e Lis acabaria da mesma forma que a irmã, trágica. Então ele e Lis, juntos, providenciaram para trazê-la do Chile ao Rio Grande do Sul e assim decidiram se casar secretamente, sem que ninguém soubesse. Os irmãos de Lis ajudaram e apoiaram, estavam todos muito abalados com o ocorrido entre Maura e Tarsilio; não foi de sua escolha essa lastimável decisão, como a família de Tarsilio era pobre e não tinha recursos para a locomoção Maura, tiveram que fazer uma escolha, a pior de todas, a única disponível. Mas para Rob era diferente, ele podia e tinha recursos para trazer Lis e arcar com o casamento e despesas de um recém casado, é assim ele fez.

Claro que mulher é sensível, vê algo errado de longe; eu descobri seu plano, mas não intervir, não sei se fiz o certo, até hoje não tenho certeza da minha escolha, mas fiz o que achava ser melhor para o momento. Eu sei que tenho minha parcela de culpa nessa confusão. Quando seu avô descobriu, já estavam casados, foi o próprio Rob quem contou. Seu avô enlouqueceu, falou que mataria os dois. Vendo a fúria de seu avô tive medo, receei uma tragédia familiar. Escondi os dois na casa de familiares, comprei a fazenda onde moravam às pressas e mandei seu pai e sua mãe para lá, longe de seu avô. Mas o problema era sério, a mágoa e a incompreensão estava enraizada. Seu pai nunca retornou para nos visitar, para ao menos ver eu e Maura, seu avô me proibiu de visitar vocês. Após um tempo, sem saber ao certo onde a fazenda ficava eu desisti de tentar, ou planejar ir lá.

- Vi a minha avó ser tomada por uma comoção, tocar naquele assunto parecia ser doido, difícil, lidar com as lembranças pode ser desconfortável.

"Melhor viver a dor da renúncia e da prudência que enfrentar o amargor do arrependimento. Uma vida cheia de arrependimentos e viver pela metade"

"Encarar seus erros e falhas é um processo insultivo, mas, faz bem para a alma e consciência; saber que está sendo verdadeiro consigo e libertador, provoca paz e leveza."

Minha avó estava emocionada, talvez um pouco abalada em tocar no assunto, um passado pode abalar nosso coração, e ninguém pode fugir dele. Meu avô também estava pensativo, com a cabeça baixa.

- Aah! Quanto tempo perdemos. Tempo este que não volta. Perdemos muitas coisas boas por causa de uma besteira. Por não querer abrir mão. Sabe o que eu aprendi com essa situação durante esse tempo? Certo ou errado, alguém sempre terá que desistir, de estar certo, desistir de ganhar, desistir do orgulho, ou viveremos sempre de rupturas. E o mundo não é o que nós queremos e almejamos, é necessário adaptarmos em algumas ocasiões, é necessário curvar-se mesmo estando certo. Como as árvores esperam as estações e o animal espera o momento correto para atacar sua presa, não podemos nos exasperar, sermos meramente impulsivos e incontroláveis, é preciso ter muita cautela e evitar as inconveniências para se viver bem a vida. Pois uma atitude certa no momento errado, faz o correto ficar errôneo. O arrependimento é um sentimento duro de ser carregado, ele nos atormenta, mostrando que as coisas podiam ser diferentes se não tivéssemos tido atitudes estúpidas. Toda vez que nos arrependemos temos a certeza que em algum momento erramos, seja em uma decisão ou atitude, impensada ou imprudente. Esse é um sentimento que nos corrói, como a ferrugem no ferro.

" 'Abrir mão' é negar um desejo, convicção ou vontade, para benefício de algo ou alguém. Não tem como ganhar sempre, às vezes é necessário decidir: ' ou se tem paz, alegria e amor, ou se tem razão'. Perder é um estado natural da vida, enquanto crescemos perdemos o colo para ganhar o caminho; perdemos o leite materno para adquirirmos os alimentos; já adultos perdemos a segurança dos nossos pais, mas ganhamos as possibilidades que o mundo nos traz. As perdas fazem parte do crescimento; não existe experiência sem perder o vigor, não há aquisição de conhecimento sem antes deixar o lazer; não há primeiro lugar sem treino. É essencial ser forte e maduro para extrair as lições do ganho, mas principalmente é fundamental extrairmos as lições das perdas. Só há ganhos através de perdas. É insano esperarmos só vitórias de vita, pois seus trejeitos são construídos na baixa. A pergunta a ser feita antes de se tomar uma decisão deve ser: O que é mais importante? Há uma possibilidade de arrependimento? Realmente devo fazer o que estou obstinado?

Quando se trata de pessoas é sempre bom primar pelo bem estar e harmonia do ser humano, ninguém sabe como será seu futuro, ninguém tem a certeza de que amanhã não dependerá de ninguém, quem é certo de que sua vida não mudará, mas continuará a mesma? Pensar no hoje e no amanhã nos livra do amargor de viver no arrependimento"

Meu avô, com sua voz embargada, enfim, falou o que tanto guardava em seu coração a dezessete anos.

- Eu que errei, há alguns anos fugi, e não quis admitir, mas uma hora você tem que pagar a conta e ser verdadeiro. O pai era eu, tinha que ter sido maduro e ter deixado Rob e Maura fazer suas escolhas, apenas aconselhá-los, pois já tinha feito minha escolha de vida; tinha casado com sua avó e decidido viver como achava correto. Antigamente eu era muito ignorante para fazer a escolha correta, era muito cauterizado pelo que achava e imaginava, e pensava que todos deveriam seguir o que eu via como correto. Pois tinha casado com uma moça de família afortunada e achava que meus filhos deviam fazer a mesma coisa, estava agindo só em meus interesses. Uma coisa aprendi com tudo isso, a uma grande diferença entre o que você quer, o seu desejo, sua visão do ideal, e o que realmente é bom e melhor para o outro, não devemos fazer o que achamos ser bom, mas o que realmente será melhor no momento, às vezes o melhor nos sangra, machuca, mas mesmo assim deve ser feito.

"Renúncia, será sempre: abandono de si, abnegação, desapego, isenção. As coisas não mudam, tempos vão, tempos voltam; em momentos abandonam, em outros reconhecem sua significância."

"De tanto insistir, um dia, o burro empacado aprende a seguir a direção de seu dono, sem resistência, sem obrigação; por obediência e submissão: enfim, um coração 'domado'".


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