V Respostas

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Sete dias depois já nos encontrávamos na beira do abismo. Estávamos desgastados. Ozannia e o Olavio tinham tido uma briga feia, mal olhavam um para o outro. Não lembro de enfrentar uma instabilidade tão forte. Tínhamos problemas, sim, mas aquele conflito e aquela confusão era demais para nós, todos estavam desesperados.

Dois dias antes, Olavio arrumava a lenha para preparar a comida quando Ozannia começou a reclamação.

- Não é assim, será que você não consegue fazer nada direito.

Em um súbito, ela puxou os gravetos de sua mão, esbravejando e mostrando como fazia. Eu estava lá fora terminando de preparar a carne. Não sei ao certo o que aconteceu, mas corri para dentro ao ouvir os gritos. Foi o suficiente para um expor as debilidades do outro; se não seguro Ozannia, a discussão terminaria em pancadas e socos. Tentando apartar acabaram me colocando na discussão. Resultado, Olavio saiu pela porta e só voltou no fim do dia e Ozannia ficou o resto do dia com a cara fechada. Foram dois dias horríveis dentro de casa, nem nos cumprimentávamos mais. Algo tinha que ser feito, urgente.

Cheguei a conclusão que tínhamos que sentar e conversar, ou mataríamos um ao outro.

Fui de um a um chamando para a sala. No início todos mostraram um certo bloqueio. Sentamos em roda nos bancos de madeira da sala, Ozannia estava à minha direita, Olavio a minha esquerda e Deivy na minha frente. Dei uma leve suspirada, juntei as mãos e comecei a falar:

- Sei que devia ter feito isso antes, mas tive receio, sei que não está fácil...

Ouvi Olavio resmungar, porém não entendi o que falava, dei uma leve pausa, retomei a concentração e voltei a falar.

- Não tem sido fácil para mim e para vocês, eu vejo isso. Não estávamos preparados...

Olavio se moveu bruscamente levantando-se do banco, indo em direção ao quarto. Senti impotente, chateado, decepcionado, estava tentando melhorar o clima que a dias estava horrível. Em um instante, senti algo dentro de mim gritar, seja verdadeiro, fale o que sente. Em um momento hesitei mas a voz persistia. Antes que atravessasse a porta expressei:

- Estou com medo!

Em alta voz e depois interroguei.

- Vocês não estão?

Dei uma pequena pausa e continuei.

- Eu estou.

Abaixei brevemente a cabeça, estava abatido, cansado e preocupado com a situação. Ouvi bem distante alguém sussurrar:

- Eu também estou com medo e cansada.

Levantei a cabeça e vi que era Ozannia, senti um alívio quando ela se expressou. Olavio voltou devagar e sentou.

- Não é fácil ser nossos pais.

Concordei com Ozannia dando um leve sorriso.

- É mesmo, concordo plenamente.

Ozannia prosseguiu:

- Estou preocupada. Já era para terem voltado, me pergunto onde estão. Não queria pesar vocês, só estou aflita e não sei o que fazer com isso. Não sei onde ir. Na verdade não há nada que possa fazer...

Olavio completou:

- Não há nada que nenhum de nós possamos fazer.

Ozannia continuou a falar, acho que ela precisava desse momento, de desabafar. Onde cada um pudesse contar seus medos. No final ela pediu perdão, fez as pazes com Olavio. Fiquei contente e feliz por ter proporcionado esse momento.

Decidimos nos abraçar, Deivy ficou no meio, prensado entre nós. Estávamos rindo enquanto abraçavamos, quando Olavio deu um grito que fez meu coração disparar.

- Aaaaaaarrrra!

Olhei para ele com meu ouvido ainda zumbindo. Ozannia lhe batia e esbravejava, ninguém tinha entendido nada. Voltei a olhar para Olavio, seus olhos brilhavam, sua feição era de total alegria, seus olhos se arregalaram. Então em um instante sai da paralisia quando ouvi Olavio falar aos gritos.

- O paaaaiiiii, aaaarrraaaa, eles voltaram, acaboooouuuu! Acabou Ozannia, não terei mais que te aturar.

Virei devagar, parecia um sonho, tudo tinha ficado mais lento. Deivy corria aos pulos, podia contemplar seu cabelo pra lá e pra cá. Ozannia se esquecia de Olavio, pairava com a mão no ar que descia para dar o último tapa em seus ombros. Sua feição mudou bruscamente, de raiva para plena euforia.

Eu fiquei extasiado, parado no meio da sala, enquanto contemplava meus irmãos entalados no portal por que tentavam passar juntos. Sim, era a carroça de meu pai e seu cavalo bege. Meus irmãos estavam em plena euforia lá fora, ouvia timidamente a voz de meu pai que tentava acalmá-los.

- Ufa!

Liberava meu último suspiro de preocupação, para substituir por alívio. Enfim o pesadelo acabava, meus pais voltavam ao lar.

Percebi que aos poucos o burburinho de fora diminuía, os ânimos se acalmavam. Rápido demais pensei. Fui até a porta, o vento estava um tanto forte. Estava meus irmãos, meu pai e um senhor, todos parados em volta da carroça.

Antes que desse o primeiro passo em direção a carroça, meu pai e os meninos vieram de encontro a porta de nossa casa. Encostei no portal, observei que meus irmãos olhavam para baixo, parecia que o brilho tinha sumido de seus rostos, pareciam refletir. Seja o que fosse, saberia agora. Estendi a mão para o pai e pedi a benção lhe abraçando. Aquele era o melhor abraço de toda a minha vida. Quis chorar, mas segurei a lágrima que tentava sorrateiramente escorrer. Todos entramos, até o senhor baixinho, tive curiosidade de perguntar quem era, mas meu pai tinha terminado de chegar, precisava dar uma descansada. Enquanto pai preparava o banho o que era extremamente estranho, estava muito tarde; e nós organizamos a comida para que todos se alimentassem. Minha cabeça entrou em plena confusão de pensamentos. Quem era aquele senhor? Onde meu pai esteve estes sete dias? Cadê minha mãe, por que ela não veio? Onde ela estava? Tentava ter controle sobre meus pensamentos, mas em um minuto de bobeira tudo voltava. " Calma Darwin, logo terá respostas, já ficou sete dias sem informação, não vai ser agora que vai se desesperar completamente, respira", estava eu a falar comigo.

Pai estava cansado, abatido... acabado. Sentou-se em sua cadeira de madeira que reclinava e comeu como se estivesse com muita fome. O clima estava estranho. Eu e meus irmãos nos entreolhamos o tempo todo, acho que todos queríamos respostas, mas ninguém tinha coragem de fazer a primeira pergunta, o ambiente estava tenso. O Pai nem levantava a cabeça, algo havia de errado, vi ele andar de cabeça baixa pouquíssimas vezes, nenhuma dessas foi coisa boa. O que viria? Poderia ser pior?

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