IV Saindo do ninho: o primeiro voo do pássaro

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Lembro-me do primeiro ensinamento que meu pai me deu aos seis anos de idade. O voo do pássaro. Durante seis semanas observei um ninho. Meu pai disse que era um beija flor. Que ser lindo e angelical, de uma beleza rara e habilidade extraordinária. Lembro-me como hoje, era tão gracioso, seu corpo pequeno seu bico grande, olhos atentos, sua plumagem verde, sua cauda um pouco mais escura e perto de seus olhos e na extensão da frente de seu corpo manchas violeta e azul, as vezes parecia uma cor as vezes outra, tudo dependia da luz presente no ambiente. Era tão rápido, que num piscar de olhos se perdia de vista. Como pode um animal com aquela destreza? Pairava no ar como se nada o atingisse, mudava de direção no exato momento que decidia, como era lindo, espetacular, um show da natureza. Quando achamos o ninho ele já estava quase sendo concluído para receber os ovos. De pouquinho em pouquinho ela trazia cascalhos no bico e colava com sua saliva, uma verdadeira obra de arte que exigia paciência e persistência. Ao fim do trabalho sentou-se e ficou ali quietinha. Lembro-me que ficava questionando o que estava acontecendo, se o pássaro estava dormindo, se estava bem. Meu pai apenas respondia, observe, tem coisas que só precisamos observar para obter a resposta que desejamos. No outro dia fiquei maravilhado ao ver que havia um ovo ali, pequeno e frágil, fiquei tão empolgado, meu pai tinha que me vigiar constantemente para não tocar no ovo. Então dois dias depois havia outro ovo e o beija flor estava ali, deitado sobre os ovos. Me questionava, como não quebrava? o que tinha ali dentro? seria um pássaro? mas era tão pequeno.

Por alguns dias o pássaro estava intacto no ninho até que em uma manhã a surpresa aconteceu, meu pai me chamou e mostrou o que ocorrera. Dois pequenos seres, feios e sensíveis, estavam no ninho com a boca aberta.

-Nossa, como eram feinhos!

Sua pele transparente, seu corpo liso, seus olhos nem sequer abriam, desajeitados não paravam em pé. Porém o ovo tinha finalmente se rompido, o filhote saia de sua casca, tinha rompido sua redoma, seu mundo particular, para estar em um mundo novo, real, em nosso mundo.

Durante dias o beija flor vinha alimentar seus filhotes, sumia por um tempo e voltava com o alimento. Os pequeninos abriam a boca toda vez que sua mãe aparecia. Com os dias e passar do tempo as penas iam aos poucos aparecendo e o filhote de beija flor ia ganhando forma, seus olhos se abriam, sua pele ia ficando mais resistente, menos fina, eles iam enfim se transformando, mudando, se tornando parecidos com seus pais. Diferente do que imaginava eles não nascem já voando, na verdade nascem tão frágeis que era transgressor vê-los.

"Contudo, neste processo aprendem e se transformam porque está em seu DNA, em seu sangue. Não tem como não ser pássaro, não existe a possibilidade de alteração em sua forma e características."

Após alguns dias de observação, uns bons dias, os pássaros já formados, mas fortes e com sua penugem estruturada, começam aos poucos a movimentar suas asas.

- Antes nem pareciam pássaros, agora já começam a bater suas asas, já se preparando.

Após alguns dias sondando o ambiente e suas habilidades, o primeiro logo arriscou a dar seu primeiro voo. Olhei no ninho e só encontrei um filhote, logo meu pai apontou para a árvore e mostrou o passarinho lá. Seus primeiros voos eram curtos e rápidos, sua mãe continuava a lhe alimentar. Após alguns dias seu irmão também saiu do ninho arriscando um breve voo. Então alguns dias depois cheguei lá e o ninho estava vazio, não havia mais nada ali, fiquei um pouco triste mas também feliz, pois agora eles estavam finalmente livres para ir e estar onde quiserem. Após todo o processo e desafio estavam no céu a voar, aproveitando as maravilhas do mundo e da natureza, enfrentando mais desafios, diferentes do que no início de seu nascimento, porém enfrentando animais, lugares, migrando quando necessário.

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