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- Resumidamente eles tiveram um dia produtivo.
- Então meu filho! A primeira vez que veio aqui não pude deixar de perceber sua afeição pela minha parede de recordações.
Falou ela sorrindo.
- Venha! Venha! Dê uma olhada nesse trem do tempo.
- Trem?
Ela olhou para mim sorrindo, dessa vez um sorriso bem intenso, daqueles que deixam marquinhas no rosto. Achei engraçado, enquanto ela sorria não bocejava som, na intensidade de seu riso era para sair ao menos um simples barulho, nem que fosse baixinho, observando foi essa a impressão que tive.
- Venha logo, o tempo passa rápido meu rapaz.
Ela me mostrou meu avô, Rosireu, a qual já tinha reconhecido. Me mostrou ela, Dona Margarete, me fazendo assustar com sua formosura e delicadeza.
- Como ela quando nova era linda, eu não tinha lhe reconhecido. Seus cabelos negros longos, cheios e ondulados, seus olhos azuis marinhos, seu corpo finíssimo.
Hoje seus olhos são tão pequenos e estreitos que não havia observado que eram tão azuis assim. No geral, a maioria das fotos eram em preto e branco.
Tia Maura trouxe um cafezinho para nós na sala. Quis ficar por ali mas minha avó logo deu serviços para fazer, provavelmente para que ficasse bem ocupada e bem longe da sala. Não precisava ficar muito tempo com minha tia para observar o quanto ela amava conversar e se meter em conversas alheias.
- Vejo em seus olhos que tem muitas perguntas para fazer, e pretende esclarecer algumas coisas, estou certa?
Sorri gentilmente pois tinha a certeza que amaria estar em sua presença, ela parecia ser agradável, inteligente e gentil, qualidades a qual amava e venerava.
Dei um gole no café e falei:
- É tão claro assim?
Ela sorriu calorosamente e acrescentou:
- Meu rapaz! Conheço olhos espoletos e uma alma inquieta de longe.
- Então, se esbanjar de tempo, fala-me tudo.
- O que uma velha como eu faria de tão importante do tempo que lhe resta? Só contar histórias e lamentar, meu rapaz.
Sorrimos tranquilamente, ela era bem humorada.
Juntou suas mãos na frente de seus olhos como se pensasse por onde começaria.
Eu me ajeitei na cadeira e me preparei para absorver tudo.
- Como começar essa história sem ser pelo seu avô? Impossível.
Seu avô era o sexto filho de uma família até que importante do Rio de Janeiro, o pai dele, seu Ramires era um forte comerciante da época. Era casado com a jovem mais bela e prendada da região, a dona Carolina. Pelo menos esses eram os boatos em relação a família. Seus seis filhos eram super disputados por todas ou quase todas as meninas da região, e suas filhas eram paparicadas pelos rapazes.
- Vamos ao que interessa certo! Seu avô.
Em uma tarde de julho, mãe mandou que eu e meus irmãos arrumássemos pois teríamos um jantar importante - Negócios de papai! Tínhamos que estar apresentáveis, se não, perfeitas. Lembro que não queria estar ali, aquele ambiente era enojam-te e enfadonho para mim, ver as pessoas andando para lá e pra cá fazendo a dança dos interesses, eu achava isso insuportável.
Dei um leve sorriso colocando a mão na boca e tirando rapidamente, pois compreendia aquele sentimento.
- Alguns eram tratados por senhor. Era senhor daqui, senhor de lá, que família primorosa! Outros eram tratados como um enfeite qualquer do salão, cada um procurando seus próprios interesses, sua isca perfeita para alcançar seus objetivos e pretensões. A idealização da alegria refletida no quanto possuo, tenho e mostro ser, e uma verdadeira farsa.
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Voo | O chamado
RomanceNós, seres humanos, somos tantas faces e tantas cores. Somos euforia, alegria, determinação, esperança, um oceano de possibilidades. Mas, em alguns tempos também somos revolta, raiva, angústia, medo. O personagem (Darwin Kay) exemplifica bem isso...