X Uma nova perspectiva

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O dia amanhecia e eu já estava acordado, antes do sol despontar no horizonte já me encontrava virando na cama de um lado para o outro. Inúmeras questões me acompanhavam, após uma noite de sono tudo se tornava mais claro e ao mesmo tempo mais estranho e diferente. Meu pai parecia conhecer aquele lugar. Ele cresceu ali? Por que tinha saído dali e optado viver isolado em nossa antiga casa? Lembro-me de ter lhe ouvido falar, "...Vamos para a vila onde vivem meus pais e irmãos.", sua voz parecia ecoar novamente.

- Pais?

Quer dizer que minha avó e meu avô moram aqui, assim como meus tios e tias? Isso era muito bom, sempre quis conhecê-los.

Tudo isso me deixava tão empolgado que não conseguia aquietar-me. Logo levantei e fiquei mais um pouco a admirar minha casa nova. Abri uma fresta da porta, algumas pessoas andavam pela rua, abri devagar até contemplar todo o cenário.

O céu azul com poucas nuvens, as árvores verdinhas no meio da vila, as pessoas que me olhavam curiosas. Um senhor do lado esbravejava com umas crianças:

- Seus moleques terríiiiiiveis! Todo dia isso, já falei para não pisar na frente de minha casa!

Fiquei um tempo olhando a cena. Os meninos riam e faziam graça com o senhor. Em um instante falei:

- Vão procurar o que fazer, deixem o senhor em paz!

Os meninos me olharam surpresos, fiz com a mão para se retirarem, então o senhor se virou para mim e resmungou:

- Vai cuidar da sua vida, não pedi para me ajudar. Esses moleques, são assim, no dia que pegar eles.... a ...... mas eles .....me pagam.........

Ele entrou em sua casa resmungando e falando coisas que eu nem entendia. "Que senhor mal educado, tanto quanto os meninos." Resolvi adentrar a minha casa, pai talvez se incomodasse de me ver na porta, era um ambiente novo.

Não me aguentei. Assim que pai acordou fui tirar algumas dúvidas. Pai estava na cozinha, colocava a água na rabinha para coar o café.

- Bom dia pai!

Fiz o ritual de costume. - Bença pai! Era uma tradição familiar.

- O dia está bonito e a rua movimentada.

Pai se virou levemente para mim.

- Já foi lá fora?

- Fui até a porta e entrei novamente, acordei bem cedo com algumas questões.

Ele logo resmungou:

- Uhm Darwin! O que quer perguntar?

Sorri levemente abaixando a cabeça meio constrangido.

- Nada pai, só estava pensando em algo que o senhor falou.

- O que eu disse que te levou a pensar?

Ele agora se virava e olhava para mim pondo o bule na mesa. Eu desviava o olhar:

- Lembrei que o senhor disse que aqui estava sua família e por isso veríamos para cá.

Estendeu-se um silêncio desconcertante, por um minuto pensei que pai fosse fingir que não tinha dito nada, que iria desconversar, porém depois de um tempo me respondeu.

- Sim Darwin, no momento certo falarei sobre isso.

Meu pai não estava muito empolgado em falar de sua família; o que teria acontecido? Não quis insistir no assunto. Dizem que quem fala demais ouve o que não quer; esperaria o momento certo.

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