IX Conhecendo o novo lar

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Estávamos a horas andando mato a dentro, nos encontrávamos exaustos, o silêncio era nossa companheira em toda a trajetória.

Após um tempo o senhor em seu cavalo começou a sussurrar algumas letras.

Ele agora quebrava o longo e profundo silêncio que muitas das vezes são carregadas de profundas emoções e vastos pensamentos, e por não haver palavras que resuma ou manifeste com exatidão acaba resultando em silêncio...

"Quando nos calamos e por que as palavras acabaram ou deixaram de ter relevância em expressar o que sentimos. Nosso sentimento é bem mais vasto que os números de palavras existentes. Sim, em média 370 mil palavras não são suficientes para expressar o oceano que habita em cada ser e seu mundo particular"

Ele cantava alguma coisa, tinha uma voz boa, leve. Seu canto foi refrigério para a minha alma, a música sempre soou familiar para mim, pois era a melhor forma de expressão, fosse na alegria ou tristeza. Minha mãe tinha a facilidade de iniciar letras que exemplificavam nosso dia, quase sempre ao ir no rio ou no fim da tarde cantávamos alguma canção. Ozannia logo pegou o refrão e começou a sussurrar baixinho, lhe cutuquei e disse:

- Cante, cante alto, quero te ouvir.

O senhor gritou nos assustando. Fazendo nós dar um salto na carroça.

- Cante, cante andorinha! Quem canta seus males espanta, cantar lava a alma!

Em um coral entoávamos o mesmo refrão.

🎶Aaaaah Não adianta me tirar de lá

Mesmo que saia dali, ali é meu lugar

Meu coração foi plantado lá, aaaah


Aaaah Nas terras de amores meu coração sempre estará

Onde estiver minha raiz eu também não saio de lá

Onde estiver minha raiz eu também não saio de lá

Onde cresceu as plantas debaixo de meu pé, meu coração também estará.🎶

....

Não sei se ele criou a letra ou não, mas ela era perfeita para o momento, me senti abraçado. A música agora parecia fazer parte de mim mais que antes, ela falava e tocava mesmo quando ninguém ou nada o podia fazer.

Todos já estávamos agoniados, Deivy não parava quieto, ficava perguntando se estava chegando. Já estávamos a horas na estrada, o sol começava timidamente a se pôr, se esconder atrás da colina, o dia já acabava dando espaço para a noite. O senhor também se encontrava calado, seus ombros caídos indicavam seu possível cansaço.

Eu só queria ver, que lugar era esse, estava ansioso para chegar nesse "novo lar".

Minutos depois ouço pai falar:

- Olhe meninos!

Ele apontava para o horizonte que estava avermelhado.

De longe podíamos ver várias casas.

Perguntei me virando e inclinando para meu pai:

- Lá é a nossa casa? Mas, para que, aquele amontoado de casa?

Pai se virou levemente para mim, deu um leve sorriso e respondeu:

- Sim! Nosso lar está lá. Quando chegar, você irá entender.

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