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Sem saber, neste instante virava homem: ser homem não é um título, um status ou amuleto para se carregar. É um estado irreversível genético e estrutural. Todo o meu corpo (em sua plena estrutura) e hormônios denunciam essa condição.
É como querer dizer que uma flor em toda a sua estrutura e genética não é uma flor, um trabalho totalmente desnecessário.
Não só isso, a necessidade de garantir a proteção, o equilíbrio e o sustento; este instinto protetor: a necessidade de posição clara, palavras completas e honrada, termos claros estabelecidos, dar o sangue até o último ato, não retroceder em hipótese alguma, ser uma barreira forte e imponente. Eu nem sabia que tudo isso estava dentro de mim, até o dia em que me posicionei como um "homem".
Meu pai havia dado o que tinha, agora era minha vez de dar "O Nome" e iniciar minha jornada.
"Nunca se sabe o que te reserva na próxima curva, estar preparado para assumir uma posição é essencial para não perder oportunidades e não viver como quem lamenta sempre. Afinal, a curva é uma realidade, como você se comporta perante ela é uma escolha."
"Escolhas são escolhas, boas ou más e o que irá diferenciar o resultado final. No caminho da vida todos colheremos os frutos de nossas escolhas, colheremos até não restar nenhuma."
"Dava para piorar? Poderia despencar mais algum degrau?" havia feito esta pergunta para mim quando tudo acontecia na cozinha de casa. A resposta era sim, dava para despencar mais um degrau, como despencou, e eu não sei quando isso acabaria.
Uma semana após todo o ocorrido, eu e Ozannia já não contávamos mais com o retorno de nosso pai, depois do ocorrido ele pegou o cavalo e saiu cavalgando loucamente fora dos portões da cidade, foi o que contaram para mim. Só que ele não havia retornado após isso, e eu acho que não retornaria. Foi muito humilhante e constrangedor para ele, sabendo quem era nosso pai, eu e Ozannia chegamos a conclusão que ele acha que estaríamos melhores sozinhos. Ele já havia falado sobre isso. Que não sabia se daria conta de tudo isso, é que Olavio estava insuportável, provavelmente não daria conta de lidar com tudo. Foram poucas palavras, meu pai era homem de poucas palavras, me pergunto se talvez isso não contribui para chegarmos no poço em que encontrávamos, não sei, não sabia de mais nada, parecia tudo confuso.
A questão era que meu pai estava errado, estava sego pela dor de perder a mulher amada, e nem conseguia ver que nós também havíamos perdido nossa mãe, não conseguia ver que não ter ele era pior que ter. Aliás, se ele não sabia lidar com Olavio, quem lidaria? Isso me preocupava.
Olavio apareceu no outro dia após o corrido, estava super desconfiado, acho que sondava se meu pai estava em casa ou não, após ver que pai não estava permaneceu alguns dias, mas eu não sabia até onde podia segurar as pontas.
Eu continuei trabalhando na plantação e Ozannia cuidando da casa e de Deivy. Por mais estranho que pudesse aparentar, não tocamos no ocorrido, apenas falamos sobre como nos portaríamos de agora em diante, como organizaríamos a casa e as funções. Não que Ozannia não tivesse tentado tocar no ocorrido, eu quem encerrei o assunto, o que tinha acontecido deveria ficar para trás, prosseguiríamos com nossa vida.
_ Darwin estava anestesiado. Era uma forma de reação diante a situação, mas poderia ser perigoso. A revolta silenciada pode gritar e tomar o controle no momento em que menos esperamos.
Nesta última semana eu simplesmente não me reconhecia, minha cabeça estava silenciosa, tinha se calado, não conseguia pensar em nada, nem revolta, nem raiva, tristeza, nada, parecia simplesmente estar vazio.
Ao voltar para casa, depois de um dia de trabalho, deparei-me com minha avó na sala. Diante todo o ocorrido ela estava mais presente, mas diferente de antes, não havia dado muita abertura, estava evitando conversas. Notava que ela rondava, na esperança que Rob voltasse para casa. Uma tola esperança.
Cumprimentei em um ar cansado e fui para o quarto para me lavar e trocar de roupa.
Depois me sentei na sala em silêncio enquanto minha avó em minha frente brincava com Deivy.
Eu olhava fixo para o nada.
- Darwin - dar-win - ei! Darwin.
Ao perceber que alguém me chamava, sentei sobressaltado na poltrona perguntando.
- O que foi?
Minha avó olhava fixo para mim.
- Tudo bem?
- Tudo.
Respondia vagamente.
- Só estou cansado.
Me levantava e ia até a cozinha, a fim de saber se a janta estava pronta.
- Ozannia.
- Sim!
Respondia Ozannia se virando rapidamente com uma concha na mão, fazendo respingar feijão na cozinha.
- Cuidado com essa concha, não vai querer se queimar.
Ela rapidamente se voltava para a panela e dava um sorriso sutil de canto, como se estivesse desconcertada.
- A janta está pronta?
Perguntava me sentando à mesa.
- Em breve estará. Me dê mais alguns minutos.
Olavio como sempre estava sem paradeiros, ninguém sabia onde ia, e muito menos quando voltava.
O fim daquele dia, era tudo o que desejava. Meu quarto, o silêncio. Sem ninguém, sem problemas, sem preocupação, sem possíveis "ameaças".
Deitado em meu quarto, por um minuto o silêncio de minha mente era enfim interrompido com algumas questões urgentes, "o que eu faria? Tinha Ozannia, Deivy, que ainda era muito pequeno, e o irresponsável do Olavio. Como cuidar de tudo? Deivy ainda precisaria tanto do meu apoio, ele era simplesmente uma criança que precisava de muitos cuidados. Se meu pai não deu conta da pressão, o que faria ser diferente comigo?"
Andava muito pessimista ultimamente, mas não conseguia lutar contra isso, eu simplesmente não via nem uma luz no fim do túnel.
Quando essa nuvem ira passar da vida de Darwin?
Será que ele vai saber lidar com tudo isso?
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Obrigado por ler até aqui, acompanhe os próximos capítulos para não perder importantes respostas😉
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Voo | O chamado
Storie d'amoreNós, seres humanos, somos tantas faces e tantas cores. Somos euforia, alegria, determinação, esperança, um oceano de possibilidades. Mas, em alguns tempos também somos revolta, raiva, angústia, medo. O personagem (Darwin Kay) exemplifica bem isso...