Capítulo #03: Aquele sobre a heterossexualidade compulsória

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Sugestão de música: Hello Bitches - CL

Por outro lado, no colégio, era outra pessoa que tentava mexer comigo. Giulia... Ela era uma garota complicada. O que eu sentia por ela? Nem eu mesmo sei direito, talvez fosse uma admiração por ela ser considerada a garota mais bonita e legal da nossa turma, mas ela era tão cheia de si que eu ficava com preguiça! Meu melhor amigo me proibia de conversar muito com ela, pois sabia da personalidade manipuladora daquela menina. É claro, Davi também era extremamente ciumento e possessivo comigo (vivíamos em uma amizade tóxica, com muitas idas e vindas, não éramos nada maduros para mantermos qualquer vínculo entre nós e assim foi durante muitos anos, voltamos a conversar apenas depois do colégio depois de nossa grande briga).

Por mais complicada que ela fosse (e totalmente convencida de que tinha o mundo aos seus pés), Giulia era uma pessoa divertida de se conversar, na maior parte do tempo. Tínhamos papos leves e tranquilos - talvez esse fosse o motivo de eu tentar confundir nossa relação amigável com "algo além" - e ela não me enchia o saco sobre relacionamentos ou algo assim (tirando a época em que conversávamos sobre minhas descobertas sexuais). 

Assim, não era complicado dizer (ou melhor, mentir) para as pessoas que ela era minha "crush" (admito que acho esse negócio de "gostar" de alguém na adolescência uma coisa extremamente esquisita. Afinal, parecia uma necessidade ter essa quedinha por alguma pessoa, mas o que significava isso? Porque eu gostei de muita gente na vida, mas isso nunca quis dizer que eu quisesse ter algo com tais pessoas) quando vinham me fazer a maldita pergunta esperando por uma resposta super hetero.

Tínhamos certa conexão e, naquele período, eu ainda acreditava que relacionamentos só eram possíveis entre pessoas de sexos (ou gêneros, como aprendi alguns anos mais tarde) opostos. Eu estava bem enganado.

Por conta disso tudo, me lembro de quando Emílio, um garoto que se dizia meu amigo, mas que odiava minha proximidade com Davi (e, consequentemente, me odiava quando estávamos bem um com o outro), pediu que eu me afastasse de Giulia, já que eu poderia me machucar porque ela claramente era apaixonada por outra pessoa. 

Era esquisito, naquela época, todos os sentimentos que aquele pedido me trazia. Na verdade, eu não me importava muito. Meu único medo era que Giulia deixasse de ser minha amiga (ou colega mais próxima) por estar com algum outro cara. O fato de eu ser impedido de ter um relacionamento com Giulia nunca foi doloroso de verdade para mim. A única coisa boa de me imaginar estar com alguém como ela (ou seja, em um namoro heterossexual) era saber que não existiriam impedimentos para nós e Giulia sempre estaria por perto, de certa forma.

Honestamente, me imaginar em uma relação com uma pessoa do sexo (ou gênero) feminino era fácil demais, talvez até entediante.

No terceiro ano do meu ensino médio, comecei a fazer descobertas ainda mais interessantes sobre minha própria sexualidade. Se no ano anterior eu tivera me apaixonado (ok, me interessado brevemente) por alguém que não dava a mínima para mim – e me entendera como garoto que não queria beijar garotas –, naquele momento da vida descobri que meu lance provavelmente realmente eram meninos, de certa forma.

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