Sugestão de música: Tempos de Glória - Jão
Depois de começarmos a namorar, Eduardo aceitou ir comigo nas reuniões da igreja nos períodos em que eu estivesse na cidade. Ele sabia quão importante era para mim participar delas, e, com muita insistência inicial, começou a frequentar mais vezes. No início, não dissemos nada a ninguém além dos nossos amigos mais próximos (que, naquela época, significavam Vitória, Rodrigo e Heloísa), mas eu tomei a coragem de ir conversar com o pastor do nosso grupo.
A partir do momento em que abrimos a boca, já decididos a sair do armário para alguém, as coisas parecem correr rápido demais e, ao mesmo tempo, sentimos que tudo para.
Não foi surpresa alguma para o mensageiro que eu fosse gay e Eduardo, meu namorado (afinal, um ano antes, meu pai me fizera conversar com ele sobre minha orientação sexual, após uma tentativa horrível de sair do armário), e ele prometeu estar ao nosso lado para o que fosse necessário, até mesmo nos ofereceu a bênção divina (algo pelo que eu jamais esperei receber de alguém tão importante como ele). Continuamos a participar das reuniões com tranquilidade, sem precisar esconder a aliança sempre que um conhecido aparecia por perto de nós.
Em menos de uma semana, tomei coragem de tentar, outra vez, dialogar com meu pai. As coisas não foram boas, mas também não foram piores do que eu havia imaginado. No início, ele ficou chateado por eu ter decidido estar com alguém de longe (considerando que em breve eu teria de voltar à cidade da faculdade) e comentou que, no futuro, não teria problema algum caso eu decidisse estar com algum homem (segundo ele, "mesmo que eu seja crucificado por isso, não me importarei com suas relações"), contanto que eu não abandonasse os estudos por conta disso.
Por mais que eu tenha ficado chateado com a posição tão radical de meu genitor, também era capaz de entender seus pensamentos. Afinal, eu estava cada vez mais dentro do universo da faculdade, em outro estado, enquanto Eduardo ainda nem parecia tão certo do que gostaria de fazer. Além disso, meu pai ficava maluco por achar que o rapaz não tinha qualquer perspectiva de vida, como se tudo o que o envolvesse fosse quase sem futuro.
Depois de termos tentado conversar algumas vezes sobre isso, mesmo eu tentando colocar na cabeça de meu genitor que Eduardo jamais seria o responsável por me fazer abandonar o sonho de ser engenheiro (na verdade, ele, como meu namorado, era meu maior apoiador para seguir nessa jornada) e que eu saberia ser responsável para manter uma relação equilibrada com os estudos, ele ainda não estava totalmente convencido das nossas intenções como casal.
Àquela altura, eu já estava com muito menos atração (física) por Eduardo do que algumas semanas antes desses diálogos, mas eu realmente queria mostrar ao meu pai que não estava totalmente errado em tentar estar com alguém que me respeitasse e me amasse da forma como eu era (e, claro, a família dele me adorava, então eu sabia que sempre teria esse carinho se estivesse em uma relação como a que tive ao lado dele). Meu pai, no entanto, sempre era irredutível quando se tratava de Eduardo.
Em um desabafo, após ver meu namorado de forma tão tranquila entre meus amigos da igreja, meu pai decidiu ser totalmente sincero comigo. Por meio daquela conversa, percebi que eu estava muito errado se achava que ele algum dia aceitaria Eduardo como genro. Na verdade, descobri que meu pai o achava estranho e reprovava algumas atitudes e comportamentos do garoto, não o considerava alguém bom para mim e, claro, achava que eu estava errado em estar com uma pessoa do mesmo sexo que eu (apesar do que dissera algumas semanas antes).
Apesar disso (e do fato de minha atração romântica por Eduardo também já estar por um fio naquele momento), eu tentei lutar por nossa relação perante meu pai (na verdade, eu ainda sentia, de certa forma, que era ele, então demorei mais alguns dias antes de admitir que já não estávamos mais juntos). Assim, tivemos uma conversa meio tensa naquele dia, mas que acabou terminando de uma forma razoável, ainda que meu pai definitivamente tivesse sentimentos negativos em relação a Eduardo.
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Ás de Espadas
General Fiction"Talvez você ainda não saiba quem eu sou, mas poderia me ver como um garoto esquisito que às vezes tem ansiedade em situações corriqueiras da vida, como uma simples fila de vacinação. Não sou a melhor pessoa do mundo contando histórias, mas falar se...