Capítulo #06: Aquele sobre o (verdadeiro?) primeiro amor

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Sugestão de música: Sucker - Jonas Brothers

Ainda no meu último ano do colégio, conheci aquele que se tornaria o grande divisor de águas da minha vida, mesmo que ele nem soubesse de todos esses impactos. Seu nome era Murilo e até que era um garoto normal, eu acho. Na verdade, não chegamos a nos conhecer pessoalmente durante muitos anos. Descobrimos a existência um do outro por meio de comentários em uma postagem da internet.

Quando vi a imagem que ele tinha (era o ícone de um artista que eu acompanhava muito naquele período), decidi dar uma olhada rápida em seu perfil. Ele não postava muitas fotos, mas as que vi, assim como suas postagens interessantes, foram o suficiente para me dar forças de enviar uma saudação àquele rapaz que parecia tão bacana.

Ok, preciso ser contra meus princípios de não julgar pela aparência e fazer exatamente isso sobre Murilo: julgar sua aparência. Apesar de não estar exatamente nos padrões "normais" (ou melhor, esperados) da sociedade e ser uma pessoa considerada comum, eu amava o visual dele. Primeiro: Murilo tinha os olhos escuros mais lindos e bem marcados que já conheci em toda a vida, além de um tom de pele azeitonado que dava inveja a qualquer ser humano (ele era quase uma mistura bem feita de Taylor Lautner - na época de Crepúsculo, claro - com um olhar que demonstrava sua ascendência em outras partes do planeta).

Honestamente, o rosto de Murilo era exatamente o tipo que mais me chamava atenção no aspecto estético. E ele era legal, então não foi tão complicado eu me interessar por tudo que o envolvia.

Em certo momento, comecei a vê-lo como um cara que seria incrível como algo além da amizade, mas eu ainda não sentia muita coisa por ele. Era como aquela curiosidade que tive ao estar com Davi, sabe? Conversar com Murilo era fácil, na maior parte do tempo (ainda que às vezes seu jeito acabasse sendo meio explosivo comigo e isso me deixasse assustado com tudo, com medo de que eu tivesse feito algo de errado), e parecíamos sempre nos entender tão bem.

Eu o via como um adolescente popular, ainda que eu não o conhecesse além do nosso próprio mundinho, então ele era como o rapaz inalcançável de 14 anos (porque ele era mais jovem que eu, tínhamos três anos de diferença) e eu me sentia como o tiozão da roda tentando ser parte da turma dos mais jovens. Ainda assim, sempre tive uma estranha sensação de que ele era areia demais para meu caminhãozinho (até porque é super errado dizer que uma criança, como Murilo era naquele tempo, era muito maduro ou avançado para o seu tempo. Ele só não tinha aquela mentalidade de uma pessoa tão jovem, entende?).

Mesmo assim, contra todas as possibilidades, decidi tentar dar uma chance aos sentimentos estranhos que eu sentia por Murilo e o pedi em namoro (ainda que, confesso, no início era mais como uma tentativa boba de ver como seria, mas fiquei feliz por ter funcionado). Incrivelmente, ele aceitou, dizendo que sentia o mesmo. Nosso relacionamento durou exatos cinco meses, treze dias, nove horas e vinte minutos, e grande parte desse tempo se tornou o melhor período que vivi em toda a minha vida (até o ensino médio, obviamente).

Estar com Murilo, ainda que virtualmente, era tão fácil. Ainda me lembro dos apelidos com que ele me chamava, de todas as declarações que recebia dele e até de algumas coisas que ele me apresentou naquele tempo (mas fingirei que esqueci tudo). Ele trazia uma paz enorme para mim e, depois de nosso término, passei por momentos de choro intensos ao perceber que tinha me apaixonado por ele (e pior: provavelmente isso aconteceu verdadeiramente quando já tínhamos o título de ex um do outro. Só damos valor depois da perda, sabe) e por não tê-lo mais como parte da minha vida amorosa.

Nossa relação acabou porque era tudo tão complicado como dois adolescentes apaixonados. 

Apesar disso, tivemos ótimos momentos, como no feriado de independência daquele tempo, quando fizemos uma ligação e pude ouvir a voz daquele que eu viria a perceber se tratar do... amor da minha vida? Ou talvez uma simples primeira paixão adolescente. Doloroso de qualquer forma. Desde aquele momento, decidi que os feriados de independência seriam bons para mim, de alguma forma, assim como fora no ano anterior ao conhecer a capital do estado ao lado do meu pai (a tradição foi quebrada no ano seguinte, nunca mais tive o feriado marcado).

Um dos detalhes que me fez cair de amores por Murilo de novo, mesmo que tenha demorado mais alguns anos para eu perceber isso, foi uma conversa que tivemos sobre sexualidade. Naquele período, ele me contou fazer parte do espectro assexual. Não fazia ideia do que aquilo significava, mas ele me explicou e eu fiz algumas pesquisas além dos nossos papos. Meu ex-namorado foi responsável por me ajudar em uma descoberta que mudaria a minha vida de forma maluca depois de novas pesquisas e experiências, mesmo que isso não acontecesse imediatamente.

Tivemos diversos outros papos maneiros sobre sentimentos e emoções durante aquele primeiro contato, como quando Murilo me falou que, às vezes, não conseguia demonstrar quando realmente se interessava por alguém (quase o mesmo que eu já percebi acontecer diversas vezes comigo, muito tempo depois) e acabava se afastando dessas pessoas. Talvez ele até tenha usado essa desculpa como algo para justificar sua frieza ocasional comigo. Infelizmente, hoje eu entendo esse distanciamento que meu querido praticava comigo de tempos em tempos (mas, como ainda não sou uma pessoa que passou pela terapia completa, ainda não sei lidar com isso e me sinto constantemente com medo de me envolver com alguém e perder o interesse sem querer, então decidi fazer parte do time que apoia a solidão eterna).

Além de meu namorado, Murilo era um dos amigos mais bacanas que eu tinha (sério, nossas conversas se enchiam de assuntos tão filosóficos e estar com uma pessoa que já estava na terapia... bem, era outra vida!), então foi bastante doloroso perder sua amizade também, ainda que tenhamos sido amigos por alguns meses depois do término. Claro, no início foi difícil e eu fui um péssimo "ex tentando superar tudo" para ele, não sabia como lidar com aquilo e fui um babaca na maior parte do tempo no primeiro (e talvez até segundo, terceiro, quarto) mês depois de tudo.

Como muitas amizades virtuais, perdemos o contato no fim daquele ano. Saí da internet por mais ou menos um mês para aliviar a mente, e não nos falamos por vários meses. Até chegamos a retomar o contato algumas vezes por meio daquela plataforma em que nos conhecêramos, mas eram coisas esporádicas que rapidamente terminavam de novo. Nossas conversas, ainda que rápidas e mais vinculadas aos comentários daquela rede, eram suficientes para me fazer receber uma nova dose de ânimo.

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