Sugestão de música: Religião – Jão
Já faz alguns meses desde a última vez em que vi Luísa. Soube que ela está feliz, conseguiu uma vaga no emprego que sempre sonhou e está numa relação sólida com um alemão incrível (segundo os nossos amigos em comum). Eu não sei como isso aconteceu, não sei em que momento aconteceu e não faço ideia se ela já o conhecia antes e, sinceramente? Eu não me importo nem um pouco. Fico feliz por ela, e espero que ela também esteja feliz. E principalmente eu espero que esse cara goste tanto de sexo quanto ela.
Pouco depois de encerrar aquela nossa relação, conversei com meu melhor amigo, o Frederico, sobre toda a situação, e ele me disse algo que me marcou profundamente: "não se preocupe tanto com a Luísa. Ela vai superar um término. É melhor do que vocês continuarem nessa mentira pelo resto da vida."
Desde então, me agarrei a esse pensamento em todos os dias em que meu coração tentou me sabotar e dizer que talvez eu tivesse cometido um erro ao terminar com ela. Até onde sei, foram momentos difíceis, mas a vida seguiu. E é exatamente assim que a vida deve ser, independentemente do que tiver acontecido no passado. O melhor é seguir.
De qualquer forma, a verdade é que a minha vida seguiu também, e foi de uma forma muito melhor do que eu poderia imaginar. Durante minha última viagem ao Brasil, eu (re) conheci o Eduardo, com aquele sorriso que me deixou encantado tantos anos atrás, com aquele jeito apaixonante e... me (re) apaixonei.
Além de termos nos reencontrado, essa viagem foi marcante por mais uma vez ter conversado com minha irmã sobre meus sentimentos. Por mais ocupada que ela esteja agora cuidando dos filhos, ela nunca deixa de me ouvir quando mais preciso. Dessa vez, o único conselho que ela me deu foi "está na hora de você viver a sua vida. A vida é sua, e ninguém tem a ver com isso. Nem mesmo os pais." E esse conselho foi exatamente o que eu precisava ouvir.
A vida é minha e eu sempre serei o responsável por toda a felicidade, tristeza e realizações que tiver ao longo dela. Afinal, se não eu, quem vai me fazer feliz? Foi por essa fala tão inocente que decidi, de fato, fazer o meu próprio destino de acordo com o que eu quero.
O Eduardo está lindo, e eu sou obrigado a retirar absolutamente tudo de ruim que já falei sobre esse garoto antes. Em conversas com o Frederico, eu percebi que o término com Eduardo nunca foi por falta de carinho, paixão, amor ou qual rótulo você quiser usar. Nós terminamos porque eu fui um covarde e não soube lutar por nós. Nós terminamos porque eu tive medo. Nós terminamos porque eu não o considerava tão valioso como ele realmente é, talvez eu até tenha sido um enorme babaca que nem sabia priorizar o que importava.
Nós terminamos porque eu não o soube amar.
E nós decidimos tentar novamente porque eu aprendi a me amar e a dar amor. Porque eu aprendi a me impor. Porque eu aprendi a, veja bem, viver a porra da minha vida sem me preocupar com as opiniões de ninguém. Naquele nosso primeiro novo beijo, eu esqueci o porquê tínhamos dado tão errado.
Eu fui tão injusto com ele, o critiquei muito mais do que ele merecia. Hoje vejo que o Eduardo é um homem de ouro, que está pronto a aceitar qualquer aventura que lhe seja imposta, e é um cara fenomenal com a família, faz de tudo pelos pais, irmãos e sobrinhos (e quem mais pedir por ajuda). Ele está a alguns meses de concluir uma pós-graduação em Inteligência Artificial no Marketing Digital (e não me pergunte o que isso significa, porque eu não faço ideia, só sei que ele manda muito bem no trabalho) e está pronto para os nossos próximos passos juntos.
Quando tínhamos vencido a barreira do "então, querido Eduardo... eu preciso te dizer uma coisa: talvez eu não queira te beijar tanto, talvez eu não queira te levar todos os dias para a cama, talvez eu não consiga te satisfazer completamente sexualmente, talvez... talvez... talvez...", eu descobri quão puro, livre e leve o amor pode ser.
Eu sei, eu contrariei todos os princípios do "não-retorno-ao-ex", mas quando se trata de Eduardo, as coisas ficam difíceis, ok? E o Frederico também me acalmou quando contei toda a história para ele... segundo ele, o problema seria se tivéssemos terminado por alguma traição. Como a única traição foi a vida, está tudo bem se reapaixonar pelo ex!
Agora, se eu dissesse que tudo foram flores desde que nos reencontramos, eu estaria mentindo. Apesar de Vitória e Rodrigo não quererem dizer com palavras, eu sei que não estão nada felizes com nosso retorno. Eles consideram minha relação com o Eduardo um erro – e hoje em dia eu me pergunto se isso é por Eduardo ser Eduardo ou por ele ser homem (por mais que eles tenham tentado, acho que algumas coisas ainda estão grudadas na mente dos dois). Foi muito difícil contar aos meus amigos sobre nossa relação.
Sabe quando o julgamento é tão óbvio que você o sente palpável com suas mãos? Pois foi assim a nossa conversa. Em momento algum eles me apoiaram. Disseram que eu deveria dar uma nova chance à Luísa, apesar de todos os seus defeitos ("todo mundo erra"; "ela só precisa de um pouco de paciência da sua parte"; "poxa, faz um esforcinho, não é tão difícil dar a ela o que ela quer").
De qualquer forma, o fato de não vivermos tão próximos até ajuda nesses momentos. Eu não posso simplesmente voar de um continente a outro apenas para dar um tapa na cara dos dois e mandar que pensem um pouco com o coração de um ser humano.
Agora sobre meu pai... já fazem alguns meses que não conversamos mais. Antes de tudo, meu pai sempre me enviava gifs e imagens bobas lembrando como me amava, mas depois que ele descobriu (por uma foto em que eu e meus amigos estávamos em um bar e o Eduardo também aparecia) sobre nós, parece que todo esse amor desapareceu. Evaporou.
Eu sei, ele precisa de um tempo. Eu só queria saber quanto tempo ainda vai levar para acabar esse tempo que ele precisa de mim. É dolorido não falar com meu pai – o meu maior parceiro desde que cheguei nesse mundo – por um motivo que me deixa tão feliz: o amor. Eu nunca vou entender essas pessoas que são capazes de virar as costas para a própria família só por causa de um amor "proibido".
Depois que Eduardo concluir sua pós-graduação, ele virá para a Alemanha, onde permaneceremos por mais dois anos de intercâmbio, enquanto decidimos quais os nossos próximos passos. Agora que estamos com uma vida mais confortável, é até mais divertido de pensar no futuro.
Agora que eu sou livre, é até mais divertido de pensar na vida. É divertido ver um arco-íris de liberdade e felicidade se estendendo onde antes eu só via o cinza e a escuridão.
Não foi fácil chegar até aqui, mas é tão bom finalmente ter atingido todos os meus planos de vida. É tão bom ser quem eu sou, sem medo do mundo. E é tão melhor viver tudo isso ao lado da pessoa que sempre esteve aqui, e só eu não vi. É indescritível a sensação de ser quem se é. E eu recomendo.
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Ás de Espadas
Ficción General"Talvez você ainda não saiba quem eu sou, mas poderia me ver como um garoto esquisito que às vezes tem ansiedade em situações corriqueiras da vida, como uma simples fila de vacinação. Não sou a melhor pessoa do mundo contando histórias, mas falar se...