Epílogo #02: Depois do fim

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Sugestão de música: Desculpa, mas eu só penso em você - Bruno Gadiol

Depois de tanto tentar mudar todo o mundo para que aceitasse meu jeito de ser, depois de tanto pensar que precisaria lutar horrores para viver um bom amor, depois de tanto me iludir com tantas coisas e pessoas ao meu redor, parece que tudo passou a fazer sentido na minha vida.

Depois de voltar ao Brasil e reencontrar meus melhores amigos, muitos deles começaram a ser sinceros comigo sobre o fato de não gostarem de Eduardo (e completando com "ele não era para você", "não sei o que você viu nele" e "ele não merece alguém como você". Também não sei como acabei me interessando por ele).

Além de "mal-encarado" (do tipo que só conversa com quem ele quiser, não está nem aí para os bons modos de cumprimentos, por exemplo), ele também era visto como alguém que não curtia banhos e higiene no geral (bom, não sou de julgar, mas sempre percebi alguma coisa no cabelo dele, só não sabia como avisá-lo), não era muito de se cuidar, muito menos se preocupar com o que os outros poderiam pensar dele.

Ao contrário de tantas pessoas que já passaram por mim, Eduardo só sabia me dirigir palavras de... carinho? Eu já não sei. Eduardo brincava sobre o fato de às vezes eu ter preguiça de um bom banho, mas começo a achar que era para esconder esse traço da personalidade dele próprio. Não me lembro de ele dizer que me achava bonito ou qualquer coisa do tipo, suas palavras sempre eram apenas de "eu gosto de você", "estou apaixonado" e algo assim, mas sabemos que nem sempre você precisa achar alguém lindo para amar essa pessoa, certo? (não que eu me incomodasse na época... seria difícil mentir dizendo que eu o achava bonitão, pois sei que não era isso o que meu senso estético dizia a mim).

Eduardo foi um erro, mesmo eu não querendo admitir isso a mim mesmo. Depois de tanto enrolar, com a falsa desculpa de querer "nos manter amigos", optei pelo distanciamento total dele, e minha vida está tão mais tranquila longe dele e daquele jeito falsamente positivo e verdadeiramente tóxico.

Ele vivia com um papo de "good vibes" e relacionamentos saudáveis, mas nunca me animou a me cuidar mais, a buscar por melhorias no meu corpo e em minha saúde. Ele sempre foi simplesmente conformado com a gente.

E hoje eu vejo como detesto pessoas simplesmente conformadas com a situação atual de vida.

Quero alguém que me impulsione e se sinta sempre impulsionado para cima, quero alguém que tenha ambições e não queira permanecer em um lugar, apenas parado.

E essa pessoa é Luísa.

Eu não sei nem por onde começar a descrever tudo o que se passou nos últimos meses com essa mulher. Se antes eu já estava apaixonado por ela, nossos últimos momentos juntos só vieram para confirmar aquilo tudo que já existia como suspeita em meu interior. Ela se tornou uma presença forte nos dias antes do meu voo de volta ao Brasil.

Ela me trouxe uma nova perspectiva de vida, me fez ver que existe um azul ainda mais lindo no céu do que eu poderia imaginar. Essa mulher fez verdadeiros milagres que nem alguns anos de terapia conseguiram. Eu não sei o que ela tem, mas posso afirmar que me enfeitiçou super bem.

A Luísa se tornou a peça chave para que eu aguentasse esse início de vida em um novo país, sem conhecer bem a língua, as pessoas e os lugares. Ela me levou a diversos bares e restaurantes, sempre tentando me fazer interagir com a galera por lá, me ajudou de tantas formas, foi responsável até por não deixar a bad dos fins de semana me atacar.

Ela sempre me elogiou, até nos dias em que eu estava claramente um filhote de cruz credo depois de passar por 12 horas de serviço combinado com os estudos, assim como eu sempre elogiei o sorriso encantador e aquele cheiro delicioso que ela exala sempre que passa por mim. Sou completamente apaixonado no aroma dela, de qualquer forma que seja. 

Essa mulher sempre me impulsionou a buscar meu melhor. Era ela quem me ensinou a me cuidar melhor, usar roupas mais bonitas, valorizar meu corpo (apesar de ele não ser perfeito, ela o ama. Já é uma valorização enorme!), sair da zona de conforto da preguiça e do sedentarismo, tirar da minha vida pessoas que não me fazem bem e também me fez querer lutar cada dia mais por nós, principalmente quando o mundo estava contra nosso romance de intercâmbio. 

Depois de nos aproximarmos cada vez mais, meus amigos deixaram de vê-la com aquela desconfiança antiga e passaram a entender minha... pré-namorada (naquele momento) como alguém que veio para ficar. Do mesmo jeito, eu também comecei a conhecer melhor e a me integrar ao grupo dela (claro, de uma forma extremamente tímida, porque esse é meu jeitinho) e isso tudo tornou aqueles dois meses em uma linda eternidade só nossa.

Pouco antes do meu embarque, Luísa e eu jogamos todas as cartas na mesa. Assim como eu, ela também já havia percebido que não sentia vontade de estar com outros caras (ou outras minas, claro, sem preconceitos) e que não fazia sentido buscar em outras pessoas algo que já tínhamos encontrado um no outro, então optamos por engatar em um namoro real oficial.

Foi uma surpresa decidirmos isso dessa forma, no último minuto do segundo tempo, mas eu já tinha na mente há muitos dias que quero essa garota na minha vida por muito mais do que esse último ano. Assim como eu, Luísa pretende continuar os estudos, então iremos tentar um intercâmbio juntos para a Alemanha.

Mais uma vez, me encontro em um ponto na vida em que não sei exatamente o que acontecerá, mas estou disposto a arriscar tudo pela oportunidade de viver esse amor pelo qual sempre ansiei (apenas não sabia que ansiava por algo tão tranquilo e espontâneo como foi comigo e com Luísa).

Agora, o que nos resta é criar planos para nosso futuro, enquanto aguardamos nossas cartas de aceitação de alguma universidade alemã. E depois disso, eu não sei o que acontecerá. Talvez tenhamos uma casinha no interior do país, vivendo com nossos três ou quatro filhos, exercendo nossas profissões e relembrando os velhos tempos (como aquele episódio em que tive que confessar a minha excelentíssima namorada que chocolate não é exatamente meu doce favorito, conto qualquer hora dessas).

Até lá, todos esses dramas que contei aqui parecerão (e, de certa forma, realmente serão) apenas histórias bobas de adolescentes, mas com o melhor final de todos: o amor e a alegria tomam posse no fim de tudo.

Agora, deixo o futuro nas mãos do Antônio que virá depois de mim e peço a ele que não cometa novos erros, principalmente em relação a essa garota. No fim, a gente está mesmo dando certo, viu?

Ás de EspadasOnde histórias criam vida. Descubra agora