Capítulo #16: Aquele com o Retorno da Primeira Paixão

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Sugestão de música: Ainda te Amo - Jão

Alguns meses após o término com Eduardo, encontrei um antigo fantasma do meu passado, aquele que ficou durante anos enterrado em uma caixinha no fundo do meu peito: Murilo.

Nosso encontro foi inesperado, ou planejado pelo destino – caso você prefira acreditar nesse tipo de coincidências –, mas também foi revigorante para mim, como se a vida estivesse me dando uma nova chance de entender quem eu verdadeiramente era (ou como se ela quisesse que eu ficasse ainda mais confuso sobre tudo o que passava em meus dias).

Durante uma viagem ao Rio de Janeiro, nas férias entre o segundo e o terceiro ano da faculdade, Murilo e eu esbarramos um no outro a caminho do Cristo Redentor. Tudo bem, talvez eu quisesse que nosso reencontro tivesse sido mais parecido com algo de filmes, quando, na realidade, acredito que ele nem me reconhecera.

De qualquer forma, recebi uma solicitação de mensagem por parte dele ao chegar no hotel ao fim da tarde. Naquele momento, não soube bem como reagir, pois nem havia pensado na possibilidade de retornar o contato com aquele que fora o amor da minha vida por tantos anos (também nunca fui o melhor em interpretar sinais, fossem de interesse, fossem de repulsão e estava confuso sobre os motivos que o levaram a entrar em contato comigo).

Sinceramente, senti que fosse uma brincadeira da vida. Afinal, depois do término com Eduardo, passei horas repensando em todas as minhas tentativas de relacionamento anteriores – obviamente, Murilo era peça fundamental naquilo tudo – e vê-lo ressurgindo alguns meses após o fim de tudo foi como um jogo sujo.

Apesar de todas as maluquices que passavam por minha mente e toda a ansiedade que acompanhava o fato de que ele realmente estava ali outra vez, consegui conversar com Murilo e retomamos o contato durante alguns meses naquele período. Falávamos sobre um pouco de tudo, assim como sempre fizéramos em nossa amizade, mas raramente comentávamos acerca de relacionamentos ou sentimentos – tirando alguns raros momentos de desabafo e quando decidi dizer que tinha me encontrado como parte da comunidade assexual por conta da ajuda enorme dele –, e por mim sempre esteve tudo certo.

Com esse reencontro, decidi falar com Davi. Apesar da distância existente entre nós, ele sempre foi a pessoa com quem eu conseguia conversar sobre sentimentos sem me sentir julgado e, bem, Davi era o único que ainda se lembrava de Murilo e que se importava comigo, então o vi como a primeira pessoa para quem desabafar sobre as dúvidas que voltaram a minha mente.

Mesmo com aquele diálogo, optei por não falar nada para Murilo sobre meus sentimentos estranhos. Afinal, eu já estava totalmente inseguro para relacionamentos naquele ponto da vida. Não que eu não gostasse o suficiente do rapaz – meu coração dizia que o amava da forma mais intensa e bonita possível –, mas me entender como alguém que sentia pouca atração romântica me fazia acreditar que jamais me envolveria com alguém (e, mais importante, que não seria necessário dizer a ninguém caso realmente me interessasse).

Meus sentimentos por Murilo – apesar de acabarmos nos afastando de tempos em tempos – sempre foram repletos de coisas boas, mas percebi que já não era dolorido para mim não o ter em minha vida, pelo menos não como meu par romântico. Eu adorava a amizade com ele, então escolhi mantê-la viva, do nosso jeitinho. Não tinha motivos para estragar tudo por causa de dois ou três meses, como aconteceu com Eduardo.

Afinal, o que poderia me garantir que eu seguiria totalmente interessado e dedicado a Murilo se estivéssemos em um relacionamento? Assim, pelo menos eu o teria por perto de mim, como meu amigo, e não precisaríamos jamais repassar pelos dramas de um fim.

Talvez eu tenha sido meio covarde em nunca ser totalmente sincero sobre meus sentimentos por Murilo, mas a experiência que eu tivera com Eduardo – a conexão enorme que tínhamos, o carinho, a paixão e tudo o que se desfez em tão pouco tempo – fez com que me questionasse se perder ele de mim seria um risco que eu estava disposto a correr em nome do amor romântico, e percebi que não.

De qualquer forma, ter Murilo como meu amigo outra vez era incrível. Assim como alguns anos antes, eu ainda sorria para cada mensagem que ele me enviava, ficava repensando nossos diálogos mentalmente enquanto não recebia suas respostas, pensava nele em momentos aleatórios, o imaginava na minha vida (e, é claro, Murilo era o garoto em quem mantive os pensamentos quando li o conto Te convidei para jantar), planejávamos viagens juntos, estávamos quase criando uma história alternativa para nossos futuros, sempre fui um grande idiota com aquele garoto.

Apesar de todas as sensações boas causadas por Murilo em mim, é claro que tínhamos nossas divergências. Muitos anos antes, compartilhávamos o gosto por alguns estilos musicais – acabei abandonando essas músicas com o passar do tempo, enquanto ele seguiu nessa linha – e tínhamos alguns outros interesses em comum, mas, quando nos reencontramos, éramos bastante diferentes um do outro. Era fácil gostar dele e era tranquilo discutir nossas divergências.

É claro que, caso estivéssemos juntos, eu sentiria falta de ter alguém mais convergente com meus anseios. Como não aconteceu nada disso, consegui ser amigo de Murilo na maior calmaria possível – o que também prova meu ponto de que não era necessário sermos um casal para ficarmos juntos – e aproveitei aquele tempo lindamente.

Nunca soube se Murilo sentia o mesmo por mim, assim como não descobri se ele sabia dessa grande paixão que sentia, mas sempre fiquei muito tranquilo com tudo isso. Fiquei feliz por todas as vitórias sobre as quais ele me contou, como a aprovação na faculdade, a conquista da carteira de motorista (apesar de ter procrastinado muito tempo para realizar) e até mesmo quando me contou sobre seus novos gatos (tudo bem, confesso que com isso eu fiquei chateado de não poder estar por perto. Tenho alergia a animais peludos, mas adoro brincar com eles de vez em quando, mesmo que precisando de um antialérgico logo em seguida).

Não sei bem como terminar este capítulo da história – talvez por ter sido tão importante para minhas descobertas pessoais e minhas decisões futuras –, mas tenho a certeza de que Murilo sempre será uma pessoa marcada carinhosamente em mim. Acima de qualquer sentimento ruim que eu tenha sentido no passado, me lembrarei das nossas boas histórias.

É incrível como seres humanos tão distantes (fisicamente) podem ser tão importantes na nossa vida.

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