Capítulo #08: Aquele com um novo melhor amigo

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Sugestão de música: Fugitivos - Luísa Sonza e Jão (ou qualquer uma dos artistas separados)

Ainda naquele ano, eu me tornei oficialmente maior de idade, o que não significa necessariamente que virei uma pessoa responsável ou fui preso no primeiro dia com 18 anos. Assim que passou meu aniversário, dei a entrada em toda a papelada necessária para conseguir adquirir minha tão sonhada (e sofrida) carteira de motorista. Por mais que meu aniversário seja no início do ano, demorei tantos meses para finalizar esse processo que já estava com 19 anos no fim (é o que acontece quando você tem medo e desânimo para enfrentar algo. Algumas reprovações depois, tive um alívio enorme ao ver o documento definitivo em minhas mãos).

Durante aquelas aulas, conheci Eduardo – o garoto que viria a bagunçar a minha vida e a minha mente de um jeito maluco –, algumas semanas mais velhos do que eu. Logo que o vi, tive uma curiosidade estranha sobre aquele rapaz. Ele não era alguém que o mundo (com seus padrões esquisitos e super exigentes de beleza) classificaria como bonito logo de cara, mas também não chegava a ser uma daquelas pessoas que você pensa ser feio assim que o vê. Ele era simplesmente... Eduardo.

Nos aproximamos de um jeito diferente e nada convencional. Quando soube sobre o colégio onde eu estudara no ensino médio, Eduardo me perguntou se eu já tivera sido atacado por lá ou usado algum tipo de droga. Achei sua aproximação peculiar e meio assustadora ao perceber quão mal visto era o bairro onde eu morava, mas dei uma risada fraca com aqueles questionamentos e decidi tentar dar uma chance para aquele garoto que parecia tão desvinculado do resto do grupo quanto eu.

Começamos a conversar depois que ele encontrou meu número no grupo de estudantes da autoescola. Logo de cara, eu senti que precisava descobrir sobre a condição sexual de Eduardo, mesmo que algo me dissesse que ele definitivamente não era hétero. Durante nossa primeira conversa, eu já desabafei tudo o que tinha sobre Murilo (pois é, dois anos depois e eu ainda estava totalmente apaixonado por ele, quase até mais do que antes) – mostrando claramente que também não era heterossexual –, e acabamos nos aproximando por meio dos meus lamentos.

Foi com Eduardo que tive grande parte das minhas experiências até hoje. No fim daquele ano, nós tivemos nossa primeira tentativa de beijo (e, alguns meses mais tarde, de um namoro, o qual durou menos de cinco dias porque eu simplesmente perdi o mínimo interesse que pensava nutrir pelo garoto naquele período) e aquela imagem se tornou meu maior pesadelo durante muito tempo. 

Não posso dizer que foi algo bom, porque não foi, e deixei isso bem claro a Eduardo em uma de nossas conversas sobre sexualidade. Eu ainda não me entendia totalmente, mas já conhecia alguns conceitos da assexualidade por conta de Murilo, só não sabia que poderia me encaixar em toda aquela história. A única certeza que tive, por meio daquele beijo, foi que aquilo era estranho demais e eu acreditei que jamais seria capaz de curtir algo assim (eu estava parcialmente correto dessa suposição).

Acima de todas essas tentativas esquisitas, Eduardo sempre estava disposto a me ouvir, até mesmo ajudar, e se tornou meu maior confidente (claro, nossa semelhança em diversas áreas também auxiliou muito para criarmos uma conexão bacana). Durante aquele ano, nos aproximamos da forma como podíamos, considerando que eu estava empenhado em trabalhar e passar no vestibular. No fim disso tudo, consegui passar na faculdade e entrei em uma ótima universidade federal – ainda que ela fosse a quase dois mil quilômetros da minha cidade natal –, realizando quase todos os sonhos que eu tinha na vida.

Quase, porque eu ainda não fora capaz de sair do armário.

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