Sugestão de música: Melhor sozinha - Luísa Sonza
Aqui estou eu, terminando essa história às 04:50 de um sábado, enquanto aguardo o voo que pode mudar minha vida. No alto dos meus 24 anos, recebi a oportunidade de terminar o curso de engenharia civil em outro país e, quem sabe, recomeçar.
Durante esses anos, conheci muitas pessoas que foram essenciais para descobrir a pessoa que, hoje, consigo reconhecer com orgulho e até me aceitar com mais serenidade (apesar de ainda surtar por acreditar que vou morrer sozinho, trabalhando como louco, enquanto todos os meus amigos se casarão e terão lindos filhos, vivendo suas próprias vidas de casais).
O maior exemplo disso? Vitória e Rodrigo estão juntos até hoje, se preparando para a vinda dos gêmeos concebidos durante a belíssima lua de mel nas Maldivas, enquanto Eduardo está em uma viagem com o noivo. Rebeca se apaixonou por um astro de cinema durante a faculdade de teatro e Heloísa encontrou o amor durante uma festa. Alice e o marido acabaram de ter o terceiro filho deles, e se encontram nas nuvens com o recém-chegado.
Murilo se tornou um grande viajante e está sempre em algum lugar do mundo – já chegamos a nos esbarrar em momentos aleatórios, com um clima agradável entre nós – e Débora decidiu dar a entrada nos documentos para a adoção de uma criança. Camila e o namorado daquele período também acabaram se casando e hoje compartilham a vida nas redes sociais da forma mais animada possível. Outros, como Kauã e Giulia, eu não faço ideia de onde foram parar, e está tudo certo assim.
Quanto a minha relação com meus familiares? Bem, minha irmã mais velha ainda é meio sem noção em alguns momentos da vida, mas também segue sendo um dos meus maiores refúgios. Meu pai me promete todos os dias que seguirá estando ao meu lado, mesmo que o mundo todo se vire contra nós (e, apesar de não dizer com as palavras, é claro que ele também se refere ao fato de eu ser parte da comunidade LGBTQIAPN+, até porque eu não sou uma pessoa tão ruim assim). Minha mãe ainda é meio distante de mim, mas conversamos de tempos em tempos e ela ainda não veio com perguntas sobre relacionamentos.
Ainda tenho contato com algumas personagens da história, cada uma tem sua própria importância dentro dessa jornada. Algumas sabem de suas contribuições, enquanto outras nem têm ideia de quanto me ajudaram. Lamento por ter magoado algumas pessoas nesse caminho, mesmo essa nunca tendo sido a minha intenção.
Hoje, aguardo sereno por um amor que talvez chegue, ou não, e estou bem com isso. Depois de muitos anos de terapia, fui finalmente capaz de entender que nem todo mundo tem uma tampa de panela (enquanto outros parecem ter duas, injustiça), e que está tudo bem sermos assim. São nossas diferenças que nos tornam especiais. Escolhi ser o amor da minha vida e ir contra todos aqueles clichês de que só somos completos ao lado de outras pessoas.
É claro que não posso deixar de mencionar quão essencial foi ter encontrado pessoas parecidas comigo durante essa jornada. Afinal, se eu não tivesse descoberto um fórum com desconhecidos na internet que buscam se encaixar enquanto assexuais e arromânticos em um mundo sexual e romântico, talvez eu nem estivesse por aqui hoje. Encontrei apoio em um local tão improvável e, ainda assim, tão importante para minha vida atual.
Além de me sentir abraçado por esses anônimos que se tornaram meu grande refúgio, deixei de me incomodar em busca de rótulos fixos (o único rótulo que utilizo é o de "não hetero"). Afinal, eles só servem para tentar simplificar o que eu sinto – mas são inúteis quando nem eu mesmo sei o que sinto –, e não há nada de simples quando se trata de sentimentos. Nossa vida é um constante aprendizado, mas eu consegui fazer com que ela deixasse de ser uma simplória busca por uma segunda metade.
Aprendi a ser completo. Sozinho, ou não.
Assim, me sinto completo quando estou com meus amigos, durante meu trabalho corrido e mesmo em viagens totalmente sem ninguém, como agora. Sei que conhecerei novas pessoas durante o intercâmbio, e talvez até me apaixone por alguém que mexerá comigo de formas que outros jamais fizeram, mas agora me sinto preparado para correr novos riscos.
Sim, eu acho que estou pronto agora.
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Ás de Espadas
General Fiction"Talvez você ainda não saiba quem eu sou, mas poderia me ver como um garoto esquisito que às vezes tem ansiedade em situações corriqueiras da vida, como uma simples fila de vacinação. Não sou a melhor pessoa do mundo contando histórias, mas falar se...