Capítulo #04: Aquele do romance com o bff

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Sugestão de Música: F.R.I.E.N.D.S - Marshmello ft. Anne Marie

Durante aquele tempo, eu estava atolado de estudos por conta do vestibular para engenharia civil que eu prestaria no fim do ano. No início, eu achei que tinha começado a me interessar por Davi, meu melhor amigo desde o sexto ano, quando éramos o único rosto conhecido um do outro no novo colégio. E, sinceramente, ele era o (terceiro) melhor namorado que eu poderia ter. 

Segundo Davi, ele estivera apaixonado por mim há muito tempo, só nunca tivera coragem de me contar a verdade. Quando ouvi isso, todas as crises de ciúmes e seus ataques descontrolados de possessividade comigo fizeram total sentido: era apenas uma paixão reprimida aparecendo.

Nosso relacionamento iniciou com uma brincadeirinha entre melhores amigos, mas acabou se revelando como um namoro em que cada um de nós tentava suprir todas as expectativas alheias de um relacionamento bom e saudável (vale lembrar que nossa amizade nunca tivera nada de bom, muito menos saudável, e hoje sou capaz de perceber isso sem me acabar em lágrimas).

Naquelas (quase) duas semanas de (tentativa de relacionamento), nos tornamos aquilo que sempre quiséramos: um casal fofo que não se desgrudava e sempre fazia declarações bobas (como o dia em que Davi me disse que eu, como fotógrafo, era um ótimo namorado). O problema foi quando ele jogou as cartas na mesa e disse que queria me beijar. Davi achava que eu não o considerava um bom partido para dar meu primeiro beijo – hoje, eu realmente não o vejo dessa forma, mas é porque me encontro apaixonado por outra pessoa –, mas não era esse o problema.

Na realidade, eu sinceramente gostaria de querer tentar beijá-lo, mas eu nunca senti a mínima vontade de fazer isso, então terminei com ele em menos de duas semanas de namoro.

Por alguns meses, minha amizade com Davi passou de "em um relacionamento feliz com o melhor amigo" para "não sei como retomar minha amizade com um cara que agora leva o título de ex". Ainda nos falávamos diariamente, até o dia em que meu melhor amigo se tornou meu melhor amigo bissexual e comprometido (até porque, durante nossa tentativa, ele não se dissera bissexual para mim. Davi era apenas... ele mesmo).

Em um dia, antes do início das aulas do nosso curso pré-vestibular, Davi me puxou de lado e disse que precisávamos conversar sobre algo. Eu podia sentir a tensão dele no ar, quase como se fosse algo palpável.

– Antônio, eu quero falar com você. Pode me acompanhar até o refeitório?

Fomos até as mesas mais afastadas daquele lugar. Eu já estava impaciente pela demora daquele garoto em comentar algo. Era como se ele estivesse me torturando psicologicamente – olha, eu já tinha sintomas de uma mente ansiosa naquele período, não dá para me culpar por pensar o pior – apenas pelo gosto de me observar incomodado.

– Então, Davi, você está aprontando algo? – me ajeitei desconfortavelmente no banco, com um pequeno sorriso de incômodo nos lábios.

– Eu espero que não seja esquisito depois de... tudo – ele juntava e soltava as mãos repetidas vezes, olhando apenas para o tampo da mesa. Pus minhas mãos sobre as dele e coloquei o rosto em seu campo de visão, o obrigando a me ver.

– Cara, só fala. Sou seu amigo acima disso, lembra?

A risada que ele deu em seguida me fez perceber que ele acreditava em minha palavra, então o vi soltar nossas mãos e pegar o celular para me apresentar a alguém.

– Eu sou bissexual. Tudo bem, ficou meio óbvio depois de tentarmos namorar, mas... – ele deu uma pequena pausa para revirar os olhos e encontrar a foto que procurava. – Estou namorando esse garoto. O nome dele é Guilherme e ele é do Ceará.

Dei uma risada aliviada por ser apenas isso que estava acontecendo com meu amigo, e não alguma doença que estivesse acabando com a vida dele (ainda que a paixão possa ser uma enfermidade quando não correspondida da forma como queremos).

Depois, Davi me contou em detalhes sobre como tinha conhecido o garoto (por meio do Tinder, quando os dois estavam em uma viagem em São Paulo. Não chegaram a se ver pessoalmente, mas a conexão que tiveram era bastante clara para mim) e todo o clima estranho das últimas semanas desapareceu em poucos minutos de conversa.

Eu me senti muito feliz por Davi ter encontrado alguém de quem realmente gostava. E por estar se descobrindo, claro. Ao contrário de mim, que seguia com milhares de dúvidas na mente, as quais ainda demorariam anos para serem resolvidas (e, honestamente, talvez nunca estivessem 100% claras para ninguém). 

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