Catarina entendeu que naquele dia ela precisava estar presente no mesmo lugar em que os filhos estivessem, por isso se encaminhou com eles para a fazenda assim que o velório acabou. O dia não foi fácil, quando viu os abutres todos do passado observando seu pai e cochichando ao fundo sobre a família dela, não conseguiu não sair de perto dos filhos. Queria os proteger de todas as maneiras. E permanecia assim, mesmo tarde da noite. Passou no quarto de Júnior e lhe deu um abraço.
— …Eu tô bem mãe, a senhora que não parece estar.
Descobriu que o filho era mais amável do que supunha, sempre preocupado com ela, mais que ela consigo.
— Adoro quando me chama de mãe. Ainda não me acostumei completamente. Mas estou bem.
— Tem certeza? Não por causa do meu avô, mas ainda penso naquele homem que te humilhou, dói em mim, fico imaginando a dor n'ocê.
Júnior era uma pedra preciosa que havia saído de si, era isso que ela havia constatado a respeito do filho, não havia o educado, mas era um orgulho imenso saber que ele jamais seria um homem machista e horrível como a maioria que encontrava por aí. O coração enorme que ele tinha, fazia ela se encantar cada vez mais.
— …Sabe que às vezes penso que sua futura esposa é uma mulher de sorte.
Júnior entortou o rosto numa feição que não entendeu nada, já que o assunto que falavam não tinha a ver com o que a mãe havia dito. Catarina completou:
— …Estou lutando meu filho, dói demais lutar sozinha, mas eu preciso fazer isso. A sociedade não é justa, aquele homem que viu não é o primeiro que conheço e nunca será o último. São pequenas batalhas diárias de uma guerra longe de terminar. Mas eu vou vencer.
Por fim, Júnior concordou com a cabeça e disse boa noite a mãe. Catarina se encaminhou para o quarto de Clara e viu o final da conversa dela com Petruchio.
— …Não fique com ciúmes, o senhor é o melhor pai do mundo, é só que meu avô passou muito tempo de minha vida fazendo o papel de pai, entende?
Petruchio concordou com a cabeça um pouco encabulado e recebeu o abraço e o beijo na bochecha como um final de dia habitual entre ambos.
— Atrapalho? - Catarina adorava ver esses momentos familiares, sabia que ambos precisavam disso, ao mesmo se culpava por ter retardado tanto esse momento entre os dois. - Petruchio eu queria conversar com a Clara… Juro que não é bronca.
Acrescentou antes que a filha ficasse imaginando outra conversa difícil entre as duas. Petruchio deixou ambas sozinhas, não sem antes acrescentar a filha:
— Ocê pode dormir no meu quarto hoje se não tiver se sentindo bem em ficar sozinha.
Clara concordou com a cabeça agradecendo ao pai, Catarina sentou-se na cama com ela, assim que Petruchio saiu, disse:
— Eu sei, nunca fomos melhores amigas, eu sei que ainda me culpa por todo tempo que menti para você e que te mantive na Europa longe de seu pai, eu sei… mas sou sua mãe, quero só saber se está bem. Passou os últimos dias com seu avô, não era uma imagem bonita de se ver, o fim não é fácil de se assistir, mesmo assim continuou ao lado dele, todos os dias, sei que deve estar com vários buracos em seu coração agora.
— Estou sim mãe, dói saber que jamais vou conversar com ele de novo. Mas estou bem na medida do possível. - respondeu. Precisava de um carinho dela, por isso deitou sua cabeça nas pernas da mãe, enquanto Catarina acariciava seus cabelos. - A senhora que não parecia muito bem no velório.
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Segunda chance
FanfictionDepois de quinze anos espera-se que uma mentira tenha se repetido vezes suficientes para se tornar uma verdade. Catarina sempre foi decidida e quando algo entrava em sua cabeça dificilmente mudaria de ideia, mal sabia ela que sua filha puxaria exata...