Capítulo 7

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Catarina olhava a filha à sua frente, parecia tanto consigo, fisicamente e emocionalmente, entendia sua ânsia por saber a verdade do pai, entendia seu desespero quando descobriu seu irmão. Mas queria que ela lhe entendesse também. Entendesse seu jeito errado de esconder a verdade dela.

Às vezes, a verdade não pode ser dita e precisa-se driblá-la, Catarina nunca pôde dizer os reais motivos para fazer o que fez. Foi tudo pensado em seus filhos. Sacrificou sua felicidade e a de Petruchio para a segurança de seus filhos. Esperou que esse ato fosse suficiente e grande o bastante para camuflar o jeito torto que ela caminhou a história. Mas agora, diante de Clara inconsolável pela face da verdade, sabia que não tinha como fugir. Ela teria que vir à tona.

— Dona Catarina, eu precisava mesmo falar com a senhora. Clara fez uma bagunça no seu quarto hoje de manhã, estava com a sua caixa de jóias na mão. - Filomena avisou sua patroa.

Filomena não tinha medo de Clara e seus surtos, tinha receio era da reação de Catarina quando soubesse de tudo o que a filha havia armado. Até então, não sabia o que aconteceria com ela no Brasil. Tinha certeza que Catarina não precisava mais de seus serviços, ser dispensada com a idade que tinha, sem marido e um filho para sustentar não estava em seus planos. Desta forma, ser sincera com a patroa era sua prioridade. Não queria que ela pensasse mal dela. Não queria que a patroa tivesse um motivo para não confiar mais em si e mandá-la embora.

— Por que mexeu em minha caixa de jóias? - Catarina perguntou brava à filha.

Clara bufou nervosa. Não facilitaria para a mãe através de um diálogo tranquilo.

— Ah mãe, você se acha tão esperta e inteligente, não é? Não tem a menor ideia do que fiz em sua caixa de jóias? - ergueu a sobrancelha de triunfo a ela fazendo Catarina ter seu sangue ferver mais ainda de raiva. Clara fizera de propósito, sabia que a mãe detestava as suas sobrancelhas.

— Clara, mesmo sendo mimada e audaciosa, acredito que ladra ainda você não se tornou… além disso. - deu um passo à frente segurando a orelha da filha com força puxando ela para baixo. - Não vou mais ficar parada aceitando sua extrema falta de educação comigo.

Clara fez uma careta de dor se contorcendo para baixo tentando se livrar da mão habilidosa da mãe.

— Diga o que queria na minha caixa de jóias? - Catarina perguntou entre dentes.

— Aí mãe… está me machucando! - ela reclamou sentindo sua orelha ficar cada vez mais quente. Catarina puxou mais forte fazendo a filha fechar os olhos de dor e confessar de uma vez. - Está bem! Procurava sua aliança porque supus que o nome de meu pai estivesse gravado nela!

Filomena deu um tapa no ombro do filho que estava ao seu lado.

— E você ajudando ela Miguel!

— Na verdade foi o Miguel que deu a ideia, foi ideia dele! - Clara apontou para o melhor amigo ainda sentindo a dor de ter sua orelha puxada pela mãe.

— C-Clara! - o jovem exclamou abalado pela traição dela.

— Não se faça de inocente para cima de mim! Sei muito bem que Miguel é seu capacho.

— C-ca-pa-pa-c-c-cho?

— A senhora mesma diz que ser capacho é uma qualidade para os homens… - mesmo com a orelha em chamas, Clara não perdia seu ar presunçoso para cima da mãe.

— Não no seu caso mocinha! - Catarina pensou por alguns segundos como a filha era rápida em conseguir as informações no primeiro dia completo no Brasil. De repente se lembrou dela descobrindo sobre o irmão. - Então foi procurando a caixa de jóias que achou minhas cartas?

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