As linhas que Catarina precisava cruzar em sua vida eram sempre desiguais, ora iam para um caminho, ora para o outro. Na maioria das vezes nunca se cruzavam, mas quando isso acontecia as coisas que já não iam bem, pareciam piorar.
Ela passou três dias entregando currículos e batendo nos mais diversos estabelecimentos comerciais pedindo emprego. Apesar de seu ótimo currículo de cursos e mais cursos na Europa, nada parecia agradar seus contratantes. Todos pareciam conhecê-la antes de se apresentar. Tudo culpa da matéria do jornalista Serafim e sua foto estampada no jornal do último domingo.
— Estou cansada Filó, cansada de receber tantos nãos sem ao menos me darem a chance de tentar.
A amiga e confidente de anos da patroa quase não a reconhecia diante de tanta tristeza que ela carregava por aqueles dias, acabava se sentindo culpada.
— A senhora sempre tão boa comigo dona Catarina, às vezes eu me sinto mal em estar aqui, empregada graças a senhora, numa casa como essa graças a senhora e a vendo sofrer tanto.
— Não se sinta culpada. - Catarina segurou na mão dela tentando fazer ela lhe entender. - Jamais se culpe por erros dessa sociedade machista em que vivemos. A culpa não é sua.
— Mas a senhora não precisa se ver obrigada a ficar nessa casa por minha causa, pode ir morar na fazenda dona Catarina. Eu e Miguel nos mudamos para uma pensão.
— Eu não estou morando aqui para lhe fazer um favor, eu preciso provar a mim mesma que sou capaz de me reerguer nesse mundo sem o apoio de homem nenhum.
Filó entortou o pescoço pensando que a entendia em partes, ao mesmo tempo pensando que ela não precisava sofrer tanto.
No quarto dia de buscas pelo emprego novo a sorte pareceu lhe sorrir. O dono de um hotel luxuoso estava precisando de uma recepcionista que falasse francês. Catarina preenchia todos os requisitos, era solteira, tinha desenvoltura na língua exigida e tinha horário disponível na hora.
— …Ótimo, se a senhorita é solteira está contratada agora! Inclusive já estou precisando dos seus serviços.
Foi com um imenso alívio e grande felicidade que ela começou a trabalhar naquele dia. Parecia que a sorte havia começado a lhe sorrir. Mas o dia seguinte tudo voltou à estaca zero. Petruchio descobriu seu novo emprego e apareceu de repente na recepção com o maior sorriso do mundo, saltitante feito um sapo.
— …O que está fazendo aqui? - ela o repreendeu olhando ao redor para ver se mais pessoas reparavam neles.
— …Mas eu fiquei sabendo que ocê tava trabalhando aqui, Clara me contou que ocê falou pra ela ontem na casa de seu pai quando foi o visitar. E se ocê tá trabalhando… já pode voltar a morar comigo na fazenda.
Catarina olhava desesperada para os lados e tinha plena certeza que a voz de Petruchio era alta demais para uma recepção de hotel tão silenciosa.
— Grande conclusão, mas agora não posso conversar com você! Vá! - começou a o empurrar para fora desesperada.
Mas Petruchio era muito mais forte e pesado que ela, não saiu do lugar.
— Não quer me ver aqui? Tá com vergonha de mim? - ele pela primeira vez reparou na mulher toda elegante, tudo parecia elegante naquele lugar, quase faiscava ouro pelas paredes, ele não se encaixava ali. Não combinava com ela tão fina para um jeca como ele.
— Não é isso… por favor Petruchio, vá embora… depois conversamos… por favor. - ela lhe pedindo por favor e ainda aos sussuros aumentou ainda mais a sua desconfiança de que não queria que ninguém o visse lá.

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Segunda chance
FanfictionDepois de quinze anos espera-se que uma mentira tenha se repetido vezes suficientes para se tornar uma verdade. Catarina sempre foi decidida e quando algo entrava em sua cabeça dificilmente mudaria de ideia, mal sabia ela que sua filha puxaria exata...