Capítulo 6

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Miguel se assustou, nunca tinha presenciado ela chorar daquela maneira, era sempre um choro exagerado, um pouco falso quando queria conseguir algo, nunca um choro em meio a dor, uma dor que ele não entendia e não sabia como lidar. Lembrou de quando eram pequenos e ela machucou o joelho ao cair durante as brincadeiras. Ela chorava sentida diante da dor de um joelho ralado e ele sempre preocupado, ia atrás de pegar todos os remédios, curativos que pudessem aliviar a dor e que a fizesse se curar mais rápido. Mas agora, sua dor era diferente. 

Ele tentou confortá-la colocando sua mão em seu ombro enquanto ela chorava diante da revelação da carta que leu, Clara automaticamente, assim que sentiu o gesto do melhor amigo, deitou sua cabeça no peito dele e enlaçou seus braços em seu pescoço num abraço. Miguel podia sentir o perfume do pescoço de Clara naquela posição, um cheiro doce e forte ao mesmo tempo e ele julgou ser o melhor cheiro do mundo, mesmo que ela tivesse cheia de comida pelo cabelo. 

— V-vai f-fic-car t-t-tudo b-bem. - passou desajeitadamente sua mão pelas costas da garota tentando a confortar. 

— Miguel, você acha que aquele garoto é meu irmão? - perguntou com medo, sua voz estava abafada pois ela se recusava a sair do abraço do amigo. 

— N-n-não s-sei. 

— Pensa por mim, estou tão confusa, me ajude a pensar… eu preciso entender, meu coração está doendo, entende? 

Havia súplica em sua voz e Miguel tentaria a responder do melhor jeito que conseguisse. 

— T-t-tal-v-vez s-sim, e-ele afir-m-m-mou al-g-g-gumas v-v-vezes q-que e-era J-J-Julião P-P-Pet-t-truchio e-e as p-p-pesso-a-as, p-p-principal-m-m-mente h-homens t-tem a t-t-tradi-ç-ção de coloc-c-car s-seu p-p-próp-p-prio n-n-nome no f-f-filho. 

Clara suspirou triste, parou de abraçar Miguel e fungou chateada. 

— Isso significa que minha mãe teve um filho antes de mim? E deixou esse filho com meu pai? Fugiu comigo para outro país? Por que ela faria isso Miguel? Por que? 

Ele sacudiu negativamente a cabeça sem saber o que responder a ela, Clara tinha voltado a deixar que lágrimas caíssem de seus olhos. 

— É como se eu tivesse vivido toda uma vida de mentiras e estar descobrindo as verdades aos poucos. Como minha mãe teve coragem? 

— T-t-tem que c-con-v-versar c-co-m e-la. P-p-pergun-t-t-tar t-t-tudo. 

— Mas se minha mãe mentiu para mim durante quinze anos, não vai ser agora que ela contará a verdade. - ela ponderou um pouco mais calma a ele. 

— T-talvez, m-mas s-se v-v-você f-for sincer-r-ra c-co-m e-la t-talvez e-la s-se-j-ja sincer-r-ra c-co-m v-v-você. 

Clara negou com a cabeça, passou a manga de sua camisa longa em seus olhos e nariz, decidiu parar de mostrar seu lado fraco a Miguel, decidiu parar de se lamentar. 

— Eu entendo seu otimismo, sempre vê o copo meio cheio, mas conhecendo minha mãe como a conheço, sei que ela morre negando, mas não assume se não for algo de seu interesse. 

— N-n-não v-vai per-g-g-gun-t-tar ent-tão? 

— Não, vou esfregar tudo o que sei na cara dela! Vou armar um escândalo. Ela quer manter tudo em segredo não quer? Sempre foge do assunto meu pai, sempre se recusa a falar do passado. Mas agora sei que o que ela esconde é bem maior do que supunha. Então vou armar um escândalo! 

Miguel arregalou os olhos diante da ideia absurda da amiga. 

— S-sua m-mãe v-vai o-d-diar. 

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