Capítulo 24

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Dizem que o tempo cura todas as feridas, que ele apazigua as mágoas e diminui ao ponto de ser insignificante. Para Catarina, enquanto estava presa naquela cama, pacientemente se recuperando, ela só esperava que o tempo fosse generoso com ela. Não só apaziguando as mágoas e curando as feridas, mas se mostrando um futuro, pois ela sabia dentro de seu coração, que se durante quinze anos Petruchio perdurou seu amor a ela, cuidando do filho, não casando-se novamente, não dando outra mãe a Júnior, que o amor de ambos se eternizou no tempo e não se extinguiu. E só o tempo lhe dava esperanças de recuperar sua família para si.

Foi pensando no tempo e na esperança que passou duas semanas se recuperando.

Durante as duas semanas Clara e Júnior continuaram a brigar por clientes na loja da família. Petruchio odiava as brigas dos filhos, ficava perdido em meio a elas, sem saber que partido tomar e se devia tomar algum partido, mas, no caso da briga pelos clientes, até que aquele embate entre eles não era de todo ruim, gostava dos filhos na discussão para o bem de seu bolso, até o dia em que Clara lhe colocou contra a parede:

— Quanto terei de lucro pelas vendas? Porque até onde sei, estou ajudando o senhor e não recebendo nada em troca.

Petruchio arregalou os olhos diante da fala dela, estavam no quarto dele depois do jantar. Clara sabia bem como o encurralar sem que Júnior estivesse ouvindo.

— ...Os produtos são meus, as vacas são minhas e matéria prima é minha. Ocê não ajuda na produção, então o seu lucro é comer e dormir de graça nessa casa.

Clara cruzou os braços brava na frente do corpo.

— Comer de graça, dormir… o senhor é meu pai! Me sustentar é sua obrigação!

— É… mas ocê é bem grandinha para ajudar nas tarefas de casa. Faço vista grossa porque sei bem que Neca esconde comida pr'ocê.

— Minha mãe pelo menos me dava mesada! - bufou nervosa, se jogou na cama frustrada.

— Mesada é coisa de rico… e não sei se ocê percebeu, mas a gente não é rico.

— Já não me surpreende o porquê da minha mãe se separar de você. - era a primeira vez que Clara dizia suas conclusões em voz alta ao pai. Aquelas palavras lhe doeram, mas ele não disse nada. Apenas a expulsou de seu quarto e falou que a partir daquele dia ela dormiria em seu próprio quarto.

Clara não se encontrava naquela casa, não tinha se conectado com ninguém a não ser Neca, que era a única que lhe agradava um pouco. Naquele dia estava tão triste que quando Neca lhe deixou a comida escondida no armário, como sempre fazia, começou a chorar.

No dia seguinte, depois de dormir tremendo e abraçada a galinha no seu novo quarto, apareceu na cozinha e abraçou a Neca e a beijou no rosto.

— Obrigada.

Neca ficou feliz pelo gesto caloroso dela, não estava acostumada a delicadeza da jovem.

— Você é a única que se importa comigo nessa casa. - Clara não se desfazia do abraço e nem queria, era como conseguir respirar.

Já Júnior, nas duas semanas que passaram, mesmo afirmando para Mimosa que não se importava com as cartas da mãe, que não queria as receber, ansiava todas as noites para que a avó postiça lhe entregasse elas. Tinha os trechos preferidos e relia cada palavra de cada carta todas as noites, imaginava a voz e o rosto da mãe lhe dizendo as palavras.

"...Nunca me disseram que seria fácil ficar longe de você meu filho, nunca me disseram que seria tão difícil assim…"

"...Estamos distantes fisicamente, mas sinto que você me conhece e que temos uma conectividade na alma…"

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