Capítulo 4

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Julião Júnior sempre imaginou o dia que reencontraria sua mãe. Em um dos cenários, imaginou ela chegando na fazenda, ela o abraçaria chorando e pediria perdão pelos dias ausentes, responderia que tinha fugido porque precisava se reencontrar, mas que estava de volta e precisava de seu amor. Em outro cenário imaginou ela chegando na casa de seu avô Batista muito doente, literalmente à beira da morte, a depressão sem o filho a fizera chegar naquele estado e mesmo muito chateado com ela, ele a veria em seu leito de morte e ela lhe pediria perdão e quando ele a perdoasse, partiria para sempre. Julião Júnior, sempre imaginou o dia que reencontraria sua mãe, mas nunca pensou que isso aconteceria em segredo.

Neca estava nos fundos organizando os mantimentos da geladeira, tinham poupado uma grande quantidade de dinheiro para comprar uma geladeira para manter frescos alguns queijos, requeijões e iogurtes, não tinham o refrigerador nem na fazenda, mas na loja sim, Júnior havia convencido seu pai que era importante para manter seus produtos com uma durabilidade maior. Desta forma, Neca não estava perto quando sua mãe chegou.

Catarina entrou com passos leves, observou ele passando um pedaço de flanela nos produtos expostos em prateleiras, estava de costas concentrado no que fazia, por isso ela pôde aproveitar para observá-lo. Era mais alto do que ela, mesmo ela estando de salto, usava roupas parecidas com as de Petruchio na época que morava na fazenda, camisas gastas de tanto lavar, calças largas e botas sujas de barro. Reparou em seu cabelo, que mesmo curto, tinha alguns cachos, estava observando sua pele queimada do sol quando ele se virou a encarando.

— Muito bom dia, a senhora quer alguma coisa de nossos produtos? - sorriu ao final da pergunta.

Catarina podia sentir as batidas de seu coração se juntarem numa sinfonia às vibrações de sua voz. A voz de seu filho era única e ao mesmo tempo lembrava demais a de Petruchio, era diferente conhecer o timbre de voz, mas ela pôde perceber, que uma vez que ouvira a voz dele, jamais esqueceria.

— Queria conhecer o que vocês têm para vender. - conseguiu responder, mas sua voz saiu trêmula, como se estivesse fazendo algo proibido, como se falar com ele fosse revelar quem era de verdade.

Julião Júnior começou a mostrar todos seus produtos a ela, passando do queijo que ela conhecia tão bem, para as variedades de laticínios.

Ele sorria com os olhos quando explicava. Tinha de fato um olhar muito parecido com o seu, seus olhos eram grandes bolas castanhas que brilhavam quando estava feliz. Ele lhe mostrava a verdade com seu olhar e Catarina percebeu que era um ótimo comerciante, lhe cortou um pedaço de queijo ela provou voltando automaticamente a fazenda, tinha o gosto do passado e de tempos que ela amou viver e que não esquecia jamais.

Não resistiu quando ele sorriu a ela e pôde perceber alguns fios de uma barba por crescer nascendo no queixo, precisou tocá-lo para sentir nos dedos seu filho. Já tinha o visto, já tinha escutado sua voz, precisava o sentir.

Julião Júnior que até então estava explicando como era fresca a manteiga deles parou de falar com o ato repentino de Catarina e a olhou confuso, mas não tirou as mãos dela de si.

— Você parece muito uma pessoa que amava e que deixei partir… - Catarina explicou uma meia verdade. Ela passou seus dedos por sua bochecha e deslizou delicadamente as pontas de seu indicador em sua sobrancelha. Tinha as sobrancelhas iguaizinhas às de Clara e consequentemente idênticas as de Petruchio. - Desculpe se te assustei.

Ela deu um passo para trás e olhou para o chão, relou suas mãos em seu rosto vendo se o lenço estava no lugar e se os óculos de sol ainda estavam em sua face.

— Tudo bem, sei que é difícil por demais ter alguém que se partiu e se sentir saudade. - Ele confessou. - Deve ser difícil pr'ocê. Era seu filho?

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